Capítulo 06: Logo no primeiro dia, Autry?

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Eu não consegui dormir. E não foi pelo melhor motivo de todos.

Quando cheguei no dormitório, depois de ser atropelado por um monte de meninos que queriam encontrar seus quartos, fiquei um bom tempo encarando o nome flutuando em frente a porta. Autry Travis Gibson, dormitório 334. Meu quarto. Na minha escola. No Instituto Marshall Sétimo. Tremi quando peguei na maçaneta, quando girei-a e quando dei os primeiros passos quarto adentro. Eu não estava acreditando. Era o meu...

E meu sonho foi interrompido por uma barata voando de uma das camas até a mesa de cabeceira.

Se tinha algo que eu não esperava no IM7 era uma barata. Agora, uma daquele tamanho, naquele formato, toda torta e nojenta, aí mesmo que eu não esperava. Rapidamente, tomei a segunda cama, antes que ela também fizesse dela seu território. Fiquei resguardando-a, com as malas em mãos. Eu estava tentando arranjar alguma coisa afiada para me ajudar a enfrentá-la, mas eu não tinha trazido nada assim. Se eu soubesse magia, tudo seria mais fácil.

Por isso, fiquei um tempo acordado. Eu observei cada movimento daquela barata. Se ela se movia para a cadeira, eu me afastava. Se ela saltava de volta para a cabeceira, eu relaxava, voltando ao encosto da cama. Às vezes, parecia até que me entendia, porque eu reclamava de algo em voz alta, sobre não poder aproveitar a minha primeira noite por causa daquele bicho nojento, por exemplo, e ela batia as asas. Ou quando eu tentava tirar algumas malas de cima para ter mais espaço, a barata apontava as anteninhas. Cheguei a pensar que tinha encontrado um nêmesis.

Em algum momento, porém, apesar do meu esforço para me manter acordado, o sono me venceu. Acho que dormi de tanta empolgação, meu corpo não aguentava mais me manter em pé de olhos vidrados. E mesmo que eu estivesse muito preocupado com o bicho no meu quarto, podendo subir em cima de mim a qualquer momento, depois que eu pegava sono, nada conseguiria me acordar, eu sempre dormi feito pedra.

Nada, a não ser uma dúzia de garotos encapuzados invadindo o quarto e conjurando um feitiço de paralisia em mim.

— Rápido, Victor! O moleque tá vidrado.

— Não me apressa — respondeu o menino, se aproximando devagar. Ele se inclinou na minha direção, com as mãos sujas de um pigmento preto. Fez uma marcação na minha testa e nos meus lábios. Quis reagir, mas meu corpo não me obedeceu. Depois, ele se afastou, voltando para o meio do quarto. — Tô conferindo uma coisa, calma — seu olhar percorreu a sala com cuidado. Quando ele finalmente viu a barata, se deu por satisfeito e respondeu o comparsa. — Não. É só ele no quarto. Vamo.

Rapidamente, cobriram minha cabeça com um pano e me arrastaram para longe. 

Eu não conseguia gritar, me debater ou pedir por ajuda, então, só esperei pelo pior. Sim, algo pior do que um feitiço de paralisia antes de um sequestro.

Mas o que eu senti, depois de um bom tempo sendo levado, foi um cheiro de planta e terra molhada muito próximo do meu rosto. Aparentemente, eu tinha sido jogado no chão, sentia o farfalhar de folhas ao redor. De repente, o capuz foi arrancado da minha cabeça. Meus olhos se ajustaram à pouca claridade da noite escura. Minha boca conseguiu se mover, mas só se moveu para baixo, derrubando meu queixo novamente para a cena que eu via. Tinha mais gente comigo, incluindo a menina Isis, que tinha me ajudado com o corte de caco de vidro. Antes de conseguir me surpreender com a coincidência, reparei que tinham mais duas meninas: uma de longos e densos cabelos, pele cor de barro e olhar furioso e a outra de pele roxa, chifres laranja-avermelhados, bochechas fofas com sardas e olhos vermelhos. Eu lembrava dela! Na cerimônia de abertura, a diretora tinha se confundido com seu nome, tinha sido corrigida e eu achei o máximo.

— Boa noite, Cinderelos — o rapaz que estava à frente do grupo falou. Eu lembrei de seu rosto: o mesmo veterano de rosto pipocado de acne que tinha me dado aquele "boa sorte" estranho logo que entrei no Instituto. — Dormiram bem?

IM7: A Aurora dos Mundos PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora