04 | mandão

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— Quantas vezes tenho que te bater para entender que você deve ser perfeita e comportada assim como uma menina da sua idade? — mamãe resmungava, tirando o pano de prato da cadeira e esfregando-o no copo de vidro

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— Quantas vezes tenho que te bater para entender que você deve ser perfeita e comportada assim como uma menina da sua idade? — mamãe resmungava, tirando o pano de prato da cadeira e esfregando-o no copo de vidro.

— desculpa mamãe, não quis trazer problemas, mas eu estava cansada — eu sussurrei, não tendo coragem o suficiente para respondê-la em voz alta.

Senti o gosto metálico do sangue escorrendo pela minha boca e passei os dedos no machucado que ardia no meu lábio. Eu deixei uma lágrima cair, apertando minha saia rendada por debaixo da mesa pela dor excessiva que sentia em meu rosto e principalmente meus lábios que foram cortados.

Voltei para a realidade quando o sinal tocou entre os corredores e Amélia me cutucou para que eu voltasse para o mundo real. Mamãe tem estado nos meus pensamentos todas as vezes em que penso no meu futuro no balé, porque como eu, ela ama isso e quer que eu tenha um futuro digno. Eu também quero mamãe.

Se fosse tudo tão fácil igual ela pensava, se fosse simples chegar nas aulas de balé e acertar cada maldito passo sem antes sentir uma dor enorme na barriga pela fome, ou as tonturas rotineiras a cada movimento que faço. Eu me odiava, e odiava ainda mais eles por me fazer passar por toda essa merda.

Entramos no refeitório e Amélia foi direto para a fila extensa que cobria metade do refeitório. Eu fiz uma careta, não tendo coragem e nem podendo me manter naquela fila, apenas me sentei na mesa onde eu e Amélia sempre comemos e fiquei a esperando enquanto ocupava o tempo observando os alunos populares e as garotas do balé que agiam tão delicadamente que suspeitava que fossem anjos.

Eu odiava não ser igual a elas.

Eu não tinha um corpo igual o delas, meu cabelo não era tão sedoso e brilhante também e meu uniforme não era curto e extravagante que chamaria a atenção de algum menino daqui. Mas não é pelos garotos, até porque poucos realmente me chama atenção, mas sim porque se eu fosse igual elas talvez estaria ainda mais perto do meu sonho de ser bailarina.

Antes que pudesse continuar pensando demais, uma loira sorridente se senta no banco ao outro lado da mesa e me oferece um suco de caixinha que eu rapidamente nego. Ela fez uma careta, não entendendo minha mania de rejeitar qualquer comida que ela me oferecia, tirando o sanduíche diet que comemos hoje de manhã.

— você tem que comer mais.

Eu tenho.
Preciso.
Mas não posso.

— só não estou com fome, e também não sou acostumada a comer de manhã — eu dou de ombros, fingindo não me importar quando na verdade queria comer tudo o que me era oferecido.

Eu comia as comidas que minha mãe entregava, no caso de meio dia e de noite, eram as únicas refeições que fazia. Hoje me liberei para comer o sanduíche, mas normalmente nunca aceito comida fora as que minha mãe manda, porque sei que no final ficarei com a consciência pesada de ter mentido para ela, mesmo ela me fazendo mal.

Blood in your eyesOnde histórias criam vida. Descubra agora