𝟎𝟒- 𝐎𝐥𝐢𝐯𝐢𝐚

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Continuamos fazendo redação em completo silêncio.

Meu corpo podia estar ali, trabalhando, mas minha cabeça não estava. As palavras de Henry se repetiam em minha cabeça. "Eu vi uma mulher gritando não e um homem a obrigando a fazer algo. Eu teria problemas se não intervisse." Será que aquilo foi tão errado mesmo? Eu amava Filip, com todo o meu coração e mais um pouco. Ele demonstrava seu amor por mim, com seus carinhos, seus "eu te amo", com suas "desculpas", eu acho. Puta merda, que coisa confusa. Eu tentava afastar aquele pensamentos da minha cabeça e só focar no trabalho, mas eles voltavam, cada vez mais fortes.

Até que finalmente, por volta das 18:00h, terminamos o trabalho com 17 páginas.

- Pronto. -Disse quebrando o silêncio enquanto guardava meus pertences de volta na bolsa.- Tudo revisado. Já enviei para a Sr. Daves.

Grant estava sentado, encostado na cabeceira de sua cama, mexendo em seu celular.

-Eu te acompanho. -Disse se levantando.-

Descemos as escadas, retornando ao silêncio mortal. Enquanto abria a porta da minha casa, olhei para o lado e vi que o moreno ainda me observava.

-Espero que fique bem, Hudson.

Estranhei ele sendo gentil, mas apenas assenti com um pequeno sorriso, quase impossível de se ver, e entrei dentro de casa.

Minha mãe se foi quando tinha apenas 1 ano, ela morreu em um acidente de carro. Eu não me lembro de nada dela, mas acredito que teria sido uma boa mãe.
Meu pai é medico neurocirurgião, e por isso, muitas noites faz plantões, e hoje era um desses dias.

Só me lembrei que estaria sozinha em casa essa noite quando percebi que as luzes estavam apagadas. Tranquei a porta atrás de mim e acendi as luzes. Tirei meus sapatos e admirei um pouco o quadro que tínhamos da minha mãe, enfrente a sapateira. Ela se parecia um pouco comigo, e tinha suas mãos na barriga, com um sorriso grande no rosto, um pouco tampado por seus cabelos que voavam ao vento. Meu pai me disse que tirou aquela foto nas primeiras semanas de gravidez.

Subi as escadas e fui até meu quarto, levando um pequeno susto quando vi as luzes acessas. Pensei comigo mesma: Devo ter esquecido as luzes acessas. Segui até meu guarda roupa, tirando meu pijama e uma roupa intima de dentro. Quando me virei para levar as roupas para o banheiro, me deparei com uma silhueta de um homem virado de costas, eu tentei gritar mas o grito ficou preso na garganta.

-Lili. -disse Filip, com um roxo no olho e um corte na testa.-

-Filip, como você entrou aqui? -Falei tentando manter a voz neutra, mas estava assustada.-

-A chave reserva que você esconde na floreira. -Ele fez uma longa pausa, na qual não consegui olhar em seus olhos.- Acho que precisamos conversar.

Ele se sentou na ponta da minha cama e fez sinal para me sentar ali também. Eu deixei as roupas na cômoda que ficava ao lado do guarda-roupa e fui ao seu encontro, me sentando ao seu lado.

-Olha, eu sinto muito por ter forçado aquele beijo. Eu achei que você queria também.

-Eu não queria Fil. -Olhei para ele pela primeira vez em seus olhos, que tinham um olhar arrependido.- Você me ama?

-O que? Claro que sim, Lili. Se não nem estaria aqui, invadindo sua caso pedindo por perdão.

-Então por que age assim? Porque me tortura com seus atos e palavras? -Disse com lágrimas nos olhos.-

-Porque eu gosto de você, e não consigo me controlar, não consigo controlar esse...

-Ciúmes?

