É estranho, pensar que já fomos estranhos um para o outro. Antes da gente fazer nosso primeiro encontro de olhos, eu lembro daqueles momentos de tensão, eu ficava todas as manhãs sozinho. Sentado bem encolhido no banquinho do pátio do manicômio, eu não tinha amigos, as outras crianças tinham medo de vir até mim por causa da minha aparência. Eu vivia com roxos nos olhos, machucados pelo corpo. As outras crianças tinham medo de serem meus amigos e acabarem fazendo os mesmos tratamentos que os meus, então eu ficava sozinho. Mas a única coisa boa era que eu podia desfrutar daquele breve silêncio que eu tinha enquanto olhava o nascer do sol , era meu único momento de paz e conforto daquele inferno. Era assim todos os dias. Mas um dia essa rotina mudou, quatro garotinhos entraram para o manicômio, o menor deles de olhos grande, foi o que mais me chamou atenção, aqueles olhos de jabuticaba, olhos assustados que curiosamente pousaram sobre mim e foi ali, nosso primeiro contato visual, ele entrou no campo, eu estava longe, sentado no chão, com aquele sol do por sol batendo em mim. Eu não esperava que nada acontecesse, já imaginei que aquele garotinho ficaria longe de mim, mas por algum motivo eu senti um conforto de pelo menos dividir o mesmo espaço que ele, mas então eu ouvi passos na minha direção, quando olhei quem era, meu coração bateu tão rápido como nunca havia batido antes.
Jk- po-poço se-sentar com vo-você?_ aquela voz doce e medrosa dele acabou comigo, sem falar do seu gaguejo fofo
Eu balancei a cabeça em positivo. E então ele se sentiu na minha frente.
Jk- que- quer um p-pãozinho?_ ele me estende aquela mãozinha dele toda ralada, com um pedaço de pão
Jm- obrigado_ peguei o pãozinho dele, mesmo sabendo que iria doer para comer, fazia tantos dias que eu estava sem comer, que chegou a doer quando senti a comida descer pela garganta.
Jk- qua-qual seu no-nome?
Jm- park jimin , qual o seu? _ eu não conseguia para de olhar para os seus olhos brilhando com a luz do sol
Jk- é jeon jungkook _ me encantei com seu nome de primeira, pois me lembrava da minha comida favorita, kokies
Jm- vou te chamar de kokie_ dei uma pequena risada, tapando meu sorriso com a mão_ me diz kokie, por que você gagueja ?
Jk- eu- eu não gaguejo_ ele cruzou seus braços e fiz um bico enorme com os lábios_ é só que, estou apre-aprendendo a fa-falar o sotaque de-dessa ci-cidade
Jm- aah, de qual cidade você é?
Jk- hmm_ olha par os lados
Jm- você não sabe né _ inclino a cabeça para o lado
Jk- co-como que eu- eu-eu vou-vó-vou saber?, eu sou cri-criança_ fica emburrado
Jm- tudo bem, você não é obrigado a saber, irritadinho
Ele parou de fazer birra e me olhou nos olhos, aquilo me fez engolir a seco. Mas aquela tensão se transformou um ataque de risos do meu olhudinho. Eu gargalhei junto com ele, nós dois se inclinamos para frente e caímos de costas no chão, rindo. Jungkook foi minha luz no final do túnel. Foi a primeira vez que eu ri de verdade em toda minha vida naquele inferno. Jeon sempre conseguia alegrar meus dias, minha manhãs de silêncio deixaram de existir, em troca eu recebia a companhia daquela criança encapetada que era o jungkook, sempre me motivando e querendo fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo. Apesar de tudo que eu passei com e sem ele do meu lado, não me arrependo, por que se não fosse isso tudo, eu não estaria vivo para ver uma outra versão dele todos os dias.
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Nunca pensei que jungkook poderia ser um bêbado cantor, como ele está sendo agora nesse karaokê.
