8 meses antes...
Belle
"Boa noite Isabelle, eu te amo!"
A voz de Anthony começou a reverberar na minha mente, eu fiquei paralisada, olhando ele sair pela porta do quarto. Não consegui dizer adeus, não consegui dizer que sentia o mesmo, porque nem sabia se sentia amor, não consegui me mover para abraçá-lo. As palavras tinham atingindo meu peito em cheio.
E o beijo...Era como se nosso lábios fossem pares a muito tempo buscando um ao outro, antigos amantes se encontrando ardentes; como ponteiros de um relógio, que quando se encontram a hora 12 encaixam perfeitamente um sobre o outro. Eu sentia o calor dos lábios dele ainda.
Toquei a boca com as pontas dos dedos, fechei os olhos, ainda estava ali. Quente.
As coisas que ele me disse. "Nunca deixarei de querer você", toda aquela cena passava e repassava na minha cabeça e alimentava as borboletas no meu estômago como formigas com doces.
- Anthony... - sussurrei, agora sentindo lágrimas escorrerem mais uma vez, ajoelhei no chão e inspirei profundamente. Era como se tivessem injetado um droga na minha veia, eu queria mais que aquilo. Era como um imã que emitia fortes forças de tração para algum lugar. E esse lugar estava pegando um avião para Nova Iorque.
—————————————————Anthony
Voltar a realidade era como levar um chute na boca do estômago, a dor é quase insuportável e o hematoma vai estar ali por um tempo me lembrando que me deixei vulnerável para que aquilo acontecesse.
Me deixei vulnerável, o suficiente, pra me apaixonar perdidamente.
Desde o momento que que sai de casa penso naquele beijo, nos lábios quentes colados aos meus e suas mãos acariciando meus cabelos, ela era o encaixe perfeito em mim. Agora penso que poderia ter aproveitado mais aquele momento, cedido mais, aprofundado mais, mas minha cabeça só foi me levando as memórias de Arthur, e como ele estava envolvido a isso tudo bem mais do que eu. Posso até achar o cara um otário, mas Isabelle tinha razão, não justifica uma traição; era isso que ela consideraria.
Olhava a tela do celular a cada minuto. Por que? Eu não sei. Talvez só esperasse uma mensagem dela, uma única frase ou uma palavra. Algo que fizesse meu coração parar de bater tão forte e doer tanto.
- Está tudo bem senhor? - uma das comissárias do avião disse a mim e parou com as mãos se encontrando na altura da barriga, aquela típica postura ensaiada - o senhor gostaria de um lenço?
Eu me perguntava por que ela fazia aquelas perguntas a mim, foi quando senti um gota cair sobre o peito da minha mão, logo senti o gosto salgado através de outra que se direcionou para minha boca, eu estava chorando. Como poderia estar chorando por algo tão simples, eu Anthony Jones, não me abalava facilmente, sempre fui quem manteve as coisas em ordem e com o maior auto controle, agora chorava, como uma criança que teve seu doce arrancado dela.
- Estou bem - respondi secando os olhos - é só... a pressão - disse sem nem pensar muito na resposta. Sem muita escolha a comissária concordou com a cabeça e disse que poderia chamar caso precisasse de algo, eu agradeci.
Por mais que eu quisesse nem ao menos conseguia controla a ansiedade passando como uma corrente elétrica pela minha perna, que balançava involuntariamente. Era uma sensação que eu jamais tivera antes.
- Senhores passageiros, aqui quem fala é o seu capitão, devo lhes informar que começaremos a aterrissagem - a voz cortou meus pensamentos imediatamente, tínhamos chegado enfim - estamos em solo americano, bem-vindos a Nova Iorque!
[...]
A decisão de morar na NYU foi minha, não teria a paciência de ter um apartamento só pra mim, como todos os gastos e limpeza, não teria tempo disso. Optei pelo dormitório da faculdade, não me parecia nem de longe uma má ideia, e seria mais interessante conhecer pessoas nova mais de perto.
Quando entrei no prédio os corredores já estavam bem movimentados, tantos pais se despedindo dos filhos, e filhos comemorando quando os pais partiam. Meu quarto ficava no terceiro andar.
- Quarto 307, terceiro andar, bloco C - foi o que um cara magro me disse quando entreguei o papel de matricula na entrada.
Por sorte eu não tinha trago tantas coisas, apenas uma mala e uma mochila. Pude caminhar pelo campus buscando minha nova residência e estudar os caminhos pra não me perder.
Parei em frente a porta 307, no terceiro andar, bloco C, lá de dentro ouvia uma música alta e uma voz desafinada tentando acompanhar a letra. Eu dividiria quarto com mais dois caras, tinham me avisado. Provavelmente já estavam ali. Virei a maçaneta e abria a porta. Logo de cara, um dos meus colegas estava em pé em cima da cama acompanhando o solo da guitarra junto a música, estava tão concentrado que quase pensei ser ele o guitarrista. Quando seus olhos se abriram e me encontram ele saltou da cama para o chão de uma vez.
- Eai cara - disse jogando os cabelos pra trás - achei que ficaria sozinho até semana que vem no começo das aulas - sorriu estendendo a mão - Christian Vicent Copper II, mas pode me chamar de Chris.
- Anthony Jones - apertei sua mão e sorri - an... primeiro, eu acho.
- Incrível, Jones - repetiu meu sobrenome satisfeito - pode escolher a sua cama, eu optei por pegar essa do canto por que bem... -soltou um risinho - cheguei primeiro, mas as outras duas estão livres.
Segui em direção a cama do canto esquerdo do quarto, colocando a mala e mochila lá. Tirei os sapatos com os pés e arranquei a camisa em um movimento.
- Caramba - Chris começou - vai ser difícil conquistar uma mina com você andando comigo.
Sorri de canto abrindo a mala e começando a desfazer. Chris deitou na cama e pegou o celular. Ele não era de todo um cara alto, um pouco mais baixo que eu, pele branca com umas sardas quase imperceptíveis, olhos claros e um cabelo um tanto rebelde, era bem despojado. Certamente se Vivi estivesse aqui mandaria ele cortar o cabelo.
Chris, 19 anos
- Cara, não sei se você curti, mas hoje a noite vai ter uma festa na GoWolfes, é uma fraternidade aqui da NYU, acho que seria legal ir pra conhecer umas pessoas - ele disse sem tirar os olhos do celular.Não sei se naquele momento eu estaria afim de curtir uma festa, mas o outro lado do meu cérebro me fazia querer ir e distrair totalmente. Então é isso.
- Claro, vamos lá!
- Fechou! - Chris respondeu animado.
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Um romance em Nova York
RomanceAnthony chegou a nova etapa de sua vida, e por mais que seu coração tenha se partido em milhares de pedacinhos após sua despedida do Brasil, ele está disposto a aproveita a fase na universidade e mergulhar de cabeça para viver seu sonho da medicina...