Minha ilusão pacífica.

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1. Minha ilusão pacífica


  Chamas crepitam ao seu redor em uma espécie de dança aguda que ela não entende o significado, a fumaça ao seu redor tem o leve cheiro de carne carbonizada e roupas velhas.

Em algum determinado momento ela começou a correr em direção ao meio da cidade apenas para encontrar centenas de cadáveres mutilados e alguns pareciam ter sido tratados como bonecas de pano, botões ensanguentados nos lugares de olhos, costuras nos lugares da boca, pescoço, abdômen, braços e pernas.

Era o verdadeiro inferno, mas o mais aterrorizante era a catedral no meio da cidade, ela estava intacta sem nenhum tijolo ou telha faltando, mas coberta de sangue fresco e cadáveres em posição de oração a frente da porta, andando um pouco mais a frente dentro da catedral havia uma espécie de figura no altar, cabelos longos e pretos, orelhas pontudas e pele branca como papel, vestindo um terno masculino coberto de sangue e pedaços de panos velhos queimados.

A figura pareceu a notar porque lentamente virou o rosto para olhar pelo ombro dando o vislumbre de seus olhos que eram de uma cor verde repugnante, frios e com uma intenção assassina que poderia devastar uma cidade com suas próprias mãos em meros míseros segundos, em seu rosto uma espécie de sorriso vitorioso estava colocado em suas bochechas, era leve mas irritante e ao mesmo tempo mostrava a realização que seus olhos verdes repugnantes não conseguiam demonstrar.

Em uma velocidade impressionante ele levanta uma lança longa e afiada em sua garganta, sua respiração se torna irregular conforme a lança fria e gélida arranca o ar de sua garganta de maneira cruel, ela pode sentir suas veias pulsando mais rápido pela adrenalina, suas mãos logo se envolvem em forma de concha em sua garganta ensanguentada.

O sorriso que ele desfere a ela e cruel e mortal, seus olhos verdes repugnantes sugam todo e qualquer vestígio de esperança perante a sua forma esguia, seu olhos estão ardendo com as lágrimas não derramadas enquanto a lâmina e retirada de sua garganta.

No próximo segundo ela só vê uma lâmina em cima de seu olho direito, e então ela está cega, tem certeza disso a enorme poça de sangue que se forma em sua mão que o cobre é a resposta suficiente para ela saber disso.

Sua respiração se torna mais desregular a medida que uma lâmina fria esguia e completamente mortal se aproxima de seu abdômen, ela sabe que um golpe desse é matará mas não pode fazer muito e tombando passos para trás ela tenta se distanciar da lâmina, mas não tenho muita sorte uma espécie de lama preta agarra seus pés aprendendo no lugar.

Ela conhece essa lama, já esteve dentro dela por tempo suficiente e apenas a textura dela faz ela querer gritar mas sua garganta está muito danificada para isso de qualquer forma, ela precisa sair dali ela sabe que tem mas não pode fazer isso, em pouco tempo a lança se aproxima de seu coração e o esmaga cruelmente de forma lenta e dolorosa, o resto de fôlego que ela ainda tinha é arrancado de seus pulmões de forma cruel e marcas pretas começam a aparecer em sua visão e a única coisa que ela consegue ouvir antes de tudo apagar é a risada é a risada histérica do homem à sua frente.

A forma como ela parece divertida, sarcástica e excêntrica causar arrepios a sua espinha, ela quer gritar com ele por causa tanta dor aquela cidade, quer lutar contra ele porque sabe que aquilo foi errado mas sabe que ela não tem nenhuma grama de força suficiente para isso, ela é fraca demais para tentar lutar contra alguém como ele ou qualquer pessoa para começar, então ela se deixa se afundar nas profundezas daquela lama que logo a consumirá e ela não pode fazer muito seus dias já estavam contados de qualquer maneira, ela apenas espera que o outro lado seja aconchegante assim como o abraço que ela recebia de sua mãe.


Inicialmente ela não sabe se pode chamar aquela mulher de mãe mas acho que é certo, ela cuidou dela por todo esse tempo, sem falar que ela não era como quem ela ‘deveria’ chamar de mãe.

Sua consciência estava se esvaindo e o que quer que estivera naquela lâmina que a esfaqueou com certeza causou muito dano, a consciência a estava puxando para o mundo real novamente, a realidade ao seu redor se tornando nada mais do que uma nuvem embaçada de algo que ela não deveria ter visto.

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Acordei suando frio enquanto meu cabelo se grudava em minha testa, uma espécie de soluço rouco saiu arranhado pela minha garganta, minhas mãos estavam firmemente verificando algum ferimento que avia sido deixado pelo meu corpo, embora a única coisa que pode ter sido deixada foi uma tremenda dor aguda em meu olho direito.

Após ver que nenhum ferimento havia sido deixado em meu corpo consigo finalmente sair da cama.

Agora, eu posso ser descrita como uma pessoa bagunçada mas não e pra tanto.... Talvez seja.

Meu quarto e um bom exemplo disso, eu tinha vários papéis contendo de desenhos abandonados a textos ilegíveis espalhados pelo chão de carvalho, agora veja, os dormitórios podem ser modificados apenas na decoração do interior da sala principal e dos quartos, mas, dada a alguém em específico essa regra teve que ser ligeiramente mudada para apenas os quartos em si é teve que ser verificada a cada quase uma semana se não havia sido desobedecida a contra gosto.

Mas deixando isso de lado, adivinhem quem esqueceu que hoje era para entregar um trabalho escolar que valia toda a nota do 4° bimestre?
Isso mesmo essa IDIOTA AQUI... Talvez isso tenha sido um pouco duro comigo mesma, mas, eu tenho uma explicação... Eu acho.

Como vocês podem ou não saber eu sofro de um distúrbio mental chamado TDAH, que basicamente é, em palavras do Alecssandrer: doença crônica que inclui dificuldade de atenção, hiperatividade e impulsividade.

Em geral, o TDAH começa na infância e pode persistir na vida adulta. Pode contribuir para baixa autoestima, relacionamentos problemáticos e dificuldade na escola ou no trabalho.

E uma droga lidar com isso, você não consegue fixar a atenção em um só lugar, sua mente divaga e quando você menos espera já se passou de uma a três horas apenas divagando em como o papelão de caixas, embalagens e entre outros podem ser reutilizáveis de certas e específicas maneiras.

Bem, de maneira geral, a reciclagem de papelão inicia-se com seu trituramento, a fim de obter uma espécie de pasta de celulose. Depois, essa pasta é peneirada, para que todas as impurezas sejam retiradas, incluindo pedaços de plástico, metal e fitas adesivas não recicláveis, sem falar que-

E melhor eu me parar aqui mesmo senão não vamos avançar de jeito nenhum. Bem voltando ao trabalho que eu definitivamente deveria ter feito.

Minha parceira de trabalho, (caso eu não tenha mencionado foi um trabalho em grupo, cada grupo tinha cinco pessoas, o líder do grupo incluído.) Maira, se descobrisse que eu não havia feito a minha parte do trabalho, oque, digamos que foi decepcionante... Em várias formas.

Enfim, olhei o relógio que estava encima da porta de carvalho claro do meu dormitório, eram aproximadamente  05:16 da madrugada, as aulas começavam as sete, eu tinha algum tempo sobrando.

Me arrumei o mais rápido que pude, depois de uma breve (levou oito minutos) inspeção nos papéis no chão do meu quarto consegui distinguir oque era e oque não era parte do trabalho, fui correndo e tropeçando até uma pequena estante que ficava perto da janela do lado norte do meu quarto e rapidamente peguei um punhado de livros grossos e outros finos.

Me arrependi de ter começado a fazer esse maldito trabalho sem ter comido um café da manhã adequado, PORQUE E UMA TORTURA, sem brincadeira agora mas, eu estou falando sério, eu nunca mais vou fazer algo assim de novo, nem se me pagarem.

Oque eu duvido que façam realmente.

Faltava pelo menos quinze minutos para o alarme da escola tocar, eu já havia terminado o trabalho, mas, meu estômago estava um caos, sinceramente eu não acho que conseguiria ficar acordada hoje o dia inteiro sem pelo menos comer algo de manhã, mas fazer oque né.

Arrumei minha mochila (pela segunda vez) colocando cadernos finos de arame junto de um conjunto de apostilhas de capa fina daquelas de plástico sabe?

Assim que consegui arrumar tudo na mochila comecei a me arrumar, também pela segunda vez hoje, acabei por pegar uma escova e um pequeno pente fino para tentar desembaraçar essa juba castanha escura que eu chamo de cabelo, doeu, pra caramba mas, valeu a pena, cabelo ondulado em um rabo de cavalo alto e pequeno.

Agora a única coisa que faltava era um pouco de corretivo nas bolsas escuras do tamanho de buracos negros que aviam embaixo dos meus olhos que chamamos de olheiras, e um batom rosa claro, outra coisa que eu esqueci de mencionar ou talvez vocês não precisem saber e que eu odeio quando meus lábios ficam ressecados, me dá uma agonia.

