NA ASSEMBLÉIA SINISTRA

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Eu fiquei sem saber o que fazer. Já era madrugada quando um ser de aparência horrível surgiu na porta do mausoléu e chamou-me.
_ Siga-me barão, o Príncipe mandou busca-lo.
Eu o acompanhei. Descia os degraus com dificuldade, pois era-me difícil articular as pernas. E a escada era interminável. Algum tempo depois, vi um portal negro guardado por dois antigos soldados romanos. Tinham uma aparência que impunha medo a quem os visse. O meu guia falou algo e um deles, abriu o portal. Entramos e eles fecharam-no às nossas costas com um

barulho enorme. Estávamos numa sala escura. Algumas tochas iluminavam o seu interior. Era bem espaçoso o lugar. Caminhamos até uma porta vermelha em que o guia bateu de modo ritmado. Alguém veio e por uma portinha me perguntou:
_Barão, quer entrar na nossa assembléia ou voltar à sua tumba?
Só de pensar no horror que passei em seu interior, gelei.
_ Não quero voltar àquele lugar horrível, quero entrar na sua assembléia.
_ Lembre-se que, após esta porta não haverá retorno: ou servirá ao Príncipe ou sofrerá as conseqüências.
_ Eu já me decidi, quero entrar.
_ Não poderá pronunciar nenhum dos nomes lá de cima.
_ Eu já sei disso. Já fiz um juramento pelo que reina nas Trevas.
_ Pois então, que seja bem vindo à nossa assembléia.
E ele abriu a porta. A visão do grande salão me imobilizou. Aquilo era o inferno e eu ia adentrá- lo. Sem coragem para retornar à minha tumba, fiquei sem saber o que fazer.
_ Aproxime-se, barão. Nós estamos ansiosos por conhecê-lo _ falou um ser demoníaco sentado num trono.
Como eu não conseguia me mover, fui atirado aos seus pés. Tentei me levantar, mas uma chicotada manteve-me no solo.
_ Quieto, idiota. Você só vai se levantar quando assim for ordenado.
E recebi uma outra chicotada. Os entes infernais se divertiam às custas de minha dor. "Quanta estupidez!", pensei eu. Isto foi algo que eu não devia ter pensado. As chicotadas foram tantas que nem lembro do quanto apanhei. Quando o carrasco parou de me chicotear o Príncipe falou:
_ Eis o novo escravo que adquiri, Maioral. Caso o queira eu lhe dou de presente.
_ E para que eu iria querer um inútil como ele? Só sabe chorar e clamar por socorro.
Coragem, não possui e além do mais se julga um infeliz por estar aqui. Para mim não serve, fique com ele para você, Príncipe, eu lhe dou. Faça o que bem entender com este traste inútil.
_ Posso oferecê-lo para os outros membros, Maioral? _ Sim Príncipe. Quem sabe alguém possa usá-lo.

_ Então vou leiloá-lo, barão! É um escravo mesmo, talvez consiga algo interessante por você.
E ele me ofereceu a todos aqueles seres horríveis. Muitos ofereceram pessoas vivas em troca; outros, riquezas ocultas e muitas outras coisas que eu nem vou citar. A tudo o Príncipe recusava.
Somente quando um ser com a aparência de uma grande cobra ofereceu uma linda jovem em troca, o Príncipe aceitou. Um ser com cabeça de cobra levou-a até o Príncipe e a entregou. Ele agarrou todo feliz. O que fez não vou dizer-lhe, mas fiquei chocado. Foi passada uma corrente em meu pescoço e fui entregue ao ser com aparência de cobra. Gritei que não era justo o que estavam fazendo comigo. Eu havia entrado ali para me livrar das cobras e novamente ia para junto delas. Tornaram a me chicotear. Calei-me por precaução. Era melhor aguardar os acontecimentos. Logo a assembléia terminou e todos foram se retirando.
O Príncipe continuava com a jovem. Ela já não era mais a mesma. Ele havia esgotado toda sua juventude em pouco tempo. Quanto a mim, fui arrastado por meus novos donos. Entraram por uma porta negra e me levaram junto. Não sei quanto tempo demorou, mas quando chegamos a um lugar fétido, fui
acorrentado a uma parede com argolas. O tempo não contava ali. Um dia fui levado até o amo.
_ Venha cá, escravo, tenho um trabalho para você. Alguém me pediu ajuda e pagou bem por isto. Você executará a tarefa para mim. Caso falhe, as minhas cobras o atacarão. Foi conduzido até onde tinha que fazer o trabalho em poucos instantes, diria em alguns segundos. Um daqueles que me conduziam explicou qual era a tarefa. Teria que induzir uma jovem a se entregar a um homem de aspecto asqueroso. Ou fazia o trabalho, ou as cobras me atacariam. Procurei saber como agir e recebi instruções. Foi até fácil a tarefa. Assisti a tudo, pois eu
agia no subconsciente dela. Não teve forças para resistir aos calafrios do homem. Eu vi tudo e até me excitei com aquelas cenas. Por diversos dias agi daquela forma, até que ela se tornou dependente dele. Quando tinha domínio sobre ela fui levado de volta.
_ Muito bem, barão, trabalhou bem. Vamos, hoje iremos receber uma oferenda e você poderá participar. Eu fui acorrentado até o lugar. Novamente chegamos em instantes. Vi uma bruxa velha fazer uns riscos no chão, chamar o meu chefe e dar-lhe uns presentes. Ele colheu no astral a sua parte e o resto os outros pegaram para si. Eu fiquei de fora, pois temia incomodar aos outros.
_ Vamos barão, não tema, ninguém irá molestá-lo na minha presença.
Consegui pegar algo para mim sem que ninguém ligasse por eu entrar no meio.
_ Venha barão, tenho um trabalho especial para você. Eu o segui. Já não era arrastado, mas ainda continuava com a corrente no pescoço. Pouco depois, não sei como, estávamos em um castelo, num quarto com uma bela moça.

O GUARDIÃO DA MEIA NOITE Where stories live. Discover now