-É. Você sabe que perdi meu irmão a 1 ano, to aprendendo a viver sem ele ainda. É óbvio que vou ser meio agressivo às vezes. Se você me ama e eu sei que ama, fica do meu lado e me ajuda a melhorar.

Filip tinha um irmão mais velho, James. Quando começamos a namorar, ele acabará de morrer. Eu sei que para ele aquilo era difícil, o luto é difícil, mas mesmo assim, isso não resolve seus problemas, jogar a culpa na saudade.

-Como vou te ajudar se você sempre me joga pra longe?

-Porra, Olivia. Já me desculpei. O que mais quer que eu fale? -Ele disse se levantando de maneira agressiva, me levantei também e fui até a janela, ficando de costas pra ele, abri o vidro buscando mais ar.-

-Eu não sei... -As lágrimas que prendia começaram a cair.- Não sei se confio em você.

Ouvi um estrondo e me virei rápido. Filip acabará de bater sua testa contra minha parede, e fez isso de novo. E de novo. Corri ao seu encontro, o afastando da parede.

-PARA, FILIP! -O virei para mim, seu corte da testa havia se abrido e estava sangrando.-

O levei até minha cama, fui até a primeira gaveta da minha cômoda, pegando um kit de primeiros socorros e limpando seu machucado.

-Porque fez isso? Queria arrombar sua testa?

-Olivia, eu não suportaria viver sem você. Eu fiz algo ruim sem perceber e você tá aqui cuidando de mim, caralho. Não me deixa.

-Uma vez me falaram que nós éramos um relacionamento tóxico, que você era abusivo comigo, eu disse que não, mas agora não sei mais.

-Que merda, Lili. Você sabe que isso é mentira, te manipularam. Você é tão ingênua assim?- Parou quando percebeu sua agressividade, e retornou um tom abaixo.- Quem te falou isso?

-Não te interessa.

-Foi aquele cara não foi? O maldito do Henry Grant. Não foi?

Fiquei em silêncio por um tempo.

-Não.

-CLARO QUE FOI. -Ele correu até a porta do meu quarto.-

Eu odiava o que ele fazia comigo, mas ainda o amava e me importava com ele. Fui atrás colocando a mão no seu rosto. Quando fiz isso senti uma mão atingir meu rosto, me fazendo desequilibrar e cair no chão. Logo uma latejação começou em meu rosto seguido de uma dor. Mas não gritei, nem chorei, só olhei para Filip. Meu Fil.

-Ai meu deus, Lili. Me desculpa, me desculpa, me desculpa. Eu não fiz por querer. Ai meu deus, me desculpa, eu te amo tanto, Lili.

Ele foi até mim, tirou minha mão de meu rosto e passou a mão nele. Enquanto fazia isso lágrimas desciam por suas bochechas.

-Me desculpa mesmo, eu vou cuidar disso, ok? Onde você colocou o kit?

-Vai embora. -Choraminguei.-

-Lili...

-EU MANDEI IR EMBORA. QUE MERDA. -Ele abaixou seu olhar e foi embora.-

Fiquei ali, por um bom tempo, chorando, reprisando a cena na minha cabeça.
Depois de um tempo, finalmente consegui me levantar. Fui até o espelho que ficava em cima da cômoda, e olhei meu rosto enquanto passava meus dedos na bochecha. Ali tinha se formado uma vermelhidão, acompanhada por um pequeno corte no meio, provavelmente feito pelo nosso anel de namoro. As lágrimas salgadas continuavam descendo pelo meu rosto, enquanto olhava para o anel de comprometimento, que estava em meu dedo anelar. Aquele choro aumentou quando tirei a joia do meu dedo e deixei em cima da cômoda. Fui até minha cama, me deitei em concha, tentando esquecer aquilo tudo, até que escuto batidas em minha janela

1193 palavras

𝐅𝐢𝐞𝐫𝐲 𝐑𝐢𝐯𝐚𝐥𝐫𝐲 - enemies to loversOnde histórias criam vida. Descubra agora