Capítulo XI - No Mito, Uma Verdade

13 0 0
                                    

Myr


"Entre as paredes maciças, seus rostos cravados revelam histórias de uma época de sangue e glória, medo e descoberta. Um dos corpos a descansar debaixo das grandes pedras não seria ninguém menos que o invencível e inigualável protetor das margens, o não-destronado, Irme, o último Imperador de Askar".

Marcando as páginas com uma fita vermelha, o jovem coça o canto do olho, partindo para o próximo parágrafo, porém desta vez, de um manuscrito tão amarelo que parecia a ponto de se desfazer nos dedos.

__ Aquele sore estranho... Onde alguém encontraria algo tão raro com facilidade assim?__ Riu sozinho, deslizando o polegar pela ponta da página áspera__ felicitado seja o clero e suas regalias... Se não fosse pelo celibato poderia me alistar.

Reclinou-se, esticando as costas largas, iniciando a sentença com o entusiasmo de uma criança.

"Os Artefatos da Rumba Submarina - ou o tesouro do deus afogado - nunca se soube onde exatamente se encontravam tamanhos mistérios, ou se mesmo eram reais, entretanto, houveram registros do escudo flamejante dourado em inúmeros escritos de velhos askardianos, as lâminas gêmeas do filho desertado, além da primeira dos tesouros, a magnífica lança real, um tesouro dito capaz de cortar montanhas ao meio-"

Com dedos ágeis, o jovem se reclinava, mudando de página ao som do murmúrio de seus lábios, absorvendo cada sentença com a efervescência de seu olhar curioso, alternando de manuscrito com a concentração firme de quem está acostumado a estudar inúmeros assuntos ao mesmo tempo.

"Entre as estátuas cravadas da tumba do rei, seus irmãos e entre eles seus protetores, a beleza do vale se alastrava, com monumentos tão antigos quanto os próprios espíritos da floresta."

Ali próximo, os passos firmes de Alej ecoam estrondosos, em sua face brilha uma ruga de preocupação; está irritado. Assim que abriu a porta sem se preocupar com a brutalidade, suspirou brevemente, olhando ao redor, mesmo com o alarde, o jovem a sua frente sequer se mexeu, totalmente concentrado e inclinado sobre um manuscrito.

A cena não era uma novidade para o príncipe, quantas vezes encontrara o irmão gastando horas afinco em textos históricos e mitologias inúteis, em vez de comparecer as suas obrigações na corte? Decorar as leis de seu povo? Em vez de obedecer as ordens de seu pai e agir como um futuro rei? Um uso mais útil de sua inteligência.

Os dois eram tão diferentes, era difícil entendê-lo, mesmo que o admirasse pelas suas imensas qualidades com escrita e leitura, sempre acabava tropeçando na pedra de sua falta de responsabilidade.

Caminhou mais calmamente, tentando não tropeçar em algumas pilhas pelo caminho.

__ Eu disse pra você ir me encontrar hoje__ Apoiou as duas mãos na mesa, fazendo a madeira tremer__ E era isso que estava fazendo?__ Olhou para o título do texto__ "A magnificência das estátuas do vale da Primavera"? É sério?

__ Você disse?__ Sorriu, ignorando o mal humor do jovem__ Acho que estive muito ocupado mesmo...__ A voz arrastada continha aquela pitada de humor muito mal disfarçado, que faria o sangue de qualquer um ferver. E Alej não era do tipo que ignorava esses pequenos detalhes facilmente.

Myr era franzino e sincero, um tanto sarcástico, mas a juventude fazia lhe cair bem, perdoava aquele tom, a sua preocupação maior de Alej era quanto o futuro, o que faria de si com aquela personalidade problemática? Um rei não podia ser tão desapegado a tudo... Que significava ser um rei. Havia uma imagem, sendo verdadeira ou não, o irmão precisava crescer.

𝐒𝐮𝐩𝐞𝐫𝐟í𝐜𝐢𝐞 - Coroa de Sangue e NévoaOnde histórias criam vida. Descubra agora