Alfa (Mini Book)

Capitulo 3

Os dias seguintes foram preenchidos por uma atmosfera de novidades e luxos para a família Bucker. A nova casa era espaçosa e elegante, um contraste impressionante em relação à antiga realidade deles. Oliver e Lilian estavam deslumbrados com cada detalhe da residência que agora chamavam de lar.

Contudo, por trás da fachada de felicidade e prosperidade, Lilian começava a nutrir inquietações. O mês passado trouxe transformações rápidas demais, e as revelações de Oliver sobre a promoção e os ganhos substanciais levantaram dúvidas em sua mente. Ela ponderava sobre a abrupta mudança na fortuna da família e se questionava sobre os reais motivos por trás do que parecia ser um conto de fadas moderno.

Uma noite, enquanto o casal jantava na suntuosa sala de jantar, Lilian decidiu confrontar Oliver sobre suas preocupações. A luz suave das velas iluminava o ambiente, criando uma atmosfera ao mesmo tempo aconchegante e tensa.

— Oliver, precisamos conversar. - Lilian começou, desviando o olhar da refeição.

Oliver levantou os olhos do prato e fitou a esposa, notando a seriedade em seu semblante.

— Claro, meu amor. O que está acontecendo?

— Não posso deixar de me perguntar sobre toda essa reviravolta em nossas vidas. Esse dinheiro, essa casa... Não parece real, Oliver. E essas revelações de que você está ganhando tanto assim, subitamente, me deixam inquieta.

Oliver suspirou, entendendo a apreensão de Lilian. Ele ponderou por um momento antes de responder.

— Eu sei que tudo aconteceu muito rápido, Lilian. E eu entendo suas preocupações. Mas há algo que não lhe contei.

Lilian franziu a testa, esperando uma explicação.

— Jack Anderson, o antigo chefe, está em uma situação complicada. Ele me propôs uma espécie de acordo para proteger a empresa e, de certa forma, nossa família. Ele está enfrentando ameaças sérias, e eu concordei em assumir a empresa temporariamente, até que as coisas se acertem.

A expressão de Lilian tornou-se ainda mais séria.

— Mas casar nossa filha com o filho dele faz parte desse acordo? - questionou ela, buscando entender a complexidade da situação.

— Sim, infelizmente. Foi a condição que ele colocou para garantir que eu tenha o controle da empresa. Eu sei que é difícil de aceitar, mas pensei que seria a única maneira de proporcionar um futuro estável para nós.

Lilian ficou em silêncio por um momento, processando as informações. Por mais que amasse Oliver e desejasse o melhor para a família, o peso das decisões tomadas em seu nome começava a pesar sobre seus ombros.

— Oliver, eu entendo que você queria o melhor para nós. Mas casar nossa filha como parte de um acordo de negócios... isso é ético? Não deveríamos estar buscando um caminho mais honesto?

— Eu sei, Lilian. Eu me sinto dividido entre o que é certo e o que é necessário. Talvez tenha cometido um erro, mas acredite, eu só queria te proporcionar uma vida melhor.

Lilian olhou nos olhos de Oliver, sua expressão revelando uma mistura de desaprovação e preocupação.

— Oliver, eu entendo que você quer o melhor para nós, mas... não podemos construir nosso futuro sobre algo que vai contra os nossos princípios. Esse acordo, esse dinheiro, todo esse luxo... Eu temo que um dia isso vá ser a ruína da nossa família.

Oliver baixou os olhos, sentindo o peso das palavras de Lilian. Ele sabia que as decisões tomadas tinham implicações profundas, mas a perspectiva de proporcionar uma vida confortável para sua família o havia cegado para as possíveis consequências.

— Eu sei que você está preocupada, Lilian. Eu também estou. Mas acredite, eu faria qualquer coisa para garantir que nossos filhos tenham oportunidades que eu nunca tive.

Lilian respirou fundo, buscando as palavras certas.

— Oliver, eu não quero que nossos filhos cresçam em um ambiente onde o dinheiro dita as regras e compromete a integridade da nossa família. Eu quero que eles aprendam valores sólidos, que saibam o verdadeiro significado de conquistar algo com esforço e honestidade.

Oliver suspirou, compreendendo as preocupações de Lilian, mas a insegurança sobre o futuro ainda pairava.

— Lilian, você gosta de ser pobre? É isso que você quer para o futuro dos nossos filhos? Uma vida de luta e dificuldades?

A pergunta de Oliver ecoou na sala silenciosa, deixando Lilian em um dilema interno. Era difícil aceitar a volta à vida de privações, mas ela sabia que a riqueza conquistada de maneira questionável também trazia seus próprios fardos.

— Não se trata de gostar de ser pobre, Oliver. Trata-se de construir algo sólido e verdadeiro, mesmo que leve mais tempo. Eu quero que nossos filhos cresçam sabendo que o amor e a honestidade são mais valiosos do que qualquer riqueza material.

Oliver assentiu, refletindo sobre as palavras de Lilian. O dilema moral se desenhava diante deles, e as escolhas feitas nos últimos meses pareciam cada vez mais difíceis de justificar.

O telefone residencial rompeu o silêncio tenso da sala. Lilian e Oliver trocaram olhares apreensivos antes que Oliver se dirigisse até o aparelho e atendesse.

— Alô? - disse Oliver, sua voz denotando nervosismo.

A voz de Jack Anderson ecoou do outro lado da linha, tornando o ambiente ainda mais tenso.

— Oliver, preciso que venha ao escritório imediatamente. Temos alguns detalhes para acertar.

A notícia deixou Oliver visivelmente desconfortável. Ele olhou para Lilian, tentando manter a calma.

— Tudo bem, Jack. Estarei aí o mais rápido possível.

Assim que desligou o telefone, Oliver virou-se para Lilian com uma expressão de preocupação.

— Lilian, eu... preciso ir ao escritório resolver alguns assuntos. Parece que há alguns detalhes que ainda precisam ser acertados.

Lilian, embora frustrada, concordou com um aceno de cabeça. A situação começava a escapar do controle e ela sentiu uma pontada de desespero.

— Tudo bem, Oliver. Vá resolver o que precisa. Mas por favor, não se perca nesse labirinto de decisões questionáveis.

Oliver, encarando a esposa, percebeu a gravidade nas palavras dela.

— Eu prometo, Lilian. Vou resolver isso e voltar o mais rápido possível.

Assim que Oliver saiu pela porta, Lilian desabou no sofá em um choro inquietante. As lágrimas expressavam uma mistura de frustração, medo e a sensação de ter perdido o controle sobre a própria vida. O sonho de uma vida melhor, que parecia tão próximo, agora se transformava em um pesadelo de incertezas.

O vento suave da noite sussurrava lá fora, enquanto Lilian se permitia liberar as emoções reprimidas. O dilema que se desenrolava ao redor da família Bucker tornava-se cada vez mais complexo, e Lilian se via perdida em meio a escolhas difíceis.