Capítulo 16

25 5 0
                                    

Mawey seguia os passos da mãe em silêncio, deixando ser guiada até um lugar do qual ela tinha ouvido falar, mas nunca tinha pisado antes. Agora, um pouco mais velha, mesmo ainda sendo uma criança podia compreender melhor os costumes e a conexão com Eywa.

Ela entraram a caverna e observaram a bioluminescência dos ramos à sua volta, Mawey suspirou alto, completamente admirada.

-Essa é a casa de Eywa? - questionou a garotinha, segurando um pouco mais forte a mão da mãe.

-É algo assim, onde ela pode se manifestar em nosso meio - explicou Varang - nós a vemos mais claramente aqui, por tsaheylu.

-Entendi, eu quero que ela fale comigo - pediu Mawey.

-Vou te mostrar como fazer isso - avisou a mãe.

Varang então se ajoelhou lentamente, sua barriga gestante já fazendo um certo peso em seu corpo. Mawey fez o mesmo, as duas separaram seu cordão neural e o conectaram à Árvore das Almas, tendo visões um tanto parecidas.

Viram o nascimento de uma criança forte e saudável, segurada acima da cabeça por Miles, reverenciada pelo Povo das Cinzas, um menino. Miles escolheu seu nome, mas nem Varang, nem Mawey, conseguiram saber. A seguir, a garotinha se viu, maior e mais velha, como uma guerreira completa, ao lado dos dois irmãos, pronta para o combate. A visão assustou Mawey e, por isso, sendo gentil, Eywa trocou o cenário por algo mais pacífico, Mawey sentada em sua cabana, com olhos fechados, concentrada em ouvir o ambiente ao seu redor.

As duas abriram os olhos lentamente, desfazendo a conexão e se acalmando aos poucos.

-O que eu vi, vai acontecer? - quis saber Mawey, um tanto alarmada.

-Provavelmente, minha querida - Varang instruiu a filha - tudo o que eu vi que Eywa me mostrou, aconteceu, você viu algo ruim, não tema em me contar.

-Eu vi o meu irmão, meus irmãos, o seu bebê, mamãe, é um menino - ela explicou, tentando separar as ideias.

-Eu sei disso, foi o que vi também - Varang tocou o ventre, se lembrando do menino - só não sei seu nome, mas o que assustou você foi se ver como guerreira?

-Como você sabe disso? - a menina ficou ainda mais espantada.

-Eu acredito que Eywa nos mostrou exatamente a mesma coisa, isso é importante e especial - disse Varang com sabedoria - quer dizer que somos as guardiãs do futuro da nossa família.

-Se isso que vimos vai acontecer no futuro, quer dizer que vai acontecer uma guerra, mamãe? - a possibilidade preocupou Mawey.

-É certo que sim, porém cada na'vi, ainda mais alguém do povo das cinzas, deve estar preparado para o conflito - sua mãe comentou - ele pode surgir a qualquer momento, fora do nosso controle. Mas não precisa temer, nós a protegeremos, e antes que a guerra venha, você estará preparada para ela.

-Eu espero que seja assim - desejou Mawey.

-Independente do que aconteça, minha filha, você trará calma e paz e você se sentirá calma e em paz, acredito nisso - as palavras de Varang trouxeram alívio e esperança uma para a outra.

Assim, elas voltaram para casa, encontrando apenas Spider atipicamente quieto e pensativo. Havia uma faca, justo a dele, e um galho um pouco afiado, como se ele tivesse desistido da tarefa antes de terminá-la.

-Eu vejo você, meu filho - Varang fez questão de cumprimentá-lo.

-Eu vejo você, mãe - ele esboçou alguma reação alegre ao vê-las - eu vejo você, Mawey.

-Olá, Spider - sua irmã o abraçou, o que foi um gesto bem vindo.

-Oi, como você tá? - ele quis saber, conhecendo bem o lugar de onde elas tinham vindo.

-Um pouco assustada, mas mais calma agora - ela explicou.

-Onde está seu pai, ma'Spider? - a líder perguntou, sentindo a falta do marido.

-Está com Rayfu, treinando os guerreiros - respondeu prontamente o rapaz.

-E por que você não está com ele? - Varang estranhou o fato de o filho estar sozinho.

-Eu preferi voltar para casa - ele contou, esperando que fosse resposta suficiente.

-Entendo - a mulher decidiu não insistir no assunto - ma'Mawey? Poderia colher os ramos próximos à cabana de Fayrti? Eu tenho algumas ideias de presente para o seu irmão.

-Está bem, mamãe - a menina obedeceu, deixando-os sozinhos.

Varang se sentou com cuidado em frente ao tear, começando a se preparar para o trabalho de tecer, enquanto Spider continuava calado e pensativo.

-Vai me contar o que aconteceu? - a mãe tentou arrancar algo a mais dele.

-Não houve nada demais - ele disse prontamente, como se tivesse ensaiado a resposta.

-Sabe que não acredito, não é? - ela cruzou os braços, nada convencida.

Por um momento, ela decidiu deixar o tear, se aproximando do filho.

-Spider - Varang o chamou docemente, tocando seu rosto - o que é?

Ele apenas balançou a cabeça, se recusando a responder. Sua mãe resolveu usar uma tática mais persuasiva. Tamborilou os dedos nas axilas, fazendo cócegas que provocaram risos no rapaz.

-Tudo bem, mãe, pode parar, eu te conto - ele disse entre risos.

-Então me fale o que é - Varang propôs, de modo que ele não escapasse.

-Eu fui obrigado a treinar com Guaitani hoje - confessou Spider - eu fui sim com meu pai até o treino, mas ela pediu para treinar comigo e sentindo certa pressão da parte do meu pai, não consegui dizer não. Usei todas as táticas que aprendi, mas ainda assim, ela me venceu.

-Está incomodado com ela por ter perdido a disputa? - questionou Varang, embora esperasse que esse não fosse o motivo.

-Não, não foi isso - ele suspirou antes de prosseguir - ela ficou muito perto do meu rosto e eu... senti algo... eu não sei o que foi aquilo, mas eu sei muito bem o que ela pretende se aproximando de mim.

-Ela gosta de você, está mais que claro - explicou Varang, pacientemente - só resta saber o que você fará quanto a isso.

-Fazer? Eu tenho mesmo que fazer alguma coisa? - Spider se virou, olhando diretamente para ela - é esperado que eu me relacione com alguém, por ser filho da olo'eyktan? Mãe, eu sei que sou um de vocês, mas eu ainda sou um humano, eu não poderia me relacionar com uma garota da tribo.

-Isso não foi impedimento para mim e seu pai - ela contrapôs - seu corpo pode ser humano, mas seu espírito é na'vi. Se gostar igualmente de Guaitani, tem meu consentimento para ficar com ela.

-Pode ser o que você acha, mãe, mas outros podem pensar diferente - Spider compartilhou sua opinião, decidindo o que fazer - não se preocupe, apenas me dê tempo para entender o que estou sentindo.

-Como quiser, meu filho, como quiser - Varang cedeu a ele, olhando-o com orgulho, tocando seu braço afetuosamente.

A questão estava encerrada por hora, mas poderia retornar em momento oportuno.

Filho do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora