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Alissa Blanc
Eu costumava planejar tudo.
Quando tinha uma viagem, escolhia todas as roupas, sapatos e acessórios pra cada dia que eu ficasse fora.
Gostava do controle, saber exatamente o que eu tenho pra fazer e planejar meu dia em cima disso.
E eu não era feliz fazendo isso.
Não era porque praticamente toda a minha vida foi baseada em desejos e escolhas de outras pessoas.
Abdicar do meu sonho de cursar fotografia? Decisão do meu pai.
Faculdade de Engenharia Mecânica? Decisão do meu pai.
Ser filha única? Decisão do universo.
Agora, ter um filho? Irresponsabilidade minha.
Meu pai nunca escondeu que Tristan era o filho preferido. Ele lutou muito pra que meu irmão tivesse todas as oportunidades possíveis, e ele tinha todo meu apoio, Tris era talentoso, não tenho dúvidas de que teria sido um campeão mundial.
Minha família ficou destruída quando o perdemos. Eu fiquei destruída, minha mãe entrou em negação e até hoje sinto falta da pessoa que ela era antes da tragédia.
Todos sentimos falta de quem éramos antes.
Tudo mudou depois daquilo.
Meus pais passaram por uma crise no casamento e só anos depois eles conseguiram se reencontrar, mesmo que minha mãe odeie o trabalho do meu pai.
Pietro Blanc aceitou ser chefe de equipe da Scuderia Ferrari, isso porque o maior sonho do meu irmão era chegar à equipe. E meu pai queria que eu honrasse a memória dele, indo trabalhar na Scuderia como engenheira.
Mas esse nunca foi meu desejo.
A nossa relação começou a definhar quando contei a ele após a formatura, que não seguiria minha profissão. Foi difícil o fazer aceitar essa decisão, e tudo começou a ficar estranho mais uma vez.
Tristan e Charles eram muito próximos, o monegasco era o protegido do meu irmão e por termos idades próximas, passávamos muito tempo juntos, passamos pelo luto juntos e acabamos nos apaixonando.
Mas Charles estava longe de ser perfeito e pra não perder meu melhor amigo, colocamos um fim no relacionamento de anos, e mais uma vez, meu pai odiou essa decisão.
A relação que já estava péssima, piorou mais ainda quando após uma noite depois do Grande Prêmio de Mônaco, eu conheci um cara que ficaria ligado pra mim pro resto das nossas vidas.
- São os três minutos mais longos do mundo - resmunga Charles -.
- E você andando de um lado pro outro não está me ajudando nem um pouco - devolvo impaciente -.
- Estou nervoso ok - confessa sentando ao meu lado -.
- Eu não sei porque, se eu estiver mesmo grávida, nem pode ser seu - me irrito -.
- Ei, não precisa agir assim - pede segurando a minha mão -. Eu não estou nervoso pela possibilidade de ser pai, a gente sabe que não é meu, terminamos a bastante tempo. Mas eu estou nervoso por você, porque eu sou seu melhor amigo e eu quero saber como te ajudar caso esse teste de - eu o interrompo -.
- Positivo - digo com o teste em mãos -.
- Positivo - sussurra -. Alissa...
- Eu estou grávida Charles - engulo em seco -.
Sou envolvida pelos braços do meu melhor amigo, que beija o topo da minha cabeça enquanto sinto meu rosto ser tomado por lágrimas.
- Que droga, como eu deixei isso acontecer - sussurro -. Burra Alissa, burra.
- Ei - ele ergue meu rosto -. Nada disso, você não fez esse filho sozinha, essa responsabilidade não é só sua. E você não está sozinha, eu vou estar ao seu lado.
- O que eu faço agora?
- Agora a gente vai jantar, descansar e amanhã você decide o que quer fazer, ok? - concordo -. Mas Ali, se eu fosse o pai, eu iria querer saber.
- E se... e se ele não - engulo em seco -. Eu não consigo fazer isso sozinha Charlie.
- Já disse Ali, você não está sozinha - garante -. Mas a decisão é sua.
- O que o Tris me diria agora?
- Conhecendo-o como eu conheci, ele te abraçaria - Charles me abraça mais uma vez - e diria que você é a mulher mais incrível que ele já conheceu, que iria te apoiar em qualquer decisão e que sabe que se você decidir ter esse bebê, vai ser a melhor mãe do mundo pra ele.
- Esse era nosso sonho Charles, eu e você - ele concorda -.
- Mas as vezes as coisas não são como a gente sonha, não é? - ele sorri fraco -. Eu não era o cara certo pra você e nós dois sabemos disso. Você merece mais Alissa e eu fico feliz de ser o tio legal, de ser o seu melhor amigo.
- Eu te amo, sabe disso, não sabe?
- Sei - recebo outro beijo na testa -. E eu também amo muito você.
- Tenho medo do meu pai - confesso -.
- Pietro não é muito fã das suas escolhas.
- Às vezes eu acho que ele me odeia - solto um riso nasal -. E tenho certeza que ele preferia que eu tivesse morrido no lugar do Tristan.
- Nunca mais diz isso Alissa - Charles briga -. O seu irmão amava você e odiaria te ver dizendo isso. Você era o amor da vida dele e sabe disso, e seu pai te ama também, só não sabe demonstrar isso.
- Eu não quero estar sozinha quando ele descobrir.
- Vou estar com você - garante -. Só precisa me avisar, que eu vou estar com você.
- Mas antes do meu pai, tem outra pessoa que tem que saber antes.
- Isso é uma decisão Alissa? Você vai ter esse bebê.
- Nunca foi uma opção não ter Charlie - confesso -.
- E onde está essa pessoa? - respiro fundo -.
- Em Manchester, na Inglaterra.
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