3. “A tua esperança e composta por sangue.”
Eu não sei ao certo aonde começou, mas me lembro de acordar em uma caverna escura e moribunda com um cheiro forte de poeira.
Continuei andando em meio a caverna em busca de alguma pista de uma saída, uma luz no fim do túnel talvez?
Nada.
Algo está estranho, errado.
Arrepios cobriram meu corpo antes mesmo de eu ver a figura grande atrás de mim.
Uma aranha branca, olhos vermelhos e presas afiadas, ela não parecia interessada em mim mas sim no que estava atrás de mim, ovos, brancos com manchas roxas.
Uma dor surda se instalou sobre minha cabeça, memórias antigas e distorcidas passaram em minha cabeça um e outra vez, uma lança prateada, uma grande coroa de cor de ouro escuro, três anéis, uma grande medalha, uma fissura em uma parede de pedra que parecia mármore, uma risada estridente, olhos verdes repugnantes, uma grande estrutura de gelo e por fim um grande altar que estava coberto por ouro e cristais.
Antes que eu pudesse me recompor a aranha que antes estava olhando para os ovos vira sua cabeça para mim quando eu dou um suspiro agudo de dor pela enxaqueca, os ovos que antes estavam parados logo começam a se remexer e chocar.
Minúsculas aranhas aparecem de cada ovo, seus olhos voltados pra mim, ou eu achava que estavam voltados para mim.
Então percebi que nenhuma delas conseguia perceber a minha existência, meu corpo parecia ter se dissolvido em uma névoa espessa, tudo parecia meio mórbido de um certo ângulo.
Parecia que um velho altar estava em uma parte mais alta da caverna, uma figura esbelta e bonita estava ajoelhada no altar, seus cabelos eram brancos e esvoaçantes, sua pele era parda e bem cuidada, ela usava um grande vestido branco que chegava até os calcanhares, seus olhos eram de violeta cor de lavanda lindo, seus olhos tinham pupilas em fendas prateadas que lembravam uma agulha.
Espera, ela estava olhando pra mim?
A atenção das aranhas estava voltada para a dama ajoelhada no altar, mas, parecia que a atenção da moça estava voltada para mim e apenas a mim.
Havia armas ao redor do altar, espadas, lanças, machados, arcos, foices, adagas, grandes martelos, escudos e um espadão vermelho.
Pude finalmente ver oque estava no topo do altar, a imagem me aterrorizou, era a mesma figura de antes, cabelos longos pretos e lisos, pele pálida como papel, olhos de um verde musgo repugnantes e um sorriso falso.
Havia velas de cera amarelo queimado ao redor do altar, as chamas das velas eram minúsculas, parecia que o altar estava caindo aos pedaços, havia pedras de mármore soltas ao redor da moça de cabelos brancos.
A moça se levantou graciosamente de onde estava ajoelhada é começou a andar em minha direção, cada passo dava um barulho estridente de salto alto batendo na pedra de mármore, o interessante era que ela não usava salto alto e sim uma sapatilha de sacerdotisa de santuário.
_ Está menor do que dá última vez, pelo que parece ele está perto de conseguir oque quer._
Sua voz era melodiosa e doce, mas havia uma antipatia pingando em sua voz, eu não tinha percebido mas em algum momento ela se aproximou o suficiente de mim para segurar a minha bochecha com carinho, embora suas mãos fossem geladas como gelo puro.
_O-oque quer dizer?_
Eu tentei perguntar a moça a minha frente mas não consegui uma resposta, seu olhar era severo e frio, como a lâmina de uma guilhotina esperando para cair em cima do pescoço de alguém, havia uma outra emoção em seus olhos mas eu não conseguia identificar qual.
O chão abaixo de mim cedeu e eu comecei a cair.
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Um sonho, um abismo sem fim.
A luz não a alcançava ali, feio, mórbido, um cheiro moribundo de poeira se arrastava no ar, seu corpo parecia nada mais que névoa espessa, seu coração afundou com a possibilidade de acabar caindo em solo rochoso.
Ela fechou os olhos com força por causa do medo da queda iminente, no entanto a dor nunca veio, seu corpo que estava transformando em névoa não parecia ter forma física o suficiente para que uma queda daquelas lhe desse algum dano, no entanto, mesmo sem uma forma física o enjoo da queda veio mesmo assim.
