Poças se espalhavam por todo o terreno à vista, o que deixou Spider no mínimo curioso. Era realmente um lugar diferente. Ele encarou a poça, observando a água borbulhar num tom avermelhado. Tudo ali lhe apontava perigo. Sentir o calor em seu rosto só o fez ter mais certeza disso.
-Tá legal, vocês tem um terreno de banheiras - ele comentou, olhando para cima - eu não vou me escaldar aqui não.
-Engraçado, eu pensei a mesma coisa que você quando vi as fontes pela primeira vez - Miles riu abertamente - mas não se preocupe, a temperatura é suportável.
-Suportável pra você com seu corpo reforçado de fibra de carbono - Spider comentou, contrariando o argumento.
-Ah não foi assim - seu pai explicou - tá vendo as plantas ao redor? Elas tem seiva, eu precisei passar antes de entrar.
-Isso me parece duvidoso no meu caso - o garoto cruzou os braços - mas dá pra entender o apelo, um banho quentinho é tentador, mas vocês não sentem calor o tempo todo?
-Tem razão que aqui é bem abafado, mas há lugares mais frescos - seu pai assegurou - tem um rio depois dos vulcões e uma Árvore das Almas.
-Você já foi até lá? - seu filho tinha suas dúvidas.
-É claro que sim, não estaria falando deles se não os conhecesse - Miles explicou, achando que fosse óbvio.
-Então você se conectou à Árvore? - Spider arriscou a pergunta.
-Sim, e foi... esclarecedor, pra dizer o mínimo - ele confessou - eu tive até visões e... a própria Eywa veio até mim de alguma forma.
-Agora você acredita na Grande Mãe? - era a declaração que mais surpreendeu o menino até então.
-Ela é real - seu pai olhou de forma significativa para ele, tocando seu ombro - e eu acho você mais afortunado do que eu por acreditar nela sem precisar de conexão.
-Não quer dizer que eu não quisesse me conectar - confessou o menino.
Para aquilo, Miles não tinha uma resposta satisfatória. Sabia que o filho era um na'vi em espírito, mas um humano no corpo. Talvez essas limitações o frustrassem mais do que ele esperava. Ele deixou que o silêncio pairasse entre eles por um instante.
-Quer ir aos vulcões ou prefere voltar pra casa? - Miles ofereceu.
-Voltar - o menino assentiu - de qualquer forma, valeu pelo tour, já consigo andar por aqui sozinho.
-Muito bem, pode explorar quando quiser, sozinho, ou com companhia - seu pai o instruiu - só tome cuidado.
-Sempre - ele sorriu, voltando ao jeito debochado de sempre.
Assim, eles tonmaram o caminho de volta para casa. Varang, que tinha acordado um pouco antes de sua volta, esperava ansiosamente por eles, em frente a cabana.
Ela jogou os braços em torno do pescoço do marido sem cerimônia, beijando-o abertamente. Spider quis virar o rosto, achando o ato nojento, mas parte dele estava começando a achar que era bom ter pais que se amavam tanto.
-Eu achei que devia estar descansando - Miles cobrou dela.
-Deitar por muito tempo me deixou mais dolorida - ela atestou - precisava me levantar um pouco, o que foi que fizeram nesse tempo?
-Meu pai me apresentou sua vila e contou sobre os lugares sagrados - respondeu o menino.
-Ah, isso é ótimo - Varang aprovou a ação - mas agora entrem, aproveitem um tempo aqui comigo.
Seu marido e Spider obedeceram, e tudo ficou calmo por um momento, até Varang ter uma ideia. Era só olhar para ela que Miles podia deduzir o que tinha em mente.
-Eu gostaria de ajeitar o seu cabelo - ela foi direta com o enteado - se não se importar, é claro.
-Ela adora fazer isso - explicou Miles - e vai por mim, é bem relaxante.
-Não tem nada de errado com o meu cabelo, tem? - Spider ficou desconfiado, de repente.
-Claro que não, meu menino - Varang foi gentil com ele - é só que eu queria deixá-lo mais ao modo do clã das cinzas.
-Eu entendo - o menino suspirou, com cautela - mas eu... não sei se quero isso.
-Está tudo bem, não o forçarei a fazer algo que não queira - ela resolveu, não querendo incomodá-lo.
Contudo, Spider percebeu que seria mais sábio não contrariar a olo'eyktan do clã das cinzas. Acabou se lembrando de quando Kiri mexia no seu cabelo, o que o deixou melancólico de repente. Ele respirou fundo outra vez, antes de falar com Varang.
-Você pode desfazer uma trança e arrumá-la como quiser - ele sugeriu com cuidado - vou dar uma olhada pra ver se eu gosto.
-Está bem, é um começo promissor - sua madrasta sorriu contente.
Mais que depressa, ela se sentou atrás de Spider, os dedos finos e delicados trabalhando com cuidado. Enquanto estavam tão próximos, Spider podia perceber o bebê se mexendo.
-Eu acho que sua irmã pode vir a qualquer momento - Varang comentou, sem parar o trabalho - ela está com vontade de sair e ver o mundo de uma vez.
Spider apenas sorriu, começando a pensar em como seria ser um irmão mais velho, justo ele, que tinha Lo'ak como um amigo irmão, mas sabendo que não seria a mesma coisa.
Varang então terminou o trabalho, seu enteado inspecionou com cuidado, tocando a trança. Era um pouco mais fina do que ele costumava usar, mas ele a achou adequada. Era a prova física do toque especial de uma mãe.
Spider achava a palavra ousada demais, não tentaria pronunciá-la, ao menos, não tão cedo. Por ora, aceitou ter o cabelo mudado, apenas.
-Pode terminar - ele pediu.
Varang então voltou a arrumar o cabelo dele outra vez, contente pelo que estava fazendo.
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Filho do Destino
FanfictionQuando Spider aparece desgarrado na ilha do Clã das Cinzas, ele, Quaritch e Varang descobrem que o destino entrelaçou suas vidas para sempre.