Formalidades

35 2 0
                                    

Nyla teve uma infância muito boa, sua mãe, Kira, era carinhosa e cuidadosa com ela, sua família era unida e eram considerados como classe alta pela cidade. Infelizmente com o adoecimento de Kira por causa de câncer, a jovem mãe morreu enquanto sua filha tinha apenas sete anos, fazendo com que a família se destruísse, sobrando apenas Elijah e Nyla naquela cidade interiorana. O forte luto e a falta de companhia quase os levaram para o fundo do poço, os dois Palmers passaram por maus bocados mas com o decorrer dos anos a dor se tornava mais "fácil" de se lidar.

Porém, ela se encontra novamente em sua casa de infância, vivendo e revivendo um momento que está amaldiçoado a se repetir, um sonho de várias noites encontrou seu caminho, ouvindo o tocar do telefone ecoar pela casa, o ambiente tenso e a velocidade de seu pai em atendê-lo, os poucos segundos de ligação se tornavam longas horas torturantes e a mudança de expressão do mais velho mostrava o que a pequena mais temia.

As lágrimas sofridas e os soluços reprimidos cortavam o silêncio do cemitério, a chuva se obrigava a cair e a menina se punha diante da cova da mãe, a terra fresca invadia a pequena sandália da menina. "Kira, uma excepcional mulher e acima de tudo, uma mãe guerreira" a frase cravada ao túmulo rodeava a criança, enquanto o seu entorno se torna vazio e escuro restando apenas ela, a lápide e a terra molhada.

Subitamente uma mão saia da terra da lápide, uma mão feminina com o relógio e aliança de casamento de sua mãe, mão na qual a agarrava com força pelo calcanhar, sujando a com terra que já se tornava lama com o aumento da chuva. Trovões caem em volta da pequena, seus gritos se faziam mais agudos e desesperados, caindo pela força da mão, na lama que a consumia e tentava puxá-la e fazer com que o destino da mãe também fosse o seu.

Enquanto a luz já não se tornava visível, a respiração de Palmer era bloqueada pela lama, a asfixiando de forma lenta e cruel. Sua vida se esvaia aos poucos, com ela perdendo as forças e aceitando seu destino.

Nyla acordava, com os olhos latejando e as mãos trêmulas ouvindo as sirenes da fábrica, que a cada segundo se colocavam mais altas.

Ela sentava com calma na cama, limpando os olhos com o edredom, com a pulsação a mil, Palmer se forçava a levantar e distrair-se desfazendo as malas.

De joelhos em frente às malas, ela pegava cada peça de roupa e guardava de forma quase idêntica a de seu quarto, e se certificando de escolher uma roupa confortável para vestir após o banho. Em poucos minutos, com as malas desfeitas, ela se dirigia ao banheiro.

As paredes do banheiro eram de cimento queimado, o chão de madeira e pequenas plantas trepadeiras estavam suspensas sobre o espelho da pia espaçosa. A banheira se encontrava no lado direito do cômodo, igualmente cinza, com painel para controlar as luzes e jatos de hidromassagem acompanhado de uma janela e portas de vidro que davam a um pequeno jardim privado. O box, que estava de contra parede a porta, era de vidro até o teto, com vários produtos de cuidado pessoal, ao seu lado contendo uma toalha e um roupão de banho.

Retirando sua roupa que estava completamente transpirada, ela a colocava no cesto em baixo da pia. O chão gelado a arrepiava, e em pequenos pulos nas pontas dos pés Palmer se guiava em direção ao box, tentando segurar seus instintos de entrar na banheira. Com uma ducha rápida, ela vestia se com uma camiseta preta e calça jeans escura, suas botas pretas, seus anéis e brincos pratas. Se sustentando na pia de mármore, ela pegava a pequena escova branca e pasta de dente, fazendo sua higiene bucal.

Em seus passos arrastados, ela pegava uma pequena bolsa para levar seu caderninho de anotações e canetas, tentaria conseguir muitas informações ao longo dos dias então isso seria crucial. Com isso ela saia do quarto.

Abrindo por fim a porta, ela se depara com Willy Wonka a esperando, distraído enquanto mexia em sua bengala de doces, a virando de um lado para o outro, hipnotizado com o barulho das pequenas bolas coloridas, e provavelmente açucaradas, movendo no tubo acrílico, com suas pupilas dilatadas e brilhantes vidradas. Nyla não fazia a menor ideia do que poderia estar se passando pela mente do chocolateiro, mas aquele fascínio a assustava. Nesse dia seu sobretudo era roxo igual as luvas e a fita de sua cartola.

Gingerbread Man Onde histórias criam vida. Descubra agora