𝟎𝟔- 𝐎𝐥𝐢𝐯𝐢𝐚

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Quando acordei, já eram 06:45 da manhã de quarta-feira. Me levantei e quando vi a pequena mancha de sangue em minha parede, lembrei da última noite. A primeira coisa que fiz quando cheguei no banheiro foi reparar no meu rosto, graças a deus a vermelhidão tinha diminuído, e o meu rosto não formou um roxo. O corte ainda era visível, mas como não era tão profundo, podia dizer que me arranhei com minhas unhas, ou inventar que tenho um gato.

Minha vontade era poder ficar em casa durante toda a manhã. Não ter que ir para a escola, e evitar todas as perguntas sobre meu rosto, mas aquilo não era uma opção.

Depois de vestir uma calça jeans e uma blusa listrada branco com preto, tentei limpar a mancha de sangue, quase sem sucesso, mas no fim consegui.

Enquanto saia de casa, para ir até a escola, ouvi passos me seguirem, me fazendo virar e perceber quem estava ali atrás.

- Seu rosto está melhor? -Disse Henry Grant, saindo do quintal de sua casa e correndo até se aproximar de mim.-

- Tá. Com um pouco de maquiagem nem dá para perceber.

Ainda estava confusa, com tudo aquilo, mas sabia que Henry tinha aumentado muito a minha briga com Filip. Talvez se ele não tivesse brigado com Fil, ele não teria vindo tirar satisfação comigo. Meu plano era: Refletir naquela situação, tentar conversar com Filip e me manter longe do Grant.

- Desculpa por ontem. Por ter invadido sua casa. - Apenas assenti com a cabeça.- Você vai ir de a pé?

- É, são só 15 minutos caminhando.

- Vem -Ele jogou um capacete na minha mão e retornou até a calçada de sua casa, subindo na sua moto.-

- Pelo amor de deus, Grant. Você gentil é pior que você irritante. Que tal você esquecer do que viu, e a gente voltar a ser como antes? Ou seja, mínimo de contato possível, pode ser? -Disse jogando seu capacete em suas mãos, como se fosse um "pensa rápido".-

Segui meu caminho sozinha. Pensei que talvez ele fosse negar, ou tentasse insistir, mas logo ele me ultrapassou com sua moto. Ainda bem que ele entendeu o recado.

Chegando finalmente na escola, encontrei Serena, no seu armário, que fica ao lado do meu.

- Vivi! Garota, tava morrendo de saudade. -Ela disse se jogando sobre mim num abraço.-

- Rina, nós literalmente nos vimos ontem.

- Tanto faz. -Ela se desfez do abraço.- Ei, o que rolou com o seu rosto?

- Ah, isso aqui? -Apontei para o meu rosto.- Eu só... Me machuquei. Você me conhece bem, né?

- Como você fez isso? Só você mesmo, viu? - Disse passando seu braço por cima do meu ombro, enquanto caminhávamos pelo corredor.-

- Ei, o que foi aquilo? - Perguntei quando percebi um olhar de Rina para um dos jogadores do time de futebol americano.-

- Ei, cadê seu namorado?

- Ei, você não respondeu minha pergunta.

- Você também me conhece bem. Mas falando sério, cadê o seu namorado?

- A gente só se desentendeu um pouquinho ontem, mas espero que a gente consiga se resolver.

- Ué, mas o que aconteceu? Vocês parecem perfeitos juntos. Se um dia eu namorar quero ser como vocês.

Ah... Não quer não. Sorri, tentando disfarçar o que sentia agora em relação a ele.

- Ele só tava com ciúmes, você sabe.

- Mas ciúmes do que? Ou melhor, de quem?

- Sabe a detenção com o maldito do Henry Grant... Então...

- Passada. Mas não rolou nada... Né?

- Ai, cuida essa boca, Rina. Bem capaz, bem longe de mim. Olha bem pra mim... Agora olha bem pra ele.

- Peraí... Não foi ele que fez isso com você... Foi? -Ela arregalou os olhos, mostrando a sua preocupação enquanto apontava para o machucado.-

Acertou.

- Não! Ele me ama... Eu acho.

- Owinn, sinto muito por vocês. Ele te ama sim. Vai dar tudo certo.

De repente, Filip adentrou no corredor. De olhos baixos. Parecia esconder o rosto. Ele esbarrou em mim, me entregando um papel. Eu teria puxado ele para conversar se não fosse pelo sinal que marcava o início da nossa aula.

Confusa, fui até minha sala, me sentei e prestei mais atenção naquele papel. Era um cartão, um cartão com o nome "Eliza Cooper", e abaixo "Especialista em psicologia pós-trauma" e um número de telefone.

Foi rápido o momento que vi seu rosto no corredor, mesmo com a cabeça baixa, eu sabia que seu olhar mostrava o mesmo sentimento que eu sentia: Decepção. Não sei se estava decepcionado comigo, ou com ele mesmo. Agora a coisa menos importante era o cartão que ele tinha me entregado. Só queria entender ele. Nós.

Quando conheci ele, ele era o melhor garoto que uma menina podia sonhar. Ele era do time de futebol americano na época. Ele era gentil, era bonito, era popular. Éramos perfeitos.

Foi na festa de 15 anos de Serena, que conversei com ele pela primeira vez, estavam todos dançando na pista. Eu voltei para minha mesa para tirar meus saltos e voltando esbarrei nele. Foi amor a primeira vista. Depois daí, a gente foi saindo e se conhecendo, até que no seu penúltimo jogo de futebol, quando ele fez um gol, ele oficializou tudo. Me senti aceita, amada, importante, significativa, pela primeira e única vez.

Não sabia como ele podia me amar, mas sabia que amava. Nós éramos uma dupla. Imbatíveis.

Depois de umas semanas juntos, ele começou a demonstrar ciúmes. Mas eu achava fofo. Era fofo. Eu sabia do problema dele de agressividade. Todo mundo sabia que ele era um cara que brigava. Mas nunca comigo. "Se ele gosta de mim, jamais tocaria em mim desse jeito." Eu pensava.

No último jogo de todo ano, o mais importante, ele acabou caindo no soco com um cara do outro time, depois de perder, fazendo que ele fosse expulso do time. O negócio foi sério. O adversário fraturou um braço e um joelho. Ele gostava de esportes. Fui falar com ele, sabia que estava triste, mal. Queria que ele soubesse que eu era um ombro amigo. O seu ombro amigo. E então, ele me agrediu. Corri aos seu braços na sala de música, quando ele me empurrou. Eu caí por cima do piano, fiquei toda roxa. Na hora que fez isso ele pediu desculpas, explicou tudo, disse que me amava, que nunca mais ia fazer isso. Eu o perdoei. Mas aquilo aconteceu de novo, e de novo, e de novo...

Eu amava ele. Mas ele me machucava. Muitos podem achar uma decisão fácil de se tomar. Mas pra mim não era. E não seria.

Só percebi o tempo que fiquei pensado nisso quando o sinal tocou, levando todos para o corredor de novo. Passei a primeira parte da manhã pensado nisso, até que resolvi que tinha que resolver aquilo logo.

Mensagens on

- Oi. Vamos conversar? No intervalo.
- Biblioteca?
- Sim.

Mensagens off

Eu quero sair disso, só não sei como.

1146 palavras

𝐅𝐢𝐞𝐫𝐲 𝐑𝐢𝐯𝐚𝐥𝐫𝐲 - enemies to loversOnde histórias criam vida. Descubra agora