Capítulo 9

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Mesmo esperando pela disposição física de Varang, Spider estava ansioso para treinar atirar usando seu novo arco. Assim, Miles o acompanhou para mais uma caminhada em outra parte da ilha, explorando o lugar mais um pouco.

Spider viu que era um lugar que ele não conhecia tão bem, portanto, foi prestando atenção no caminho para guardar na memória.

-Muito bem - seu pai disse quando pararam, preparando o próprio arco - vamos começar.

Spider pegou o arco, sentindo o peso do objeto em suas mãos, puxando o cordão para trás com cuidado. Ele então observou como Miles fazia, segurando com a mão direita, e preparando a mão esquerda, as costas das mãos viradas em direção ao rosto. O garoto mirou a flecha na árvore mais próxima, atingindo exatamente em seu alvo.

-Uau! - seu pai exclamou, num elogio, surpreso.

-Pois é, eu não queria dispensar as aulas de Varang, mas eu sei atirar - ele aproveitou o momento para se gabar, chegando a pôr uma das mãos na cintura, orgulhoso.

-É, parando pra pensar, eu lembro de você armado quando... eu te reencontrei - Miles engoliu em seco, um tanto envergonhado.

-Ei, quer apostar quem consegue acertar a árvore mais longe? - Spider tentou elevar os ânimos novamente - uma competiçãozinha não vai fazer mal, não é? Além disso, acho que isso meio que tá  na família.

-O que quer dizer com isso? - o adulto estreitou os olhos para o mais jovem, intrigado.

-A Varang adora uma competição, não é? - Spider ergueu os braços, como se fosse óbvio.

-Ah sim, ela adora esquemas, me deixar confuso de propósito - ele suspirou, mas seu olhar entregou que era apaixonado pela esposa - Varang é cheia de truques.

-Bom, se serve de conforto, eu não vou propôr truques - prometeu o garoto - só uma competição amigável entre pai e filho.

-Certo, eu aceito - Miles disse com firmeza, mas abaixou a cabeça, sentindo a emoção de ser chamado de pai por ele.

-Pronto? - Spider respondeu, preparando seu próprio arco, incentivando Miles a fazer o mesmo.

-Pronto - Miles respondeu, olhando por cima do arco, para o filho.

Eles dispararam a flecha quase ao mesmo tempo, a de Spider se fincou mais baixo na árvore. A de Miles foi mais longe, parando num lugar mais alto. 

-Nada mal - seu pai alisou o queixo, analisando as habilidades dele.

-Você também - o garoto riu - mas não quer dizer que você não tenha tido uma leve vantagem sobre mim, justamente porque é mais alto.

-Eu sei que você nunca vai atingir três metros de altura, mas ainda assim, as suas habilidades te compensam - o pai explicou depois de rir - mas você vai crescer muito mais, pra padrões humanos.

-Estou contando com isso - concordou o garoto, contente com a ideia.

-Que tal nós complicarmos um pouco mais pra você agora? - sugeriu o pai, quase com o mesmo sorriso travesso parecido com o de Varang.

-Ah eu sabia que estava fácil demais pra mim - Spider riu também, mas tremeu um pouco na base.

-Calma, só vamos caçar um pouco - Miles esclareceu - sua pontaria vai te ajudar, a única dificuldade agora vai ser acertar um alvo em movimento. Venha, vamos subir até os Vulcões.

Spider achou a proposta perigosa, mas seu senso de aventura e a vontade de começar a confiar no pai o fizeram segui-lo pelas montanhas acesas a fora. O homem sabia exatamente onde caminhar e evitar ser queimado, mas ainda assim, o clima em volta era cheio de fumaça e fuligem, e podia se sentir o calor iminente entre eles.

De repente, Miles se abaixou, incentivando Spider a fazer o mesmo. O garoto logo avistou os tais pássaros de fogo, eram menores que um ikran, da metade deles, mas com uma bocarra perigosa e cores quentes magníficas.

-São comida - o pai dele explicou num sussurro.

-Gostei do gosto deles - o garoto respondeu no mesmo tom, quase inaudível.

Pensando muito parecido, os dois puxaram o arco, mirando na caça. Um tempo depois, eles tinham caçado quatro, era o suficiente para um jantar farto. Ajeitando o equipamento e os animais nas costas, eles rumaram para casa, a passos um tanto mais lentos.

Vendo Spider tão imerso naquela cultura que ele mesmo demorou tanto tempo para se adaptar e tão à vontade naquele ambiente, Miles não pôde deixar de imaginar como seria se Paz pudesse vê-lo e quem ele se tornou.

-Sua mãe teria orgulho de você - ele disse, deixando a emoção exalar dele e ficar clara ao filho.

-Puxa, eu... - Spider também foi pego de jeito pela emoção - eu espero, de algum jeito, mesmo... você sabe.

Miles suspirou, sabendo o que estava se passando na cabeça do garoto. Só não sabia se era o momento ideal para tocar no assunto delicadíssimo.

-Não precisa falar agora, se não quiser - ele deixou claro - ou se quiser, pode também, estou aqui para o que der e vier.

-Tá bom - Spider deu de ombros - eu não sei se a minha mãe ia  gostar de um Tarzan como filho, sendo que ela ajudou a matar os na'vi na guerra.

-Ela estava cumprindo ordens e se defendendo - seu pai contou delicadamente - é claro, não havia prazer em nós em matar, talvez em mim, no meu velho eu, mas não na Paz, ela era a criatura mais pura que eu tinha conhecido até então, ela era bem durona, mas... eu me sentia nas nuvens com ela, ela foi um refúgio pra mim, no meio dessa selva toda.

-Certo, eu... - o menino suspirou também - fico feliz de saber que... vocês se amaram.

-É, ela não foi mais um caso, eu te garanto - Miles assentiu - e você é um guerreiro, um sobrevivente como ela, ficaria feliz de ver o que você é, mesmo sendo um garoto Tarzan.

-Acha que ela ficaria comigo, se pudesse, se ela não... você sabe... ? - o garoto teve que perguntar.

-Ela te amava mais que tudo - Miles olhou diretamente para ele - muito do que ela fez nos últimos momentos foi pra sobreviver e ter a chance de cuidar de você, protegê-los dos na'vi que não aceitariam um humano no meio deles.

-Mas as coisas mudaram, eu sou do clã das cinzas - ele disse com orgulho.

-Acredito, meu garoto, que Eywa nos escolheu pra ser a ponte entre os dois mundos, de um jeito diferente do Sully - Miles disse com sabedoria.

As palavras e a conversa no geral foram tão profundas que um pouco de silêncio se fez necessário para que eles compreendessem tudo que tinham falado e compartilhado.


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