três.

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MANUELLA

— Mamãe —Analua chama, interrompendo pela milésima vez a historinha que eu contava a ela.

— Oi, meu amor. —suspiro.

Ela me olha, virando o corpo totalmente para mim. Já passava das 23h e ultimamente ela vinha demorando bastante para dormir e sei que era falta do pai.

— E o papai? Tô com sodadi. —conta, com aqueles olhinhos brilhantes.

Se eu peguei ódio do Antony na gravidez, Analua veio totalmente grudada a ele.

— O papai tá viajando, meu bem. —ri baixinho, abraçando ela— Mas logo ele está aqui, tá bom?

— Promete?

Minha filha perguntou com aquela vozinha manhosa, e eu me derreti por dentro.

— De dedinho! —levantei meu mindinho para Analua, que apertou com o dela, minúsculo.

Deixei um beijinho em sua testa, ajeitando aqueles cachos bagunçados.

— Me fala, do que você mais sente saudade nele?

Perguntei, porque li no meu livro de educação positiva que era bom ir mais a fundo no sentimento da criança. Às vezes era difícil, mas esse sempre foi meu sonho. Dar esse tipo de educação a minha filha, acolher seus sentimentos.

— Do naigão. —diz com o dedo na boca, sapeca.

— Do narigão? —nós rimos— Vou contar pra ele!

— É verdade, mamãe! —exclama e eu ouço alguém batendo na porta.

Deve ser Pamela vindo de alguma balada.

— Fica aqui, vou ver quem é.

Mando, cobrindo a pequena, saindo do cômodo e indo ascender as luzes da sala andando. Como a porta da frente era de alumínio e vidro, pude ver Antony do outro lado. Ele deu um risinho e acenou rápido.

Não morre cedo...

— Oi...

— PAPAI! —nós ouvimos o grito estridente e um pingo de gente cabeludo correr até ele.

— LULUBA!!! —Antony gritou de volta, se agachando para pegá-la no colo e rodopiando ela no ar.

Eu ri da cena, os dois rindo e Analua o enforcando no abraço caloroso que ela deu, com aqueles bracinhos pequenos.

— Vai ficar, papai? —pergunta sobre ele dormir, ainda agarrada nele.

— Vou, minha princesa. —diz ele, entrando em casa— Papai veio de viagem direto te ver.

— Sério?

Analua perguntou, totalmente surpresa.

(...)

— Finalmente ela dormiu. —ele fala, fechando a porta do quarto de Analua.

Enquanto eu estava lavando a louça da janta de costas pra ele, minha casa não era tão grande. Dois quartos, sala, cozinha de conceito aberto, banheiro e uma varanda na qual eu escondia com minhas trocentas plantas. Papai construiu no terreno que comprou para mim assim que soube que eu estava grávida, inclusive, saudades do meu velho. O sonho dele era conhecer Analua e infelizmente, o câncer não deixou...

— A gente tava falando de você. —solto um risinho fraco, o olhando rápido.

— Ela me disse. —conta— Eu vim direto pra cá, pedi pro Uber correr achando que vocês já estavam dormindo.

— Quem me dera...—murmuro.

E nós ficamos em silêncio por alguns segundos, só ouvindo o reality show que eu coloquei para assistir falar.

— E como ela está na escola? —ele pergunta.

— Está bem, esses dias teve peça. —falo, finalizando a louça e secando minhas mãos— Eu te mandei o vídeo.

— Eu vi, ela ficou linda. —sorriu, voltando a olhar pro celular.

Depois da gravidez e do estresse que tive nela, Antony e eu resolvemos levantar bandeira branca pela Analua. E levamos isso a sério, não falávamos do passado ou de nós, literalmente só conversamos coisas relacionadas a Analua e até que assim a gente se dava bem!

— Vai ter outra dia 30, se você quiser ir! —dou de ombros.

— Posso tentar, não sei se vou estar no rio.

— Ah é, verdade.

Às vezes era difícil dele ser um pai presente, por ser jogador. Mas sei que ele se esforçava ao máximo e sempre priorizava Analua quando estava aqui.

— Manu, —chama— Posso cair por aqui pelo sofá? Queria dar atenção pra ela amanhã.

Pede, sem jeito

— E eu vou te mandar embora tarde da noite nessa chuva, Antony? —questiono, óbvia— Besta.

Fui até meu quarto para pegar cobertores, travesseiros e uma toalha. Sei que não é nenhuma cama comparado às dos hotéis que ele fica, mas Pamela nunca reclamou quando chegava bêbada e dormia por aqui.

— Aqui, boa noite.

— Valeu. —ele sorri, pegando os cobertores que o entreguei— Como você está?

Estranho, ele perguntando de mim?

Bem. —escondi os três pontos de interrogação que minha expressão fez— Você?

— Cansado. —fala— Mas bem.

— Que bom. —sorrio rápido— Preciso dormir, amanhã trabalho. Qualquer coisa me chama.

Aviso e ele assente, eu entrei totalmente no quarto após isso e o que acabou de acontecer? Eu hein...

analua ☾ antonyOnde histórias criam vida. Descubra agora