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TRÊS ANOS DEPOIS

07 DE JUNHO DE 2002

“PAI, ESSA ERA minha confissão

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PAI, ESSA ERA minha confissão. Eu continuava de joelhos pela existência de Rhys O'Neil.”

Minha conversa com Deus foi encerrada assim que abri meus olhos, me levantando, abandonando o chão frio da catedral de Liverpool. Ela possuía todas as características das outras igrejas e catedrais que passei pela minha vida. Seus traços góticos me hipnotizaram, e as luzes coloridas do seu vitral fizeram um caleidoscópio por minhas lentes. Aquilo fazia uma crescente vontade de abandonar o desejo de pisar no mundo exterior.

Contudo, eu teria que voltar para Deus de qualquer maneira. Era apenas uma despedida temporária, e talvez somente por minha parte. Ele poderia estar me observando ㅡ o que eu acreditava ser uma perda de tempo ㅡ, pois nos últimos três anos, muitas pessoas haviam desistido de mim. Nosso Senhor deveria ter seguido o mesmo caminho.

Eu não valia seu tempo. Meu pai biológico exaltou cada sílaba com uma disposição que eu jamais havia visto em qualquer discurso seu ou proclamação da palavra em algumas celebrações. Apesar de suas palavras cortantes, no momento, apenas pensei que o fato dele perder o tempo cansando de sua voz comigo, revelava que ainda valia algo. Por mais mínimo que fosse.

Porém, nada importou para mim. Nenhuma palavra ou como ele me deserdou depois de eu ter dito que havia me apaixonado por um garoto, e este ser Rhys O'Neil, o garoto destaque da academia. No começo, meus pais não acreditaram que seu filho era um indizível ㅡ como era chamado os homossexuais no século XIX na Inglaterra, um termo retrógrado que eles não se desfizeram. A primeira manifestação escandalosa veio da minha mãe que chorou, prevendo a fúria do meu pai, que caiu em seguida sobre mim.

Após alguns gritos, tapas na minha cara, meu pai fechou as cortinas de sua peça, dizendo por fim que eu não era digno de ser seu sucessor. Eu não queria ser. Nunca quis.

Saí pela porta da frente sem ter derramado uma lágrima. Meu pai não merecia um resquícios de humanidade vinda da minha parte. Minha mãe, ao contrário, me segurou, chorando copiosamente para que eu me afastasse de Rhys. Ela não conseguia falar direito. Sua mão tremia, contudo, ela teve forças para olhar no meu rosto e pedir o maior dos absurdos. Tentei lhe alertar que era inútil, mas ela insistiu até me dar uma última recordação dela: uma cicatriz no meu pulso.

Sua unha estava grande e seu desespero sobrepôs.

Não a culpei, apenas passei pela porta, marcando meu adeus virando meio corpo para meu pai. Ele segurava minha mãe com delicadeza, encarando-me com os olhos esbugalhados e vermelhos. O ar frio da noite de dezembro penetrou meus pulmões, e decidi dar um último sorriso para o homem que compartilhava meu sangue.

ㅡ Amery Wright, se quiser oficializar a morte de seu filho, faça um funeral e erga uma lápide com meu nome ㅡ gritei, minha garganta protestando em meio ao frio. Foram minhas últimas palavras ao homem, arrancando mais lágrimas da minha mãe, e uma mirada furiosa de Amery.

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