Um pouco de maquiagem aqui e ali e pronto, agora oque faltava era vestir o uniforme que consistia em apenas uma camiseta branca de manga longa, um blazer vermelho cinzento, uma saia que  quase chegava até os meus joelhos e uma gravata vermelha pequena, eu também usava meias pretas com um coturno preto com cadarços amarelos com um contraste em dourado.

Quando terminei de arrumar o quarto e fazer pelo menos um café da manhã decente já eram 06:34 no relógio, enfiei algumas torradas no boca quase me engasgando no processo e tentei (leia-se, tentei) beber uma caneca grande de café em um só gole.

Não deu muito certo, mas, oque importa e que no final eu não cheguei atrasada nem sem os trabalhos que a Maira me pediu, e olha, ela estava brava, eu nem lembrava do que exatamente ela estava brava hoje, eu fiz os trabalhos, não me atrasei como de costume, meu uniforme estava certo, então porque a agressividade senhorita Maira??

_ Bem olha só quem resolveu aparecer cedo hoje._

Ouço uma voz irritantemente familiar pelas minhas costas, agora eu sei o motivo da Maira estar tão irritada, bem meus caros leitores conheçam Rayna Xurks, nome feio se vocês me perguntarem, mas bem, ela tem seu cabelo ruivo encaracolado solto com algumas pequenas tranças soltas, seus olhos são de um impressionante violeta que não combina com ela, sua pele e pálida e imaculada, ela está vestindo o mesmo uniforme que eu mas sua saia está puxada para cima revelando suas coxas e deixando amostra uma meia calça arrastão que estava rasgada em alguns lugares, surpreendente ela calçava botas brancas que chegavam não muito longe de seus joelhos.

Ela também usava joias de prata, brincos pendentes com pingentes de luas, um cordão de prata sem pingente e  dois anéis na mão esquerda, sem falar das presilhas prateadas em seu cabelo, elas tinham a forma de pequenas luas e alguns planetas como Saturno estavam em destaque.

Sua maquiagem era impecável, a sombra de olho era de um azul brilhante com um salpicado de verde, ela também usava um delineado preto junto com lápis de olho preto e rímel, seu batom era de uma cor de tom médio, estava no meio entre um roxo e um vermelho.

Bem em resumo, uma patricinha mimada filhinha de papai, desde que ela avia de transferido de uma escola particular a essa ela decidiu que iria me atormentar pessoalmente, todos os dias que ela me encontrasse fora do alcance da Maira, minha melhor amiga, e dos professores que me toleravam o suficiente, ela fazia o seu melhor para tornar os meus dias insuportáveis ao máximo.

Voltando ao problema na minha frente, parecia que as duas iriam começar uma briga ali mesmo. E olha, normalmente eu teria encorajado a o começo de uma, mas, como e na frente da escola que isso estava acontecendo teria que esperar até a hora de ir embora para alguma ação, caso contrário, detenção nos fins de semana por um mês inteiro, e para piorar, JUNTAS em uma única sala por doze horas, que divertido não?

Certamente não seria, coloquei minha mão no ombro de Maira para dar algum conforto e um aviso que se aquela discussão continuasse como estava indo nos três iriamos ficar de detenção pelo resto do mês em todos os fins de semana, pareceu funcionar porque seus ombros logo ficaram frouxos e sua expressão se transformou numa carranca cansada, eu sabia o quanto elas se odiavam, mas aquilo estava ficando fora de controle nos últimos meses, parecia que ambas estavam constantemente tentando achar uma forma de acabarem uma com a outra, isso estava chato.

Divagando e saindo do tópico de novo, me desculpem.

Assim que eu consegui acalmar a minha amiga percebemos que acabamos nos atrasando pelo menos um pouco de mais para a primeira aula do dia.

As aulas são divididas em turnos de quarenta e cinco minutos, cada aula tem o seu próprio dia específico, como tal hoje que a primeira aula do dia já era de química, (essa escola estava tentando nos matar??) que Deus tenha piedade de nossas almas quando chegarmos na sala.

Agora, eu sei que eu não elaborei muito mas tem uma regra que você não pode chegar muito atrasado, na verdade não depois das 07:30 senão, detenção na certa.

Puxei Maira pelo pulso e saímos correndo pelos corredores, também tem essa regra que você não pode ficar correndo dos corredores mas não é como se importasse agora, todo mundo estava nas aulas né, Maira puxou um relógio de pulso do bolso, que eu não sei porque ela havia escondido no bolso né em vez de colocar no pulso, rapidamente seu rosto ficou pálido parecia que ela havia visto um fantasma O que provavelmente seriamos nós daqui a dois minutos quando eu encontrássemos a nossa sala, a propósito nossa sala e a 8° A, as salas iam da divisão A até a divisão E.

