Impetus: O inferno de gelo

❆ Prólogo ❆

- Corram, CORRAM! INVASORES!

- PROTEJAM-SE!

Aqueles gritos ecoavam por todos os lados, misturados ao sons de lâminas se chocando, explosões que destruíam as humildes casas, e berros de dor e agonia. Aquela mistura de ruídos era tão estridente que todos do vilarejo podiam ouvir, e assim, se preparar para o que estava vindo.

Aquele local, uma vez considerado pacífico e acolhedor, agora estava mergulhado em ruína. Era possível observar o terror no olhar de cada cidadão do único vilarejo da ilha de Nordrhein, localizada à noroeste da costa de Impetus. Pela primeira e também última vez, estavam sendo vítimas de um ataque.

Um numeroso grupo de homens encapuzados - vestidos em roupas pretas e bastante ricas em detalhes roxos na costura - adentrava cada parte da pequena vila, destruindo tudo e todos que estavam pela frente. Qualquer pessoa que os visse conseguia sentir uma energia mágica e maligna emanando de cada um deles, que se manifestava principalmente através de suas lâminas e de seus olhos vermelhos.

Porém, essa aura sombria, por mais que fosse visível, não era assustadora aos olhos, e sim à alma de quem a enxergava. Aquela coisa parecia se impregnar no corpo de quem estava por perto, enfraquecendo seu organismo e extinguindo todos os resquícios de sentimentos bons, até que nada restasse, nem mesmo a esperança; e o pior era o fato daquela energia se intensificar ainda mais conforme cada vida era ceifada por suas lâminas amaldiçoadas.

Aquilo fortalecia demasiadamente aqueles invasores, a ponto de nenhum combatente ser capaz de conter a força deles, nem mesmo os clérigos do templo da deusa Auriyn, a padroeira do vilarejo.

- SABEMOS QUE ESTÁ AQUI. TRAGAM-NO AGORA! - Exclamou um dos encapuzados, enquanto sua foice negra decepava o braço direito de um dos combatentes, em um corte extremamente rápido e violento.

- E talvez nós deixemos o resto de vocês viverem, seus vermes! - Complementou outro, em meio a gargalhadas estridentes, que se sobressaiam apesar do barulho ensurdecedor da batalha.

Ao longe, encobertos pela sombra das paredes de pedra clara do templo de Auriyn, encontravam-se o alto sacerdote e seu aprendiz.

- Ó céus, se essa situação continuar assim, não restará ninguém sequer de vosso povo - Sussurrou o homem, com um visível tom de preocupação e desespero na voz - Você precisa fugir daqui agora... Não temos como conter isso... - Complementou, enquanto retirava sua própria capa e arremessava-a para o garoto ao lado. Em seguida, desembainhou cuidadosamente sua espada curta.

- Não, eu não vou! - Exclamou, mas os barulhos em sua volta eram suficientes para encobrir seu tom de voz - Nós precisamos defender a vila, e eu preciso proteger meus pais... Não foi para isso que me treinou esse tempo todo?!

- Hayden - Disse calmamente - Você é só uma criança, não está pronto para isso. Nem mesmo alguém como você consegue conter eles. Esse poder maligno que eles emanam... - Ele engoliu em seco - É forte o bastante para massacrar qualquer um que ouse desafiá-los.

- Eu sei, mas é a minha família. Eu não vou embora sem eles!

- Você precisa ir, garoto - Os olhos do sacerdote fitaram o menino, exibindo toda sua compaixão e orgulho, mas também sua tristeza. Sentia que aquela era enfim a despedida.

- Escute, você é o bem mais precioso deste lugar. Uma verdadeira bênção dos deuses. Você precisa sobreviver, para concretizar as grandes coisas as quais você está destinado a fazer. Não se preocupe com seus pais, eu os protegerei com minha própria vida. E você, precisa prometer para mim que vai fugir e se esconder. Esta é sua última lição...