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Com o ar pesado rodeando a cozinha, Taehyun serviu a mesa. Até mesmo suas habilidades culinárias não foram capazes de descontrair a tensão presente no ambiente, o cômodo tomado pelo tilintar dos talheres após onda de elogios se dissipar.

Beomgyu sentia que sua mente estava em outro lugar, vagando entre pensamentos e distrações para não estar mentalmente presente no jantar. Sons e ruídos abafados como se estivesse no fundo de uma piscina, ignorando a presença indesejada a poucos metros de distância.

Não importava o quanto tentasse fugir, desde a volta de Yeonjun, o passado voltou a lhe perseguir. Determinado a perseguir seus passos e se alimentar de sofrimento.

— Como foi lá no ocidente? É como nos filmes? — Kai perguntou empolgando, atraindo a atenção de Beomgyu para o presente, ouvidos destampando com o rumo da conversa.

— Bem... — Yeonjun carregava timidez e incerteza em suas palavras ao contar a vida no estrangeiro. O olhar vagando para Beomgyu em alguns momentos, analisando suas reações. Hesitante ao relatar certos detalhes e responder as perguntas de Kai.

O manager permanecia carregando uma expressão indescritível. Estranhamento silencioso. Olhos opacos vagando pelo resto de comida presente em seu prato e dedos brancos escondidos pela toalha de mesa. Apertando com brutalidade o tecido de sua calça jeans.

Perceber tudo que Yeonjun havia conquistado ao largar completamente o que tinham criava o sentimento de amargor em seu âmago. O interior apodrecendo com a intensidade da revolta, sendo mastigado pela inveja crescente. Virando uma casca ausente de vigor, tão vazia quanto as íris castanhas naquele momento.

Enquanto Beomgyu atingia o fundo do poço, convivendo com o término e uma família controladora, Yeonjun aproveitava os pontos turísticos e o glamour da indústria hollywoodiana. Enquanto Beomgyu lutava por independência, concluindo o serviço militar e trabalhando sem pausa para alugar um apartamento minúsculo, Yeonjun mergulhava em notas de dólar. Popular por seus papéis.

Beomgyu tentou aguentar pelo bem estar de seus amigos. Ele conseguia enxergar a alegria de reunir o quarteto novamente nos olhos do casal. Diferente dele, o carinho que Kai e Taehyun tinham pelo ator não havia sumido com os anos. Porém, Beomgyu havia chegado ao seu limite.

De forma brusca, arrastou a cadeira para trás, interrompendo a conversa com o barulho estridente da madeira deslizando no piso. A atenção de todos na mesa direcionada a ele.

— Desculpa, não tô me sentindo muito bem, acho que vou embora mais cedo. — Caminhou para trás, se afastando da mesa. — Obrigado pelo jantar, foi bom aproveitar a noite com vocês depois de tanto tempo.

A expressão de Yeonjun, que antes conversava calmamente com Kai, se tornou nebulosa. O rosto de Kai formou uma careta igualmente desapontada, a boca aberta, buscando algo para falar, mas se fechando sem dizer uma palavra.

— Melhoras, Beomgyu. — O tom era cuidadoso e Yeonjun parecia hesitante ao dizer a frase. Beomgyu somente respirou fundo, tentando ignorar a pequena pontada de culpa ao ver o cuidado do outro em lhe abordar.

— Obrigado, Yeonjun-ssi. — se limitou a dizer, tentando segurar a própria língua dentro da boca para não estragar a leveza que ainda existia no local.

— Vou te acompanhar até a porta, hyung. — Taehyun fez questão de dizer, lançando mais um dos seus olhares complacentes como fez durante todo o jantar. A garganta de Beomgyu apertou com o deslizar gentil dos dedos do Kang, agarrando sua mão num ato de consolo antes de se despedirem. O programador não saiu do seu lado até calçar os sapatos e sair pela porta da frente.

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A poucos metros do ponto de ônibus, Beomgyu ouviu passos rápidos e uma respiração ofegante, mas que ainda sim, conseguia reconhecer.

uma dúzia de bilhetes - beomjunOnde histórias criam vida. Descubra agora