Alistados No Amor

Capítulo 1

Eu tenho certeza que quando imaginam uma tenente do exército brasileiro a primeira imagem que vem a mente das pessoas é uma mulher fardada, usando cuturno, com um coque impecável e exalando uma força feminina, autoritária e ao mesmo tempo sensual. E é por isso que se as pessoas vissem uma mulher chorando na frente da televisão, porque o casal do seu dorama favorito finalmente ficou junto, elas ficariam um pouco decepcionadas. Mas essa é a minha realidade. Prazer, eu sou a Clarisse, tenho 28 anos, sou médica do exército brasileiro e dorameira com todo o meu coração.
Eu comecei nessa vida igual todos vocês, uma amiga te recomenda uma tal de série coreana famosa da Netflix e fala pra você ver. Despretensiosamente você começa e daí pra frente é só pra trás. Quando você vai ver, já assistiu mais de 15 doramas diferentes, se ilude imaginando viver um romance como aquele e, óbvio, se apaixona por TODOS os protagonistas! E foi assim que a minha história começou!
Primeiro me apaixonei pelo Song, um ator coreano, e vi todos os doramas dele.
Depois, descobri que ele ia dar uma pausa nas gravações porque precisou se alistar para o exército coreano.
Como qualquer ser humano em perfeitas condições mentais, eu surtei e me inscrevi no meio da madrugada para um processo seletivo de um projeto que leva  médicos do exército brasileiro para atuar nas bases militares da Coreia do Sul.
E cá estamos nós, olhando fixamente para um e-mail com a seguinte frase: Parabéns! Você foi selecionada para participar do projeto "Mais Saúde - Do Brasil à Coreia".
E a única coisa que eu consigo pensar é: "Meu Deus, o que que eu vou falar pra minha mãe?"

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Passado o estado de choque pós e-mail e uma ligação bem cheia de gritos com a minha mãe eu finalmente consegui parar pra refletir sobre o que eu fiz.

Quando me inscrevi para esse processo seletivo nunca imaginei que seria selecionada! De todos os pré-requisitos que constavam no edital eu só preenchia 2: sabia falar coreano ✅️ e era dorameira ✅️. Tá, o segundo pré requisito não existia de verdade, mas eu sempre achei que deveria ser considerado um critério de desempate!
Enfim, não fazia sentido eles me selecionarem! Será que existiam tão poucos médicos no exército brasileiro que falavam coreano? Ou será que foi a minha redação bem emocionante, escrita durante a madrugada, no calor do momento depois de descobrir que o Song se alistou, respondendo a pergunta "por que você acha que merece ser selecionada para o nosso projeto?".
A verdade é que eu não faço ideia! Tudo isso foi só uma loucura que eu fiz, porque estava completamente apaixonada pelo ator e precisava agarrar a mínima chance de passar no processo seletivo, sair na mesma base militar dele e vê-lo mais de perto! Mas agora, lúcida, percebo a loucura em que me enfiei por uma pessoa que nem sabe que eu existo, tendo só 3 dias para arrumar a minha mala e me preparar psicologicamente para ir ao outro lado do mundo.

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Na véspera da viagem, depois de fazer e refazer a minha mala dezenas de vezes e questionar todo o meu guarda roupa, me sentei no chão para descansar e resolvi abrir meu notebook para ver se havia alguma nova informação sobre o projeto. Para a minha surpresa, percebi que havia um novo email da organização do projeto na minha caixa de entrada, com o assunto: local de atuação
Naquele momento eu gelei. Porque se eu não saísse na mesma base militar do Song, tudo isso teria sido em vão e eu sabia que as chances de isso acontecer eram gigantescas!
Mas depois de pensar em vários outros pontos positivos sobre trabalhar na Coreia para me consolar (e sim, vários desses pontos eram sobre ver/conhecer os coreanos maravilhosos que eu babo pelo Instagram), respirei fundo, fechei os olhos e abri o e-mail.
Em letras vermelhas, no centro da tela estava escrito:
Local de atuação designado: Base Militar de Yeoncheon