DÉCIMO ATO: SEU INFERNO

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Classificação: (N) para Neutro.

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+ nota: Muito obrigado a todos que me acompanharam nessa pequena jornada! Agradeço todos os comentários, votos e até as pragas que eu bloqueei. Eu valorizo cada um deles!

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"Você é um monstro, Rinnie." A garota na minha frente apontou, seus olhos reverenciando minha visão. "Eu assisti seu jogo. E caramba, como você conseguiu fazer aquilo?" Ela exclamou.

Eu dei a ela um pequeno sorriso. Primeiro, pequenas conversas não eram minha praia. Mas eu não queria ser rude com ela, embora fosse um reflexo normal que eu tinha com todos. Em segundo lugar, os cafés eram um tédio. Eu tive que andar com ela, pois era o lugar mais próximo para conversar. No entanto, eu queria encerrar essa conversa o mais rápido possível. Essa merda não caiu bem para mim.

"Mylla." Eu disse. "Do que se trata?"

Mylla. Neta da minha ex-babá. Percebendo que eu era só um perdedor do caralho quando criança, Nana Martha a trazia todo verão para nossa casa para passar as férias lá. Eu poderia dizer que ela foi o mais próximo que estive de um amigo. Ela parou de vir quando a aposentadoria de Nana Martha se aproximou lentamente, no entanto. Não que eu me importasse. Foi uma coisa normal para mim.

Ela colocou uma caixa branca de sua mochila na mesa. Eu levantei minha sobrancelha para isso. "Sempre impaciente, Rinnie!" Mylla tentou soar jovial, mas sabia que a lacuna durante todos aqueles anos em que nos tornamos mais velhos separadamente pairava pesado no ar. "Nana Martha me disse pra trazer isso pra você."

Eu encarei a caixa, sem fazer qualquer tentativa de agarrá-la. "Como ela está?"

Nana Martha deveria se aposentar antes mesmo que minha mãe sofresse o acidente. Aquele desastre a obrigou a ficar mais dois anos conosco, tentando colar os pedaços quebrados que eram nossa família.

É fodidamente dramático pensar que um mero estranho faria isso. Mas, parabéns para Nana, minha sanidade não desistiu de mim por causa dela.

Mylla engoliu em seco. Foi quando percebi que a desgraça estava prestes a cair sobre mim novamente. "Ela morreu há um mês. Câncer."

Morte. De novo. Eu estava tão acostumado com aquela merda que não me surpreendeu mais. "Você acha que ela viveu bem?" O que diabos eu estava dizendo? Nesse momento, eu tinha certeza de que poderia me formar em Artes Cênicas por ser tão dramático. Eu só não queria dizer 'sinto muito'. Por que, exatamente, as pessoas dizem isso?

A menina sorriu. "Ela viveu. Ela passou seus últimos dias conosco.”

"Isso é bom."

Cada vez que me lembro da morte de uma pessoa, volto à estaca zero. A raiva que tenho das pessoas que tornaram minha mãe miserável aumentou ao máximo. Acho que morreria carregando todo esse fardo.

"Ela... Bem, essa foi a última coisa em que vovó pensou antes de falecer. Ela disse... não importa o que aconteça, essa caixa deve chegar até você."

Depois disso, nós nos separamos. Eu não tinha nada para dizer a ela. E não era como se eu tivesse que conversar. Mylla sabia que eu estava fechado quando se tratava de meus sentimentos. O que eu diria a ela? Eu não queria que ela me ouvisse divagando sobre minha vida patética.

Eu não queria que ninguém sentisse pena de mim.

A caixa não era pesada. Mas parecia que pesava uma tonelada na minha mão enquanto eu caminhava para dentro do carro. Se esse era o desejo de Nana antes de ir para o outro lado, então a merda vai ruir quando eu abrir isso.

𝐒𝐊𝐈𝐍𝐒 - Suna RintarouOnde histórias criam vida. Descubra agora