Tempest

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Eu sinto meu corpo frio e molhado, como se estivesse submersa na água, é uma sensação estranha achar que eu estava desacordada mas ainda poder sentir os pingos de chuva caírem sobre mim... Chuva?

Abro meus olhos. O céu está escuro e parece o fim do mundo, eu estou presa numa tempestade? Como cheguei aqui? Não enxergo mais nada além de arvores por toda a parte, eu estou na floresta, me esforço para levantar do chão e um forte feixe de luz me chama a atenção.

É o farol!

Lá é um lugar seguro pra ficar numa tempestade. Eu caminho para ele e avisto um grande redemoinho formado do céu até o chão. Um tornado e eu nunca tinha visto de perto antes, estou com muito medo. A sucção puxa tudo em volta, e eu vejo uma forma de concreto caindo em minha direção.

Uau!

Eu estou dentro da sala de aula?!

Ok... Eu estou na aula... Tudo está bem... Eu estou bem...

Eu não estava dormindo, e isso não foi um sonho.

Ouço a explicação do Sr. Crowell mas não estou prestando atenção realmente.

- Camila, você poderia nos dizer quem é Henri Cartier-Bresson? -

Oh, droga, é a aula de historia da fotografia e eu não me lembro de nada. Como eu saio dessa?

- Eu sabia essa, mas meio que esqueci... - Digo.

O olhar do Sr. Crowell é tão irônico pra mim que eu posso até ouvir a trilha de risadas de friends no fundo.

Antes que ele possa responder o sinal toca.

- Ótimo, pessoal, até a próxima aula. - Ele diz. - É uma pena você ser tão insegura assim, Cabello. Você tem um dom, use-o.

Eu não sei se posso realmente acreditar nisso.

Eu estou tão aliviada que a aula acabou, eu estou tão cansada hoje e não consigo parar de pensar naquele sonho.

Assim que me levanto vejo Victoria debruçada na mesa do Sr. Crowell, ela é tão atirada e ele nunca daria bola pra ela, pelo simples fato de que ele é um ótimo profissional e não liga pra vadias atiradas.

Allyson está sentada a duas mesas a minha frente, ela parece triste hoje. No lugar dela também estaria, aquela amiga idiota da Victoria ficou atirando bolinhas nela durante a aula. Pego o papel amassado no chão e leio.

"Ally, adoramos o seu filme pornô. Xoxo"

O que isso quer dizer?

- Oi, Ally, você parece quieta hoje.

- Ah, oi Camila, eu só to um pouco cansada. - Ally diz.

- Você tá afim de tomar um chá comigo? - Eu estou com pena dela, talvez ela precise se animar.

- Hoje não, eu tenho lição de casa mas podemos ir outro dia. - Ela nem tenta sorrir, melhor deixar pra lá.

- Ok, até depois.

Caminho até os corredores de Blackwells, coloco meus fones de ouvido e vou em direção ao banheiro. Todos dessa escola parecem muito ocupados com suas coisas, talvez eu devesse parar de observar a vida deles e me concentrar em parecer ocupada também.

Eu preciso tirar um tempo no banheiro, lavar o rosto e tentar não parecer uma perdedora completa.

Vou até meu armário, tenho algumas fotografias coladas na parte de dentro. Eu amo essa foto da mamãe e do papai, eu não podia ter escolhido uma melhor pra olhar todos os dias.

Um folheto de Alexia Ferrer, uma garota de 19 anos que está desaparecida há alguns meses.

"Morena, olhos castanhos e tatuagem na panturrilha de dragão e uma estrela na parte interna do pulso esquerdo."

Ótimas informações sobre ela.

Vou na direção do banheiro, está vazio. Bom, ninguém para me ver entrar em colapso, exceto eu.

Respiro fundo e me olho no espelho.

Eu sinto o universo zombando de mim em todo o lugar que eu vou hoje, tudo começou com aquele sonho bizarro na aula... Eu estou ficando doida?

Lavo o rosto.

Pego a polaroide que tirei do mural de fotos no meu quarto. Eu preciso apenas relaxar e parar de me torturar, eu tenho um dom.

Olho para o papel nas minhas mãos, eu apenas deveria rasga-lo, eu enxergo tantas imperfeições nele, não consigo mais olhar.

Puxo as duas pontas daquilo em minhas mãos que logo viram dois pedaços de lixo no chão.

Talvez eu devesse desistir, eu não sou boa em nad... Me perco quando vejo a melhor chance de foto que vou ter na vida, uma borboleta azul pousa em um balde que estava encostado no canto do banheiro.

Ok, é realmente difícil achar uma foto assim todos os dias. Apos registrar a foto, ouço um barulho na porta.

Austin? Que porra é essa?

- Está tudo bem, Austin... Não estressa. Você está bem, irmão. Apenas conte até três. - Ele começa um monologo. - Não fique com medo... Você é dono dessa escola... Se eu quisesse, eu explodiria isso aqui. Você é o chefe.

O que ele tá fazendo no banheiro feminino e-

- Então o que você quer? - Ouço a porta mais uma vez.

Estou escondida na ultima cabine, não consigo ver quem é.

- Eu espero que você tenha vasculhado o perímetro antes, como um idiota diria. - É uma voz feminina e me parece familiar. Ela esta muito perto mas antes de chegar ao meu esconderijo, ela volta. - Agora, vamos falar de negócios.

- Eu não tenho nada pra você! - Austin diz.

- Errado, você tem muito dinheiro.

- Minha família tem, não eu.

- Ah, tadinho, que riquinho triste. - Ela zomba - Eu sei que você vem trazendo drogas para as crianças por aqui. Aposto que sua respeitável família me ajudaria se eu fosse falar com eles.

- DEIXE ELES FORA DISSO, VACA

- EU POSSO DIZER PRA TODOS QUE AUSTIN MAHONE É UM BABACA, QUE IMPLORA FEITO UMA GAROTA E FALA SOZINHO-

- Você não sabe quem eu sou ou com quem você tá mexendo, porra. - De repente tudo está muito tenso.

- Onde você conseguiu isso? O que você tá fazendo? - A garota diz com uma voz tremula agora. - Qual é, guarda isso.

O que é pra ele guardar???

- NUNCA me diga o que fazer. Eu estou CANSADO das pessoas tentarem me controlar.

Eu sinto que ele vai fazer uma besteira a qualquer momento, eu preciso olhar.

Coloco minha cabeça pra fora da parede e vejo Austin prendendo uma garota na parede e ele está com uma ARMA.

O QUE ELE VAI FAZER? ELE NÃO PODE FAZER ISSO

- O que você acha que vão pensar de você depois que descobrirem das drogas?

- NINGUÉM VAI DESCOBRIR.

- SAI DE PERTO DE MIM, SEU LOUCO. - Ela o empurra e o disparo é feito atingindo seu estomago.

A garota de cabelos pretos cai no chão.

NÃO!

Um grito agoniado fica preso na minha garganta. Eu preciso fazer alguma coisa, eu sinto que eu posso realmente ajudar.

Estendo minhas mãos, eu NÃO posso deixar isso acontecer, ela vai morrer.

Eu sinto minha visão turva, é como se tudo fosse parando ao redor de mim, Austin e a garota não me vêem.

Tudo volta como se eu estivesse rebobinando uma fita.

MAS QUE PORRA!

Eu estou na sala de aula outra vez.

***

Life is Strange » CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora