3.Novos Amigos

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Ele sempre foi um bom garoto. Mesmo quando era surrado de um lado pro outro como um boneco. Quase que como por instinto as pessoas sentissem a necessidade de o machucar.


Mas Amadeu nunca pensou em revidar.

Nunca é uma palavra mentirosa.

Ele revidou uma vez.

Doeu muito.

Neles.

E

Para sua mãe.

Que no final teve de arcar com isso.

Deixando o garoto, sentir-se responsável.


As manhãs eram calmas e um tanto quanto pacatas naquele apartamento apertado. Não era sujo, muito menos mal cuidado. Tinha um esmero em tratar aquele pequeno pedaço de casa com todo o carinho possível, era uma das formas que tinham de mostrar o quão significativo era ter onde morar.


Deitado, o menino mantinha os olhos fechados desejando mais alguns segundos antes do som do alerta tocar. Sempre acordava antes mesmo da música começar, então sempre era forçado a andar até o outro lado do quarto — Mais um dia. — , recitou animando a si pra poder prosseguir com a rotina de sempre.


Passou as pernas pra fora da cama pra depois lançar o corpo e se pôr de pé com um único movimento rápido. Tombando pra frente veio caindo, deu duas batidas com a ponta do pé na tentativa de se manter e evitar ir de cara ao chão. Colocou o braço direito para frente, cruzou o esquerdo antes do cotovelo fazendo uma cruz e foi puxando.


Isso o levou a ver o braço. As ataduras soltaram durante a noite, porém ainda cobriam as peles sobressalentes e a decisão infantil de um rato encurralado. Puxando as pontas, foi dobrando por debaixo das que ainda estavam firmes contra a pele mais uma vez as prendendo.


Com um sorriso bobo no rosto foi até a pilha ajeitadinha de roupas dobras uma em cima da outra. Cada uma das minúsculas torres carregavam de seis a dois pares de peças. Eram poucas, e os dois uniformes ficavam separados pra não misturar e ficar mais fácil de lavar posteriormente. Não teve pratica em se posturar, mas pediria pra mãe o ajudar. Queria se tornar o homem que o pai não foi pra ele. Mesmo que levasse algumas broncas por vestir o uniforme da maneira errada, tentaria até acertar.


Era uma ambiente pequeno, uma cama no canto. Uma mesa dura e fria de metal no lado oposto a poucos metros. Era o suficiente pro garoto se deitar no chão pra quando precisasse se exercitar. Sem armário pra guardar suas coisas, metade das roupas ficavam em cima de estantes que o antigo proprietário deixava algumas bonequinhas e livros. Haviam se mudado pra lá já fazia um mês, mas só veio a começar a frequentar a escola a uma semana graças as mudanças de endereço e a demora na comunicação entre as duas instituições de ensino para confirmar a identidade do menino.


Assim que terminou de se bagunçar, digo, arrumar. Tomou o primeiro passo para fora do quarto.


Eram dois quartos, uma sala ligada com a cozinha, e um único banheiro. Comparado com o apartamento anterior, terem um quarto pra cada um era um milagre que veio na hora certa.


Mas antes que pudesse pensar sobre estar grato com essa situação, seus olhos viram a preocupação quando mais uma vez viu a situação de sua mãe.

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