Diários confidenciais de A.z. Fell, 31/10/2029.
Querido diário, eu não consegui fazer nada.
Há cinco anos, estive na minha primeira conferência como Arcanjo Supremo de todo o Céu, onde discutimos sobre uma ordem de busca e destruição de um demônio.
O Crowley.
Mostraram uma gravação dele quando entrou no Céu junto com Muriel, se disfarçou de anjo e viu arquivos confidenciais. Também o responsabilizaram pela partida do Gabriel. Disseram que ele ajudou o "traidor" a enganar as forças celestiais e abandonar seus deveres. Miguel disse que ele é perigoso, por ter visto os planos da Segunda Vinda sobre o qual nem mesmo eu tinha todos os detalhes até aquele momento. Uriel disse que ele poderia expor os planos para o "mestre" dele para tentar reconquistar seu lugar no Inferno, usando os grandes planos que Miguel elaborou contra nós.
Crowley tinha que ser encontrado, essa era a prioridade dos outros arcanjos.
Uma ordem desse nível, para mover todas as forças celestes contra um único demônio, tem que ser assinado por todos os arcanjos, inclusive eu.
Eu não consegui assinar na hora, disse a eles que terminaria algumas coisas antes. Mas a verdade é que eu não acreditava que o Crowley seria capaz de uma coisa dessas, nem que eu mesmo seria capaz de fazer algum mal a ele. Jamais o machucaria. Nunca. Mesmo que Crowley estivesse furioso comigo, ele não arriscaria a Terra. Ele amava a Terra assim como eu, amava a comida, a bebida e até os animais.
Contar tudo o que ele viu para o outro lado adiantaria a guerra, destruindo o nosso planeta azul e verde. Ele nunca faria isso. Nunca. A Terra é o nosso lar. Não tinha motivo para caçá-lo e muito menos eliminá-lo.
Mas o Metatron veio até a minha sala assim que a reunião acabou e comentou sobre isso, sobre como o Crowley era uma ameaça para todos os anjos e até mesmo as almas boas que vieram da Terra para cá. Disse que ele poderia fazer mal até mesmo ao Muriel. "Se ele conseguiu persuadir um anjo a levá-lo para o Céu, o que mais será capaz de fazer?" Ele disse que meu papel como Arcanjo Supremo é proteger o Céu de todas as ameaças, então me deu de novo os papéis para que eu autorizasse.
Uma ordem para todos os anjos na Terra e no Céu, que encontrassem o Crowley e o destruísse.
Metatron me observou enquanto eu encarava aqueles papéis. Ele queria mais uma prova da minha lealdade e devoção. Uma última garantia de que eu sou confiável para o trabalho. De que eu poderia estar no comando e acompanhar os planos do Armagedom, "A Sequência" bem de perto e interferir se for necessário.
E era o que eu pretendia. Foi um dos motivos de eu vir para cá.
Com o coração sangrando, assinei os papéis com a expressão mais desdenhosa possível. Afinal, um Arcanjo Supremo não se importa com um demônio qualquer que sabe demais.
Não consegui trabalhar pelo resto daquele dia.
Com as mãos tremendo, liguei para o Crowley centenas de vezes e ele não atendeu nem respondeu as minhas mensagens. Ele me ignorou durante todos esses anos, mas eu tinha que avisá-lo. Ligava para ele sempre que possível. Não podia ir para a Terra, pois poderia levantar suspeitas. Liguei para a Maggie, a Nina e o Muriel. Ele contou que o Crowley não iria mais visitar a livraria, mas não explicou muito. Tentei de alguma forma encontrar o carro dele e o encontrei em um museu de carros antigos, mas não encontrei o Crowley.
Fiquei ainda mais preocupado porque o dono do museu disse que o Bentley foi encontrado destruído depois de um acidente em uma rodovia, que bateu de frente com um caminhão, mas o motorista não estava lá.
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O anjo que ele merecia
General FictionEsses contos nos mostram eventos importantes que aconteceram antes do que Metatron chamou de "A Segunda Vinda", apresentam narradores diferentes, mas todos se tratam dos mesmos personagens. Um anjo, que partiu para o Céu pela segurança de tudo que a...