11. Lamaçal

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Deito-me de peito aberto aos céus, despida do medo e do desdém que é a existência de meus anseios.
Prometi ficar enquanto a música permanecesse tocando em harmonia, enquanto meus pulmões explodiam de êxtase, receio e fogo.
Até que então, no meio da roda, os passos tornaram-se lentos, a ponto da dança cessar de vez.
Já não havia harmonia,
A música não podia mais ser ouvida
Mesmo assim, fiquei.
O lamaçal repleto de pegadas e passos arrastados, entregando a batalha silenciosa, macia e suja.
Em todas as partes, vestígios do musical temeroso, agoniante, incerto.
Todas as certezas mais certas do mundo,
Naquele segundo tornaram-se pó, lama e fogo.
Talvez um pouco mais do que isso, mas o corpo já não reconheceria todo o estardalhaço de sua matéria.
Abri os olhos em meio ao caos, recolhendo os ossos e os encaixando um por vez.
Abrindo a boca lentamente enquanto voltava a engolir todos os órgãos vitais pequenos demais para um corpo tão grande.
O coração, aqui não jazia mais.
Talvez tenha se perdido no meio da dança.
Pois naquele momento, já não era tão vital assim.
A pele rasgada, só servira de combustível para a enorme fogueira de rosas em combustão contínua.
Vestindo-me apenas de suas folhas recém cortadas e mortas, com espinhos no lugar dos dentes e pelos de urtiga que não voavam ao vento.
Alinhando os dedos e esticando-me sobre os campos em brasas, voltei a dançar
Dessa vez, sem a maestria de um par.
Girando e queimando,
Trouxe de volta, uma por vez
Minhas companhias de morte.
Convidando-as a dançarem pela última vez.

-Retornem, guerreiras. Não acabamos aqui.

OS CORPOS DE HELENAOnde histórias criam vida. Descubra agora