03.

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— Fica à vontade. — Apesar da fala receptiva, Beomgyu notou como Yeonjun não parava quieto desde que passou pela porta. O acompanhando com o olhar até sentar no sofá. — Quer algo pra beber? Uma água, um café? — Suas mãos não paravam de mexer, articulando constantemente.

— Aceito uma água. — Ao olhar a pilha de nervos que Yeonjun estava, Beomgyu sentiu que devia lhe dar um momento para respirar antes de conversarem. Estranhamente, não sentia a boca seca ou a língua semelhante a grãos de areia, mesmo com o coração batendo forte contra o peito.

— Claro. — O ator andou rapidamente para a cozinha pouco após a resposta de Beomgyu.

O sofá era confortável, mas Beomgyu não poderia dizer que estava aproveitando do seu conforto. Seu corpo estava rígido contra o estofado vermelho, olhos perambulando pela decoração sem vida, moderna e minuciosa do apartamento de Yeonjun. Visitou o lugar diversas vezes e ainda sim, nunca se deu o luxo de prestar atenção nos detalhes, mais preocupado com a pontualidade em meio a uma agenda empacotada.

Quando Yeonjun posicionou o copo na mesa entre eles, o silêncio entre os dois beirava o desconfortável. Uma tensão estranha, relembrando Beomgyu da época do ensino médio.

Yeonjun tomou o sofá do lado contrário, se mantendo em silêncio, com as sobrancelhas franzidas e os olhos desfocados. Beomgyu conseguia enxergar as engrenagens girando dentro da sua cabeça.

— Sobre o que você... falou no carro... — Resolveu quebrar o silêncio.

— Não me orgulho nenhum um pouco da forma que me expressei naquele dia, mas... — Yeonjun abriu um sorriso sem graça, coçando a nuca, sem coragem de olhar na direção do manager. — Nada do que eu falei era mentira. — Beomgyu franziu o cenho, tentando assimilar as informações.

— Esse foi o motivo de ter ido embora?

— Sim, mas... não foi só isso. Tem muita coisa que imagino que você não saiba. — Yeonjun suspirou, demorando alguns segundos para responder. Os braços apoiados nos joelhos, encarando fixamente o carpete caro. — Você sabe que seu pai não era uma pessoa muito amigável. — Riu sem humor, Beomgyu quase desejou rir junto, sabendo melhor do que ninguém o quanto. — Ele amava falar por aí que o filho dos Choi corrompeu seu único filho e os rumores começaram a se espalhar. Nenhum cara queria ficar a menos de um metro de distância de mim.

Beomgyu notou os dedos trêmulos de Yeonjun ao pegar o copo de água, dando um gole grande e o largando pela metade na mesinha. A ação fez uma pressão desconfortável surgir em seu peito.

— Meus pais ficaram preocupados e sugeriram a mudança, eles tinham medo que os rumores evoluíssem para violência escolar. Confesso que tinha medo, mas a raiva ultrapassava tudo quando eu te via todo dia passar pelo portão com um ferimento diferente. Quando qualquer toque podia arrancar um gemido de dor. — Os olhos de Beomgyu começaram a arder. A visão embaçando lentamente e a garganta apertando. Como se uma mão invisível lhe sufocasse. — E... eu cheguei ao meu limite quando você quebrou na minha frente. Eu nunca tinha te visto daquele jeito e aquilo me assustou. Comecei... a realmente acreditar que corrompi você, ferrei você. Porque se eu não tivesse me aproximado nada daquilo teria acontecido.

Beomgyu sentiu vontade de negar com todas as suas forças, porém, se segurou. Forçadamente engolindo todas as palavras que queria botar para fora.

— Desde da primeira vez que eu te vi te achei adorável. Os olhos grandes por trás dos óculos e o corte desalinhado, principalmente a franja. — Um sorriso nostálgico e caloroso surgiu no rosto de Yeonjun e Beomgyu sentiu seu coração bater mais rápido.

— Você sabe que minha mãe cortava. — Cobriu o rosto pela vergonha ao relembrar, sentindo um sorriso pequeno surgir.

— Sim, eu sei. — Deu uma gargalhada leve. — Sempre levando aquele mp3 para todo canto. Eu me encantei por você, não queria nada além de amizade e te conhecer melhor. Mas, naquele dia que te maquiei pela primeira vez a ficha caiu. — Beomgyu sentiu sua respiração prender, olhos fixos no olhar saudoso ao falar do passado. — Eu pensei, "Nunca alguém como ele vai olhar pra mim" e engoli, me contentei com o que tinha. Então, o beijo aconteceu e eu me senti tão ambicioso, tão ganancioso. Queria te beijar a todo momento, andar de mãos dadas, ouvir sua voz. — Sem conseguir sustentar o encarar do ator, Beomgyu desviou o olhar, o ardor retornando aos seus olhos.

uma dúzia de bilhetes - beomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora