*ALERTA DE GATILHO*
Pule este capítulo se você é sensível a temas que envolvem extrema violência ou insinuações de violência doméstica.
GABRIELA
Depois do dia do meu aniversário as coisas parecem finalmente terem se acertado e voltando ao curso natural, é lógico que os beijos que trocamos no silêncio do meu quarto não tem nada de natural, mas o que eu quero dizer é que finalmente o Filipe voltou a frequentar o meu quarto e de bônus, agora podemos aproveitar muito os momentos em que estamos juntos.
É uma droga que na rua ele ainda continua a me ignorar, diz que isso é melhor, que não quer me envolver nas merdas que ele anda fazendo e muito menos quer que alguém saiba que eu sou importante para ele. Também disse que o Thiago não iria aceitar muito bem a situação e eu concordo plenamente com isso, meu irmão tem ficado cada vez mais protetor e enchendo cada vez mais o meu saco toda vez que eu saio de casa.
Apesar disso, estou tão feliz que mal me aguento dentro de mim.
É surreal pensar que menos de vinte dias atrás eu estava toda triste, vivendo de forma automática sem a presença constante do Filipe na minha vida e hoje, ele não deixa o meu quarto enquanto não tiver certeza de que peguei no sono.
Essa semana é o aniversário dele, vai completar dezesseis anos e eu, como uma idiota apaixonada, queria poder dar algo para ele tão especial quanto ele me deu.
Desde que ele colocou a correntinha no meu pescoço naquela noite, eu nunca mais a tirei. É algo tão lindo e especial que eu não tenho coragem e toda vez que eu olho para ela eu me lembro do quão perfeito foi aquele dia.
E é por isso que eu estou no shopping com a empregada do meu pai, para poder achar e comprar alguma coisa para ele.
*
Bati perna o dia inteiro até parar em frente a uma joalheria e encontrar o que eu estava procurando, uma corrente masculina de ouro com um "F" de pingente. Assim que bati o olho na peça sabia que aquilo era a cara do Filipe e que ele iria adorar.
Mandei mensagem para ele assim que cheguei na favela, mas até agora a mensagem não foi visualizada. Pensei que eu ia vê-lo na barreira, pois o seu turno hoje era o da tarde, porém eu me enganei, ele não estava lá.
Tomo um banho rápido e me arrumo com a intenção de ir até a quadra ver se o encontro lá. Talvez o Perigo tenha dado folga a ele e agora ele está se divertindo com os meninos enquanto joga bola. Ele sempre adorou futebol, me lembro que meu irmão e o Filipe beiravam o insuportável apostando quem era o melhor artilheiro em qualquer campeonato aqui na comunidade.
Pego meu celular e a sacola com o presente e desço as escadas correndo. A casa está vazia e silenciosa, o que me faz acreditar que o Thiago está com ele e minha mãe ainda não tenha voltado do serviço, tranco a porta e sigo em direção a quadra.
*
Estou frustrada, não o encontrei aqui na quadra e até agora ele não visualizou nenhuma mensagem. Não quero ligar, porque se ele estiver com o meu irmão o Thiago não vai entender e pode acabar desconfiando de alguma coisa.
Acho que vou dar um tempo por aqui mesmo e esperar para ver se ele aparece. Me sento em um banquinho e me distraio olhando para as crianças que estão brincando. O dia está bonito e o calor no Rio de Janeiro está de matar, como sempre, mesmo assim sinto um arrepio pelo meu corpo.
Olho mais uma vez para o celular e é quando escuto os fogos serem disparados no céu, meu coração dispara e eu sei que vem chumbo grosso pela frente.