Capítulo 2

222 66 62
                                    


Ítalo

O alto escalão da Factory está mais preocupado com meu estado civil do que o rendimento do meu trabalho.

Porra, isso é ridículo!

Aperto a ponte do meu nariz, controlando-me para não soltar os palavrões que estão passando por minha cabeça.

Minha equipe está me encarando, à espera de que eu disserte sobre as estratégias de venda que implementaremos este ano. Entreguei a cada um dos meus seis funcionários a pauta da reunião, com os ponto-chaves que serão abordados hoje. Mas minha cabeça está uma merda; não consigo me concentrar em nada que não seja na conversa que tive com Wenceslau pela manhã.

Gostaria de entender o que passa pela cabeça de um homem que é solteiro aos trinta e cinco anos. Sou homem e realmente não posso compreender como você ainda não constituiu sua família, Ítalo. Eu já estou no meu terceiro casamento, aos quarenta e sete anos!

Caralho, será que o cara não entende que o problema é justamente esse: o primeiro casamento, conduzirá ao segundo, que levará ao terceiro... que resultará numa coleção de divórcios traumáticos para todos os envolvidos!

Vai por mim, eu sei do que estou falando. Nunca fui casado, mas meus pais, somados, tiveram sete casamentos. Minha mãe está no quarto marido; meu pai, na terceira esposa. Tenho meio-irmãos espalhados pelo Brasil inteiro!

— Ítalo?

Uma voz feminina me traz de volta à sala de reuniões. Endireito os ombros ao perceber que Simone, minha secretária, está requisitando minha atenção.

— Me desculpem — peço, sentando-me à cabeceira da mesa comprida. — Por favor, leiam com atenção os tópicos da pauta para que possamos iniciar a reunião. Se surgirem dúvidas durante esse processo, elas serão respondidas conforme eu for explicando cada ponto elencado.

Rosangela, Sálvio, Giovana, Ricardo, Suzana e Meire assentem; Simone inicia a releitura da pauta que elaboramos juntos. Quando abaixo os olhos para também mergulhar na leitura, meu celular vibra no bolso da minha calça.

Cerro as sobrancelhas, contrariado. Esse é um dos raros momentos que não estou com meu iPhone nas mãos, conectado ao mundo exterior. As reuniões de equipe são sagradas e todo meu foco deve estar nas decisões que serão tomadas a partir delas.

Resolvo checar a mensagem que chegou, contudo. Existe uma pessoa no "mundo exterior" que também necessita do meu foco: meu irmão. O cara está enfrentando uma puta barra e notícias ruins, embora não sejam bem-vindas, são esperadas.

Não é o Hélder.

Respiro, experimentando um alívio monstro.

Por que Virgínia Gomes está me mandando uma mensagem, se nos falamos faz menos de vinte minutos, e eu lhe disse que entraria numa reunião?

Gini sabe, de cor e salteado, sobre a "sacralidade" das minhas reuniões. Sou metódico pra cacete, um chato de galocha, segundo a mulher que, apesar de eu considerar minha melhor amiga, tem um prazer sádico de apontar meus defeitos.

Corro os olhos pela mensagem.

Vírginia: Esqueci de perguntar: vestido "gente, sou o centro das atenções" ou "depois do jantar, irei à missa".

Comprimo os lábios a tempo de liberar uma gargalhada em meio ao silêncio que reina na sala. É impressionante o poder dessa mulher para desarmar minha tensão.

Aciono o teclado e digito minha resposta, ciente de que eu deveria dar o exemplo aos meus funcionários, mas estou fazendo o inverso.

Ítalo: Diga pra mim que você não interrompeu a reunião mais importante do ano para me perguntar se vai com seu vestido vermelho decotado ou o bege de gola alta?

Uma vida ao seu lado - COMPLETO ATÉ 03/03Onde histórias criam vida. Descubra agora