Capítulo 37 - Bruno

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Clara e eu não vamos nos dar bem, isso me pareceu claro no momento em que a vi pela primeira vez e ela demonstrou seu temperamento explosivo e, principalmente, toda a sua arrogância. Não me surpreendeu que continuasse sem ao menos me dirigir a palavra enquanto dividimos o banco do passageiro da caminhonete de Leo, mas tampouco me importei. Afinal, não deixei e nem deixarei que ela ou ninguém me trate de forma grosseira.

De todo modo, a garota já parecia ter seus planos traçados para o dia junto do irmão e eles não me envolviam, por isso a melhor opção era me afastar e focar no trabalho do mercado. Além disso, sei que Leonardo ama a irmã e isso, somado ao fato de ser seu aniversário e ela ter vindo apenas para a ocasião, me faz querer deixar que eles se divirtam, sobretudo por causa dele.

Não estou irritado com meu namorado por sequer ter me dito que era seu aniversário, afinal posso me culpar um pouco por isso. Ele estava ocupado durante todo o fim de semana ao meu lado e, depois disso, teve que lidar com minha imaturidade e dividir comigo os problemas de minha família, então, o conhecendo bem, era de se imaginar que fosse ignorar uma data especial para me priorizar.

E é por isso que insisto em ficar no mercado durante o dia e, após a volta para a fazenda, optar ir para o jantar na cidade no carro de meu pai. Quero que seja uma noite divertida para Leo e não quero acabar me estranhando com sua irmã ou ficando o tempo inteiro desanimado por me sentir um tanto excluído de tudo.

Sei que, apesar de não ter me dado bem nesse pouco tempo que nos vimos, Clara tem as melhores intenções com a surpresa no momento em que vejo Leonardo dar risadas genuínas com o bolo e com todo o carinho que recebe. Por isso sorrio da mesma forma quando seus olhos procuram os meus.

E é seu olhar que me faz me aproximar dele e lhe abraçar, antes que os outros o façam. Gosto de como seus braços me envolvem e me permito deixar que ele sinta a saudade que meu corpo sente do seu. Que eu sinto. Então, depois de tranquilizá-lo, digo que vou sair para tomar um ar.

Ainda consigo ver o momento em que Paulinha lhe entrega um embrulho pequeno e até mesmo quando a dona Odete, que demonstra ter um carinho pelo Leonardo que não tem com nenhuma outra pessoa na cidade, lhe coloca algo no bolso. Me sinto mal novamente por não ter algo para lhe presentear, mas acabo por tentar afastar isso da cabeça, principalmente por já estar com muitas outras coisas me preocupando.

Fico mais tranquilo por ter saído para tomar um ar, afinal dentro do restaurante estava mesmo quente, mas não só por isso. Provavelmente eu tenha ficado perdido nos pensamentos durante todo o dia e talvez tenha até esquecido um pouco do fato de minha mãe dever dinheiro para um agiota perigoso, mas estar sozinho aqui fora, respirando um tanto mais calmo e podendo pensar a respeito com mais tranquilidade me parece bom.

E mesmo que esteja satisfeito com esse momento sozinho, não me importo quando vejo Mica se aproximar e logo tirar seu bom e velho maço de cigarros do bolso. Não conversei com ele essa noite, mas pelo suspiro que dá ao sentar na calçada bem próximo de onde estou me faz pensar que está tão desconfortável quanto eu.

— Também precisou de um ar, imagino — sorrio ao vê-lo concordar enquanto acende o cigarro.

— É, o clima sempre pesa quando tô no mesmo ambiente da Clarinha — ele traga e, depois de soprar preguiçosamente a fumaça, de olhos fechados, conclui — mas não dá pra julgar ela.

— Ela tem vocação para não gostar dos namorados do Leo ou algo assim? — ele se diverte, constatando que também não me dei bem com a garota.

— Bom, ao menos comigo ela tinha motivos pra não gostar — debocha, voltando-se para o cigarro — será que a gente tem que se preocupar com você também?

Como É Que A Gente Fica? (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora