* * *
__ "Manda"?__ O senhor tentou pronunciar, o sotaque não irritou-o.
Sorriu, limpando as mãos perfeitamente límpidas no casaco estampado. Então cruzou os braços nas costas.
__ Mada, quase. __ Adiantou um passo__ É um nome simples, logo se habitua a ele.
O outro franziu o cenho, dizendo um "Que seja", mal humorado, finalmente abrindo a porta que era duas vezes seu tamanho.
Suspirou o sacerdote, não deixando de olhá-lo de canto de olho, notando arrepiado o rabo peludo que saia de suas calças. "Tudo bem, já esperava por algo assim.. acho."
Chegou no salão, finalmente relaxando a face, o sorriso se rebaixando, olhando aquele lugar de cima abaixo, como que para se certificar o que havia mudado desde.. sorriu novamente, unido a um arrepio de corpo inteiro. "Eis uma imagem singular..". Pensou, sem conter a surpresa.
Dos lados opostos de uma pequena mesa de centro, um tipo de jogo de peças talhadas em osso, não reconhecia, dois arcos grandes e extravagantes sob seus pés, duas figuras de que não se pode desviar os olhos. O homem, completamente vestido de negro lhe lembrava um daqueles mercenários andarilhos da Neve, tinha os olhos rígidos e a leve cicatriz o fazia parecer mais assustador e velho do que provavelmente era. Tinha ares de inteligência, enquanto a outra... era bela. Estonteantemente bela.
Ouvira muitas palavras a seu respeito. Cruel. Se destacava em negrito. Mada era um homem viajado, entendia de culturas, reis, nobres, como um mundo vasto pode surpreender, então quando soube o que acontecia atualmente no Palácio d' Névoa, o quão singular era pensar que um dia veria... Myr cair. Aquele orgulhoso Myr de peito estufado, não cairia tão facilmente, pensou, incrédulo, virando uma dose de vinho tyl nas montanhas de gelo. A viagem foi agradável, e não em menos de algumas semanas ele já estava atravessando o Reino. Coincidentemente tinha negócios a tratar em Askar, sua curiosidade o arrastou para a fronteira. Precisava ver.
Bem, então ele viu.
__ O que acha?__ Enquanto os observava, falavam sobre algo que Mada ainda não identificava no tempo que permaneceu ali. E tão pouco se importaram em desfazer a conversa quando ele entrou.
Conversavam em askardi perfeito, notou.
__Isso me parece coisa daqueles sacerdotes negros__ Mexeu uma das peças pintada de preto.__ Já os vi antes, mas não imagino pra quê servem.
__ Viu nos seus estudos na Vyrene?__ Havia malícia nos lábios dela, um sorriso que fez Manda desviar os olhos.
E diferentemente do que o fizeram pensar, não havia humanos acorrentados andando em fileiras para pilhas de chamas, homens com machados do tamanho de torres arrastando casas e árvores com um movimento, e muito menos aquela mulher lhe parecia um demônio de dez chifres cuspidor de veneno e devoradora de criancinhas. Era quase humana, o rosto, o corpo.. claro, nenhuma mulher humana se vestiria daquela forma, talvez alguma tribo selvagem distante do reino, mais ali.. Era imponente, para uma mulher.
"O reino do Fogo Eterno agora está sendo regido por uma, mas.. é diferente." Olhando para aquela mulher, ele sentia que..
__ Não é isso que faço lá...__ Suspirou. Manda encarava o homem com curiosidade, parecia íntimo, e a forma como olhava pra ela.. "Um amante, talvez?". Bem, não era incomum para reis, então por que seria para uma rainha... Pensou consigo. Cada vez mais interessado no que acontecia ali.
__Você nunca me disse exatamente o que faz lá. E não precisa dizer, eu não vou aprovar de qualquer forma. Ter ido pro lado daquele homem..__ falava num tom que rangia, havia mais do que raiva naquelas palavras, mesmo que sua voz fosse tão neutra.__ Você sempre teve tudo o que precisava ao meu lado, meu primeiro cavaleiro de Honra... Mesmo assim__ Moveu a peça branca, um tanto mais alegre, mas Mada tinha a impressão que estava perdendo__ Eu virei as costas e você.. deslizou de meus dedos.
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𝐒𝐮𝐩𝐞𝐫𝐟í𝐜𝐢𝐞 - Coroa de Sangue e Névoa
FantasyDiriam que esta seria uma história sobre heróis. Mas quem seria o verdadeiro herói? os deuses estão mortos. Ezz carrega a coroa pesada de um caído entre destroços, do outro, Myr entrega a seu povo o desespero de um trono vazio. O mundo está em cha...