𝐏𝐀𝐑𝐓𝐄 ꗃ ¹﹕um

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— Para o seu rosto.

Olho para o tecido fino.

— Mas o sangue vai manchar o lenço.

Vegas parece achar engraçado.

— Não tem problema.

Limpo meu rosto.

Minha mãe estava deitada no chão quando me encontraram, seus olhos estavam ainda abertos mas o coração parado. Ela estava morta. E agora a escuridão da noite me envolvia completamente. Mantinha os olhos bem abertos apesar de não enxergar nada na janela, e os ouvidos em alerta. O silêncio pairava no ar como uma teia invisível pronta para me prender. Meu pequeno corpo tremia. Meu queixo batia ritmado e com força. Havia um barulho baixo e constante enquanto meus dentes se chocavam. Minhas mãos apertavam com força minhas pequenas pernas dobradas.

Sentia a respiração ofegante e o pulsar frenético de meu coração. Medo. Um medo aterrador. Medo do desconhecido. Meu corpo de quatorze anos, continua tenso no banco do passageiro do sedã preto dirigido em silêncio. Meu rosto está doendo com o corte cobrindo a testa e tem um hematoma na bochecha. O sangue escorre morno pelo pescoço, se misturando ao suor do pânico.

Os pulsos estão em carne viva onde estiveram as algemas. Os batimentos cardíacos retumbam no peito e na minha cabeça. Eu uso toda a força de vontade para não demonstrar nada.

Estou no carro há cinco minutos apenas. O couro tem cheiro de caro. O motorista era o filho do chefe da mamãe, seu nome era: Vegas Vallack. Só isso. É um homem jovem com apenas vinte anos, tendo um rosto comprido e bonito. Ele tinha um cheiro bom. Isso distraia a dor de fome no meu estômago. Seu terno tinha contraste com a pele bronzeada e seu corpo quadrado e robusto era como um receptor.

Pelos últimos cinco anos da minha vida, uma das palavras que mais escutei foi o nome dele: Vegas Vallack Theerapanyakul, o filho do chefe da mamãe. Pela forma como olhava para mim toda vez que eu visitava o trabalho da mamãe, estava claro que me considerava um fedelho. Bem, eu era. Estava no auge dos meus dez anos e, por mais que minha mãe se esforçasse em domar minha juba e me vestir adequadamente, tinha certeza de que ele me enxergava como um patinho feio.

Ainda lembro da mão da mamãe cutucano minhas costas, me fazendo saltar num pulo. Dei dois passos tímidos na direção do filho do chefe e estiquei os pequenos dedos para ele. Não sei o que aconteceu. Mas acho que foi o sorriso dele que me fez ter certeza de que eu nunca me apaixonaria por uma garota. Sempre tive uma queda por ele. Agora eu o amo. E gostaria que Vegas me amasse do mesmo jeito. Mas eu sei que isso nunca acontecerá e não é porque ele não me ama. É porque ele não me ama da maneira que eu gostaria. Ele não quer me amar do jeito que eu o amo. Porque ele compara esse amor com algo doente e errado. Um pecado maligno.

O estômago ronca de um jeito que me deixa envergonhado, mesmo ali, mesmo naquele momento. Eu olho para o meu reflexo no espelho lateral. Pareço malnutrido. Talvez tenha muita comida no lugar para onde estou indo. Ou talvez eu seja a comida. Mas a Casa Theerapanyakul é rica. Certo?

Eu controlo o nervosismo.

— O que quer comigo? — pergunto.

— Ainda não posso contar. — Vegas dirige em silêncio por um tempo; parece compreender que a resposta é insuficiente para uma criança na sua posição. — Talvez eu não possa contar tudo agora — acrescenta com um tom que é quase um pedido de desculpa —, mas nunca vou mentir para você.

Ele me olha profundamente, e eu o analiso. Decidindo acreditar nele.

— Eu vou me machucar?

Vegas olha apenas para a frente.

— Eu não vou deixar nada acontecer com você, — responde. E logo em seguida o carro para e eu vejo ele abrir a porta para sair, depois abre a para eu fazer o mesmo também. — Bem Vindo a Casa dos Vallack's. Coelhinho.

Três anos depois não reduziu o sentimento que tenho guardado por ele, muito pelo contrário, só aumentou em doses altas de obsessão, misturadas com ciúmes e amor.

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