Sua respiração estava superficial pelo medo da queda, suas mãos, mesmo em névoa, se agarravam em torno de seu peito com força, o medo a dominava, o abismo sem fim zombava dela, a forma cruel de um longo corredor estreito cheio de espinhos de pedra a agraciou.
Um falso sentimento de segurança a tomou, havia luz mais a frente, deveria ter uma saída aqui perto certo?
Errado.
Seus pés, mesmo em forma de névoa espessa ainda doíam pelo terreno rochoso e espinhoso, um líquido quente se acumulava na sola de seus pés, sangue? Suor? Não havia como saber quando seu corpo não era nada mais que névoa espessa.
Quem sabe, a exaustão a atingiu de maneira brusca, violenta e de forma pegajosa, o miasma de sofrimento que o corredor exalava causava uma pressão gigantesca em seu peito.
De repente um barulho agudo suou encima de sua cabeça, um olhar para cima revelou pedaços de cristal branco opacos que estavam se desvencilhando do teto, eles caiam do teto rochoso, um deles quase a acertou, ela começou a correr, a dor percorreu suas pernas pelos arranhões que as pedras ao redor causavam.
Mesmo quando seu corpo era nada mais que uma névoa espessa, ela ainda poderia sentir dor?
Um deles atingiu perto de mais para o seu gosto e ela continuou a correr com uma determinação feroz, sua persistência estava sendo testada a cada segundo daquela tortura, ou corrida, de salvar a própria vida.
Logo ela estava fora da caverna, ela desabou assim que ela saiu para a luz opaca do sol, os fragmentos de destroços ainda caíram sobre ela e a machucaram de alguma forma mas nada com oque ela não pudesse lidar naquele momento.
A visão que estava fora da caverna a assombraria para o resto de seus dias.
Um massacre a sangue frio, do pior jeito possível, havia figuras, silhuetas, escuras que pareciam humanas mas suas cabeças eram monstruosas, algumas tinham mais de um par de olhos, outras não tinham nem um olho em sua cabeça mas sim ao redor de seu corpo.
Uma delas olhou para ela e um arrepio gelado escorreu por sua espinha, seu rosto ficou pálido ao notar o olhar das outras criaturas se fixar nela.
A correria recomeçou com vigor, não dá parte dela e claro, mas dá parte das criaturas altas e monstruosas.
Uma conversa abafada pode ser ouvida, uma voz era masculina e divertida, outra era feminina e irritada.
“O selo esta rachando, 40.000 anos foram o suficiente.” A voz feminina irritada disse em um tom orgulhoso, havia uma certa presunção em sua voz.
“Não se preocupe #######! Eu tenho um plano e claro! Tudo oque precisamos e tempo. Nara nem tem ideia do que está prestes a acontecer!” A voz masculina divertida disse com uma risada.
“Mesmo assim, e melhor tomarmos cuidado. E u não confio naquela garota.” A voz feminina irritada disse com desconfiança.
“Eu sei #######, mas não se preocupe, minha seguidora sabe oque aconteceria com a querida irmãzinha dela se ela me desobedecer.” Havia um perigo iminente na voz masculina divertida.
As árvores ao seu redor começaram a se distanciar, ela estava em um campo aberto agora, uma das criaturas altas e escuras pulou em sua direção, a criatura preparou um ataque com as garras, mas, antes que pudesse atacar, ela acordou só sonho.
Com um suspiro audível e um grito preso na garganta ela caiu da cama, sua pele estava úmida, demorou um pouco mas ela reconheceu o cômodo onde estava, seu quarto nos dormitórios.
A voz masculina e divertida de antes sussurrou em seu ouvido uma última vez.
“A tua esperança e composta por sangue.”
Havia uma risada estridente ao terminar a frase, ela só pode olhar confusa para a janela de seu quarto.
_ Oque foi que aconteceu? _
Ela perguntou a si mesma em confusão e horror quando as lembranças do sonho voltaram de uma vez.
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A Coroa de Arachnne
Short StoryLivro 1 de As Consequências de Suas Ações 'Um se perderá na terra proclamada pela mira' 'A desgraça do irmão aponta a trilha' 'Uma traição em meio a ponte brilha' 'Um filho do mar, que o sacrifício provoque tua ira' 'E pelas mãos da deusa um deve e...