Há dias que eu simplesmente deixo tudo que deveria estar fazendo para simplesmente sentar próxima a janela.
Não posso deixar de pensar em quanto me sinto culpada por momentos assim, em que a ansiedade é como uma sombra que tenta sempre me lembrar de ser produtiva. Momentos de introspecção? Besteira. Você tem que ser útil pra humanidade!
Também não consigo apagar da mente a imagem mental de ser por alguns instantes uma personagem de Hayao Miyazaki em algum dos seus filmes, onde sempre há uma cena onde não há nada além do silêncio. Não existe diálogo nessas cenas. É apenas o personagem e o mundo ao redor dele, sendo apenas vivo. Seguindo seu fluxo tal qual a correnteza de um rio.
Assim como uma personagem desse cineasta, eu me sento e observo o que está ao meu redor.
Há passarinhos na grama pegando bichinhos e outros colhendo o que virá a ser um ninho. Há outros que não estão na minha visão, mas consigo escutar ao longe, simplesmente vivendo suas vidas. Há o barulho suave dos carros passando na rua indo de um lado para outro. Como também há duas pessoas conversando em um tom que não é possível dizer o teor do que dizem. Ela parecem animadas e tenho pra mim que este é um bom sinal.
No céu, um conjunto de nuvens brancas parecem com barcos navegando de um lado para outro. As vezes, sendo cortadas por um pássaro ou um avião ao longe.
Por algum motivo sem explicação, se eu fechar meus olhos agora, consigo imaginar a água do mar batendo suavemente sobre a areia da praia.
São tantas coisas! Como peças de um quebra cabeça que aleatoriamente eu coloquei jogados na minha frente.
Falando assim, são só um bando de coisas que misturam cotidiano e imaginação (no caso da água do mar), que normalmente passam batido pela correria do dia a dia.
Nesses momentos de parada, eu me permito pensar sobre algo que normalmente é meio mórbido para a maior parte das pessoas: A morte.
Quando mais nova eu sempre tive a imagem mental de que a vida era está sentada dentro de um carro com a morte ao lado. Você sabe que ela está ali, mas nunca imagina quando a mesma vai segurar sua mão e nos falar que é hora de descer.
Acho que penso mais nela que deveria. Não com pesar ou com receio. Acho que nunca tive medo dela em si. Meu medo sempre foi da dor que deixaria se partisse no segundo seguinte.
Se me concentrar bem, posso imagina-la sentada ao meu lado me observando e isso me lembra a outro questionamento. Será que quando tudo se tornar calmo quando ela nos abraçar e formos para seja lá onde formos (se formos mesmo) para outro plano, a correria que ficamos terá válido a pena? Ou será que iremos nos arrepender de não ter simplesmente parado alguns segundos pra observar o céu sobre nós?
Acho que não tenho a resposta pra isso e agora a ansiedade me parece mais um ruído de fundo. Só existe eu, a janela e a única certeza que temos da vida...A morte ao lado.
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Desabafos de uma escritora
SaggisticaSabe aquela vontade de falar sobre algo e não tem ninguém para te escutar? Bem, acredito que todo mundo já sentiu um dia. Se estiver lendo isso saiba que esse é um desabafo de uma escritora que só precisa desabafar.