Louco por esse garoto (FINALIZADA)

Faz muito, muito tempo

25 anos depois

Lan Huan olhou para a foto granulada do jornal. Aquela que mobilizou cinco detetives particulares e o levou para o outro lado do país. Tudo por causa de uma pequena legenda.

Um orador menos conhecido na Marcha Nacional em Washington pelos Direitos dos Gays e Lésbicas era Wangji. O escritor havia produzido de tudo, desde romances, canções e poemas até artigos acadêmicos e reflexões incisivas sobre o movimento gay, além de ser um ativista pelos últimos 25 anos. Na foto do palco, com seu parceiro Wuxian, eles liam a obra mais popular de Wangji, 'Gencianas Roxas'.

A foto granulada tornava difícil identificar o rosto do escritor. O cabelo comprido e as calças boca de sino dificilmente pareciam algo que Lan Zhan usaria. Mas, novamente, Lan Huan precisou recordar dos últimos 25 anos e que ele não conhecia seu irmão tão bem quanto pensava. Ele ainda se lembrava do sentimento de afundamento quando encontraram o quarto vazio de Lan Zhan.

Lan Huan havia assumido que seu irmão voltaria rastejando em questão de semanas. Ele era um garoto inteligente, perceberia o erro que havia cometido. Semanas se transformaram em meses, meses em anos. A dúvida começou a se instalar. Uma dúvida que se duplicou quando a homossexualidade foi retirada da classificação de doença mental. Depois vieram os tumultos de Stonewall, seguidos por um aumento de ativismo culminando nesta Marcha Nacional.

Ele começou a procurar há quinze anos. Todo detetive particular dizia a mesma coisa, volte quando tiver uma pista. Ele teve dezenas de pistas desde então e contratou o dobro de detetives particulares para rastreá-las. Nada tinha aparecido.

Mas isso parecia diferente.

Havia algo assombrador sobre o nome Wangji e o título do poema. Ele rastreou as obras publicadas do escritor. Cada uma delas era como ver um fantasma. Ele podia ouvir a voz de seu irmão, a maneira como escolhia cuidadosamente as palavras. O humor afiado que a maioria das pessoas ignorava. Isso tornava o amor e a paixão presentes nas obras ainda mais surpreendentes. Isso lançou mais do que dúvidas suficientes. Cresceu até o medo de que realmente nunca tivesse conhecido seu irmão.

Ele guardou a foto granulada de volta no livro, folheando até Gencianas Roxas. Ele passou pelas estrofes, apenas se demorando nas últimas linhas.

Traídos pelos vivos,

Encontramos esperança nos mortos.

Lá tomamos vitórias imaginárias,

Como sua banda em uma corrente ao redor de seu pescoço,

Os botões roxos da vitória em seu jardim,

Gencianas para ambos os meus amores.

"São Francisco!" A voz do motorista do ônibus estalou pelo interfone do ônibus.

Isso tirou Lan Huan de suas lembranças do jardim florescente de sua mãe. Ele ergueu a bolsa sobre o ombro enquanto se movia pelo corredor do ônibus. Isso não seria outro beco sem saída. Ele repetiu a esperança como um mantra, sabendo que ela já o havia decepcionado antes. Desta vez seria diferente.

Só quando ele estava olhando para a casa vitoriana pintada, espremida entre duas similares, que percebeu que estava aterrorizado. Aterrorizado pela reação de seu irmão, por sua rejeição. Lan Huan havia perdido o contato com Lan Zhan, mas Lan Zhan não podia dizer o mesmo. Lan Huan manteve a casa de sua infância, mesmo depois que a loja de música se tornou um negócio nacional. Mesmo quando se mudou para a cidade grande.