2

67 8 111
                                    

"Aquele dia Yuji fez uma pergunta que o pegou de surpresa pela primeira vez. Não teve como olhar em seus olhos e mentir, de novo. A pergunta foi tão instantânea e tão desesperada pela verdade, que não Megumi não pensou em nada a não ser contar toda a verdade."

Megumi Fushiguro chegou no hospital depois de uma discussão longa com seu pai. Mesma coisa de sempre, ele já deveria estar acostumado com essas briguinhas idiotas. Pelo menos, essa serviu para ele se esquecer da besteira que disse anteontem.

Ao passar pelo balcão, anunciou o nome para visita. Disseram que Yuji estava dormindo e a enfermeira Aiko quem liberou a passagem para Megumi. Sua expressão aquela tarde o deixou preocupado. Aiko estava séria e nada descontraída como sempre costumava estar.

Aiko havia pegado um apego que não deveria pelo paciente do quarto 22. O jeito como Itadori estava sempre sorridente e alegre. O modo como ele conversava e puxava vários assuntos sempre querendo saber mais sobre a vida da jovem enfermeira a deixava feliz. Afinal, Yuji tinha esse efeito nas pessoas.

É incrível como só chegar perto do garoto você se torna mais confortável, seguro. Megumi sabia muito bem como era essa sensação e demorou para ele se deixar acolher pela alma pacífica e repleta de felicidade de Itadori.

A partir do momento que viu a expressão de Aiko aquele dia, sabia que tinha algo errado. Mais errado ainda.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, deixando que a apreensão tomasse conta de meus pensamentos. O que mais de ruim a enfermeira poderia dizer?

Ela parou de andar e se virou com cuidado para encarar o rosto do moreno. Em seus olhos negros como a noite, lágrimas se prendiam e seus lábios rosados tremiam. Aiko manteve a postura, contudo.

— Yuji não vai melhorar.

As pessoas que atuam nessa área tendem a não mostrar tanta empatia. Precisam apresentar o real cenário e a real situação que está ocorrendo. São pessoas que costumam ser diretas, não importa se é uma notícia boa ou uma ruim.

E isso não surpreendeu Megumi nem um pouco, a seriedade nas palavras.

Ele engoliu em seco, esperando que ela continuasse a dizer seu pesadelo.

— Ele teve uma crise feia essa madrugada. — As palavras eram ditas de forma fria, crua e sem filtro algum. Até mesmo Aiko, que sempre brincava podia falar tão sério. — Eu não sei quanto tempo ainda resta.

Não dá para saber quando Megumi começou a morder o lábio inferior e arrancar pedacinhos de pele. Não dá para saber quando voltaram a andar e ele escutou o choro de Aiko reverberar pelas paredes daquele corredor esbranquiçado. A única coisa que dava para saber era o inevitável, o tempo estava acabando. Estava se esvaindo cada vez mais, como um pequeno grão de areia escorregando em uma ampulheta.

Seus músculos haviam se tensionado só de ouvir os suspiros da enfermeira.

E agora estavam parados na frente do quarto dele. O cabelo rosa jogado pelo travesseiro e o cobertor cobrindo até o seu pescoço.

Aiko tampou a boca para não acordar Itadori com o barulho. Ela não consegue ficar mais que dois minutos, sai sem se despedir ou manejar a cabeça. Megumi a observa dar uma corridinha e virar o corredor.

Ele respira fundo e conta até dez antes de entrar no quarto.

Se senta na cadeira a sua frente e encara o rosto sereno de Yuji. Itadori parece um anjo dormindo tão sereno e despreocupado. Não há uma linha de expressão, uma única ruga. Por alguma razão, Megumi sente uma vontade irresistível de tocá-lo.

(parada) Rises The Moon, ItaFushiOnde histórias criam vida. Descubra agora