_ Oque foi!?_

Perguntei com urgência mas não houve resposta, ela parecia estar chocada como se algo estivesse errado da pior maneira possível, oque eu imagino que estava.

Só depois que percebi que seu relógio estava com a tela de vidro quebrada.

Estávamos ferradas de um jeito nada bonito.

_ Vamos, vamos, vamos, precisamos chegar até a nossa sala talvez não esteja tão atrasadas quando pensamos certo? _

Eu perguntei, minha voz estava meio fina por causa do medo, sem falar que minha mão suava e tremia, não houve resposta de primeira mas o máximo que conseguir de uma resposta foi um pequeno a cena de sua cabeça, segurei o pulso de Maira de novo e eu comecei a puxa-la, agora estávamos na frente da nossa sala, havia conversa nela o que era de certa forma reconfortante, mas, também significava que o professor não havia chegado ainda, tirei o meu celular de um bolso da mochila que estava carregando para olhar as horas, 7:15.

_ PORRA, CARALHO AI SIM NÉ!_

Quase gritei há plenos pulmões porque ainda faltavam 15 minutos para professora chegar Maira que tinha visto o horário bateu a mão na minha boca em uma velocidade surpreendente, doeu, mas eu mereci, abrimos a porta da sala para encontrar a sala inteira olhando para a gente, talvez eu tenha soado um pouco alto demais, mas melhor ter gritado em frente da sala do que ficar de detenção o resto dos fins de semana por um mês né, segui para o meu lugar ao lado da janela, ele era sempre a segunda carteira, Maira sentava minha frente como sempre, ou como deveria ser.

_ Esse e o lugar da Maíra - eu disse, minha voz contendo uma irritação mal disfarçada – Eu não me importo em que lugar você vai ocupar mas saia do lugar dela. _

A minha frente Rayna havia voltado, sentada na carteira que era sempre onde a MINHA melhor amiga se sentava.

Me exaltei desculpe, assim que ela pareceu me ouvir sua cabeça virou para me dar uma amostra de um sorrisinho sarcástico, sinceramente seu rosto não combinava com sua personalidade, ela era linda, o que não dá para negar, mas sua personalidade era horrível, ela é uma pessoa desprezível, aos meus olhos talvez, mas isso não vem ao caso, o que vem ao caso é o fato dela estar sentada no lugar onde deveria ser da minha melhor amiga sabendo que esse é o lugar da minha melhor amiga mas mesmo assim continuando lá, ela não me odiava? Ela deixou isso bem claro desde a primeira vez que nos conhecemos e agora ela está sentando na minha frente falando com as outras pessoas da sala como nós éramos amigas apenas para me irritar, não acha que isso está saindo um pouco do controle?

Gostaria de ter iniciado uma briga na hora que estávamos na frente da escola teríamos uma boa desculpa para qual estávamos atrasadas, se ficássemos, sem falar que eu poderia ensinar uma lição a ela. Mas como nada e do jeito que queremos acabou por ser assim com Rayna a minha frente, eu no meio e Maira atrás de mim.

_ Eu te odeio – eu comecei, a voz hesitante – você sabe disso certo?_

Apenas recebi um aceno de sua cabeça, oque acabou por jogar os seus cabelos em cima da minha carteira.

_ Então pra que isso? Por que você está me intimidando tanto hoje? Oque diabos eu te fiz, eu mal chego na escola e você já me atormenta! _

Resolvi manter a voz baixa, se a professora pegasse a gente conversando em sua aula só Deus sabe oque aconteceria com a gente caso isso ocorresse.

Ela pareceu pensar por um minuto, longo minuto, mas me deu uma resposta. Suavemente ela inclinou o celular para que eu pudesse pega, a mensagem me deixou pálida e suando frio.

###_ Você sabe oque fazer, o plano está se concretizando. Mantenha ela onde está precisamos dela sá. Não se esqueça eu tenho algo que e seu, se você não fizer oque eu mando a sua pequena irmãzinha já era. _

Eu quase deixei cair o celular assim que terminei de ler a mensagem, Rayna rapidamente pegou o celular e escondeu embaixo da carteira ela me lançou um olhar suplicante que só dizia uma coisa, fique quieta e não conte para ninguém o que você viu, ela realmente achou que eu iria ficar calada depois de ler uma coisa dessas, mas, o que que ela significava, que plano era esse, porque alguém deveria estar sã e o que isso significava comigo, não obtive resposta como esperado, logo a professora estava colocando questões no quadro, era hora de copiar e fazer as atividades.

Merda pela terceira vez hoje.

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