Capítulo 05: E seu legado, Nym?

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O garoto suspeito que chegara por último discutiu com o menino de cabelo seboso antes de sair apressado do salão. Não consegui resistir a ver seu caminho até o lado de fora, desviando das mesas e conferindo os arredores como alguém que claramente está fazendo merda.

— Cê acha que é o quê? — Mag me perguntou quando nos aproximamos da mesa.

— É isso que tô tentando pensar...

Sentei à mesa da família de Mag muito vidrada nas minhas ideias, sem perceber muito do assunto, mas notando que era minha mãe quem falava.

Ela não percebeu meu olhar perdido, caso contrário, passaria os próximos minutos me alertando dos perigos de ficar muito tempo conjecturando situações em vez de me manter no presente. Eu não concordava muito, então, só revirava os olhos — sem que ela visse, é claro.

Sinceramente, preferia pensar em mil possibilidades para estar preparada para tudo do que ser pega desprevenida por algo besta por não ter pensado o bastante.

Sem querer, acabei obedecendo o que minha mãe falava, finalmente prestando atenção à conversa dela com a mãe de Mag.

— Eu espero que ensinem isso bem aqui — dizia, dando mais densidade ao seu cenho. — Porque nossos ancestrais são o legado de toda a magia. Sem querer parecer maior do que os outros, cada encarnação apresentou uma nova forma de mudar o mundo através do equilíbrio das Energias, mas é impossível negar a influência atlante.

— Ah é? Eu não conheço muito — a mãe de Mag respondeu.

Minha mãe viu aquilo como uma oportunidade. Eu vi como um castigo. A partir da deixa, seriam muitos minutos despejando informações.

— Já ouviu falar de Atlântida?

— Já, já, isso já.

— Então, nossos ancestrais são de lá. É de onde a nossa cultura vem. Claro, também de onde veio O Primeiro Mago, Ab'dulsemn. E por isso, a primeira magia.

— Aham.

— Ele descobriu a raiz da magia — ela falou, gesticulando um sinal com os dedos, fazendo-os brotar da madeira da mesa —, como fazê-la de fato. Descobriu que as energias que compõem o mundo, a Clara, da Luz, da Vida e a Escura, da Sombra e da Morte, precisavam ser unidas e balanceadas para criar um efeito sobrenatural — Minha mãe estendeu as mãos para frente. As tatuagens de cada uma das duas mãos se moveram, formando desenhos diferentes dos originais. De um lado, as formas se limparam, sinuosas e fluidas, do outro, as formas apertaram, acentuadas e grosseiras.

— Kev, olha isso aqui! — Karl quase subiu na mesa de empolgação.

— Caralho, moça, maneiro! Cê consegue fazer isso nas minhas tatuagens? — Kev estendeu o braço para ela.

— Kev'n'Ohlyxpsus, nem pensar! — a mãe dele gritou, dando um tapa no braço do garoto. — Pelo amor de Asmodeus!

— Não, não, infelizmente não dá — Minha mãe riu.

— Mas essa sua magia atlante faz o quê?

— Kal, tá sendo mal educado! — a mãe dos garotos quase arrancava os cabelos com as perguntas. 

— Não, tá tudo bem! — minha mãe a tranquilizou. — Ao nos conectar tão a fundo com as energias, nossas capacidades físicas e espirituais fluem em conjunto. O próprio equilíbrio, em princípio, no nosso corpo, entendem? — as tatuagens moveram-se de volta às suas formas originais. Os meninos prestavam mais atenção ao efeito do que à explicação. — E foi com essa habilidade que Ab'dulsemn conseguiu elevar seu espírito e criar o ciclo de Encarnações. Se as energias primordiais e o fluxo do corpo são o mesmo, o que nos impede de expandir a consciência que habita em nós? — Algo na admiração dela apertou uma tripa no meu estômago. — Nosso espírito pode se estender e navegar o mar do infinito. Por um instante, por décadas, ou passar de encarnação para encarnação — ela terminou com um sorriso. — Então, passando pra frente o conhecimento, ele também passou a noção do equilíbrio para frente. É isso que é mais lindo — Vi os olhos dela marejando. — Desculpa, eu fico um pouco emocionada contando essa história.

IM7: A Aurora dos Mundos PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora