DAIANA HEZERA
O dia do casamento chegou, e tudo estava cuidadosamente planejado. Mas enquanto todos ao meu redor se empenharam em celebrar a alegria de duas almas se unindo, eu estava imersa em um mar de emoções conflitantes. A atmosfera estava repleta de luzes brilhantes, flores delicadas e sorrisos perfeitos, mas, para mim, tudo parecia um cenário de teatro, uma encenação da qual eu era apenas uma personagem involuntária.
Meus dedos estavam cruzados, as unhas pintadas de um vermelho profundo contrastando com o vestido de noiva que eu vestia. Um modelo clássico, que me cabia como uma segunda pele, mas que também me deixava inquieta. Era como estar envolta em muitas camadas de tecido, sufocando-me lentamente.
— Você está linda, meu amor! — disse minha cunhada, seus olhos brilhando com orgulho. A expressão dela me impressionou ainda mais. O que se esperava de mim? Um sorriso? Um agradecimento?
— Obrigada. -- respondi, tentando não parecer tão distante, mas minhas palavras saíram com um tom mecânico, quase automatizado. O som das risadas e das conversas alegres à minha volta ecoava como uma melodia distante, alheia ao meu estado interior.
O salão estava decorado com tons suaves de blush e ouro, refletindo a luz do sol que entrava pelas janelas amplas. Mas esse ambiente perfeito e acolhedor parecia frio e sombrio para mim. Todos estavam empolgados com a cerimônia, e eu me sentia paralisada na antítese da alegria.
— Você não parece feliz. – disse ela ao meu lado, enquanto arrumava algumas mechas soltas do meu cabelo. O olhar dela era gentil, mas havia um toque de preocupação que eu não conseguia ignorar.
— Estou feliz pela Sara. — respondi, meu tom gélido cortando o ar como uma lâmina. — Acho que isso é mais importante. — A verdade, no entanto, era que eu não sabia como me sentir sobre esse casamento. A ideia de um compromisso eterno sempre me assombrara. O amor que parecia curar as feridas e preencher os vazios do coração dos outros me parecia um fardo pesado.
Mas toda vez que penso em desistir de tudo , lembro-me que preciso fazer isso por ele e pela minha família.
— Você deveria estar pensando no seu próprio futuro, também. — ela insistiu, mas eu podia ver que as palavras dela eram um eco da minha própria dúvida. Para mim não existe um futuro sem Aleksei, e só ficarei em paz quando vingar a sua morte e do da minha família.
Ao me olhar no espelho, vi meu reflexo: o vestido me tornava uma figura muito diferente de quem realmente sou. A beleza que os outros admiravam parecia mais uma máscara do que um reflexo autêntico. O meu olhar, profundo e enigmático, refletia uma tempestade interna.
Cada passo que eu dava ao longo do corredor da antiga mansão onde a cerimônia ocorreria era acompanhado pelo eco de meus pensamentos, um turbilhão de sentimentos conflitantes. A música suave que emanava dos cantores à distância contrastava com o silêncio ensurdecedor que preenchia meu corpo inquieto.
A cerimônia começou. As cadeiras estavam repletas de amigos e familiares que eu não conhecia, todos sorrindo e esperando ansiosamente por aquele momento mágico. O som da música subia e descia como uma onda, e eu me sentia como se estivesse sendo arrastada para o fundo.
— Você é a luz da minha vida. — Disse ele, e eu não consegui evitar a reviravolta no estômago. O que era amor? Aquela ideia romântica e idealizada sempre pareceu tão distante de mim. Olhava para seu rosto radiante, mas uma parte de mim se questionava. "Será que se fosse com ele eu me sentiria assim?", eu pensava, mas essa pergunta não vinha acompanhada de entusiasmo. Era simplesmente uma constatação amarga.
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CRUEL |Dark Romance|. Volume II
RomanceEm meio a esse cenário sombrio e repleto de sentimentos do passado, Daiana Hezera encontra-se perdida em suas próprias emoções e lembranças dolorosas. Seu passado como sobrevivente de abuso e violência moldou não só sua personalidade, mas também sua...