O maldito Don Adler

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No fim, mulherzinhas continuou sendo um projeto ainda distante para mim. Porque bastou eu virar "Evelyn Hugo, a jovem loira" para que o Sunset de repente tivesse todo tipo de filmes para mim. Umas comédias bobas, cheias de sentimentalismo.

Eu não me importava, e por duas razões. Primeira: não tinha opção a não ser aceitar, porque não apitava nada dentro dentro do estúdio. Segunda: minha fama estava crescendo. E depressa.

O primeiro filme que me deram para estrelar foi pai e filha. Foi filmado em 1956. Ed Baker interpretou o meu pai viúvo, e nós dois estavamos nos apaixonando ao mesmo tempo. Ele pela secretária, eu pelo aprendiz dele.

Nessa época, Harry insistiu demais para que eu saísse com Brick Thomas.
Brick era um antigo astro mirim e ídolo das matinês que se achava o próprio messias encarnado. Só de chegar perto eu sentia medo de ser arrastada para o poço de egocentrismo que emanava ele.

Uma vez, numa sexta-feira á noite, fui me encontrar com Brick, junto com Harry e Gwendolyn Peters, a alguns quarteirões do Chasen's. Gwen me fez colocar um vestido com meia calça e salto alto. Brick apareceu de jardineira e camiseta, e Gwen arrumou um belo terno para ele. Percorremos no Cadillac Biarritz vermelho e novo em folha do Harry os quinhentos metros até a porta do restaurante.

As pessoas começaram a tirar fotos minhas e do Brick antes mesmo de descermos do carro. Colocaram nós dois numa mesa redonda, bem pertinho um do outro. Eu pedi um coquetel sem álcool.

- quantos anos tem querida? - Brick perguntou

- dezoito - respondi

- então deve ter um pôster meu pendurado na parede do seu quarto, né?

Me segurei com todas as meninas força para não jogar minha bebida na cara dele. Em vez disso abri o sorriso mais falso que conseguia e falei

- como você descobriu? - puta mentira, mas continuei sorrindo e sendo educada coisa que ele não era.

Os fotógrafos continuam tirando fotos nossas ali sentados, fingimos que não vimos, fazendo parecer que estávamos nos divertindo e rindo.

Uma hora depois, encontramos Harry e Gwen de novo e vestimos nossas roupas normais.

Pouco antes de nós despedimos, Brick virou para mim e sorriu e disse:

- amanhã teremos um monte de boatos sobre nós dois - ele comentou.

- com certeza - sorri.

- se quiser fazer virar verdade, é só me avisar. - ele falou como se fosse o próprio
Gregory Peck e ele tava bem londe disso.

Eu poderia ficar quieta. Ou só dado um sorrisinho educado. Mas não em vez disso falei:

- melhor espera sentado.

Brick olhou bem para mim, deu risada e se despediu com um acena, como se não tivesse acabado de levar um tremendo corte.

- dá para acreditar nesse cara? - falei indignada. Harry já tinha aberto a porta e estava esperando que eu entrasse no carro.

- esse cara rende uma nota preta para nós - ele disse enquanto eu né acomodava.

Ele assumiu o lugar do motorista, ligou o motor, mas invés de sair com o carro ele virou para trás e disse:

- não estou falando para você se derreter toda por esses atores de quem não gosta - ele explicava - mas seria bom se gostasse de um deles, se a coisa fosse além de uma ou outra foto. O estúdio ia ficar satisfeito. Os fãs também. - ele explicava educadamente.

Ingenuamente, pensei que já não precisava fingir que queria atenção de todo e qualquer homem que cruzasse o meu caminho. E sendo sincera eu nem precisava.

- certo - respondi - vou tentar. -

Apesar de saber que seria bom para a minha carreira, só conseguia forças alguns sorrisos quando sai com Peter e Bobby.

Mas aí Harry marcou um encontro para mim com Don Adler, o que me fez esquecer por que tinha ficado tão incomodada com a essa ideia, para começo de conversa.

Os sete maridos de Evelyn Hugo e o seu único amor- adaptação do livro original Onde histórias criam vida. Descubra agora