Prólogo.

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                '📽  RODRIGO SANTORO ;

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                '📽  RODRIGO SANTORO ;

Ouvia as reclamações da minha mãe durante o almoço, quase todos os dias. Ela falava mal do meu pai, que não tinha como se defender pois estava trabalhando. Em como seria mais simples se ele aceitasse o emprego na empresa do meu avô que ficava no Rio de Janeiro. Acontece que meu pai gostava de levar aquela vida tranquila em Petrópolis. Ele era caixa em uma lojinha de conveniência que ficava no centro, mas o que sustentava a casa eram os meus cachês como ator mirim.

Minha mãe, Amélia, era uma mulher de pura ganância, muito egocêntrica também. Ela não trabalhava, foi uma modelo fracassada, mas era de família rica. O que aconteceu foi que ela caiu no papo do pé rapado do meu pai, que sempre teve uma maldita lábia. Mas naquela manhã, em especial, ela estava "diferente". Ainda me lembro quando ela disse.

— Sinto que finalmente seu pai aceitará a oferta do seu avô. — tragava um cigarro.
— Como mãe?— ergui uma de minhas sobrancelhas.
— Não faça pergunta, apenas arrume a sua mala.— ela respondeu friamente.
— Não vamos a nenhum lugar. Ou vamos? — a indaguei, bebendo um copo d'água.
— Você é tão tapado quanto o imbecil do seu pai, garoto. — ela disse em um tom agressivo, franzindo o seu cenho, mamãe sempre foi assim.— Já disse, não repetirei. Arrume suas malas, imbecil.

Não a contrariei, apenas subi para o meu quarto e arrumei tudo em uma mochila. Quando terminei, esperei mamãe tirar um cochilo e fui ao encontro da minha melhor amiga. Não sei se poderei citar o nome, mas eu não quero problemas, por isso direi um nome fictício. A chamarei de Jo. Ela foi a minha primeira amiga, assim como eu era o seu, eu acho. Éramos muito novinhos, eu tinha quatorze e ela doze. Ela era a garota mais incrível que já havia conhecido. Seus cabelos eram em um castanho médio ou claro, olhos castanhos, tinha a pele clara, bochechas rosadas e um humor duvidoso.

Éramos muito próximos. No dia que tudo aconteceu, fomos andar de bicicleta em um parque. Ela era muito veloz. Ríamos como bobos, até que a alcancei e deixamos a bicicletas de lado. Pulamos a cerca, em uma divisa que dava para um pequeno lado e ficamos observando os patos. Ela se encostou em meu ombro e a perguntei:

— E se um dia tudo isso acabar?

Ela me olhava confusa e riu nasalado.

— Um dia as coisas se acabam. Elas simplesmente precisam acabar.— a menina me olha nos olhos.
— E qual o sentido? Por que as coisas precisam acabar?— disse com essa tremenda dúvida, porque quando somos jovens temos mais perguntas do que respostas.
— Porque outras coisas precisam se iniciar.— disse Tânia mais uma vez, como se fosse uma enciclopédia humana.— Minha vez, o que você quer ser quando crescer, Digo?— "Digo" era a forma que ela me chamava.
— Um ator.— sem sombras de dúvidas eu a respondi.

Mesmo fazendo papéis menores, sempre adorei atuar. Eu era ouvido, validado e notado. Aquela foi uma das minhas últimas conversas com Tânia. No mesmo dia, minha família decidiu se mudar para investir na minha carreira e, sim, meu pai aceitou um cargo na empresa alimentícia do meu avô. Foi difícil ter ido embora, mas foi por uma boa causa. Ainda me lembro de ver Tânia correndo atrás do nosso automóvel e que eu chorava de forma inconsolável. Minha mãe disse que era besteira chorar por um "rabo de saia".

E aqui estou eu. Do Rio de Janeiro para o mundo.

Entrevista dada para o programa "The News LA" sobre o astro Renzo Miller em 2016.

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