LUZ DO LUAR ── Enzo Vogrincic

001﹕café forte.

Elizabeth Campos.
fevereiro, verão brasileiro.

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  O movimento estava agitado e aquele dia cansativo parecia eterno, eu ja não me encontrava mais ciente sobre o horário. O sino acima da porta de vidro não parava quieto indicando que um novo cliente havia chegado.

─ Como podem deixar apenas duas garotas para cuidar de um estabelecimento desse tamanho? ─ Perguntei me jogando sobre o balcão completamente exausta.

A cafeteria nem era tão extensa, entretanto, a quantidade de pessoas ali fazia parecer.

─ A verdadeira pergunta é: como podem em pleno verão tantas pessoas beberem LITROS de café?! ─ Carola parecia ainda mais exausta enquanto levava uma xícara com latte até seus lábios.

─ Isso não é para mesa 6? ─ Perguntei me referindo ao café em suas mãos.

─ Era. ─ Respondeu a de cabelo alaranjado, recuperando sua atenção até a porta quando sino tocou mais uma vez. ─ Até que enfim! um cliente bonito.

─ Você disse isso dos últimos cinco. ─ Falei sem olhar para quem chegava, pois provavelmente se tratava de mais um com aparência duvidosa.

A ruiva era profissional em se encantar por homens que lembravam.... ratos.

Carola foi ao encontro do novo cliente para anotar seu pedido enquanto eu preparava alguns que já estavam pendentes.

─ Um café extra forte. Eu preparo! se ele provar do seu café nunca mais pisa aqui... ─ Disse a ruiva me afastando da maquina onde eram feitas as bebidas.

─ Quer que eu entregue com um biscoito de coração para vocês namorarem? ─ Perguntei de maneira irônica. ─ Meu café pode ser horrível, mas foi meus biscoitos que garantiram minha vaga aqui, mocinha.

─ Eu já namoro! o loirinho da mesa 2. Esse novo aí parece mais quieto que o normal, ele nem olhou na minha cara para fazer o pedido...

─ Serei quieta igual ele! quero focar apenas na minha vida acadêmica e nada de papinhos bobos e distrações. ─ Carola soltou uma risada alta sabendo que eu não conseguiria, me fazendo rir junto. Peguei rapidamente as bebidas e coloquei sobre a bandeja prateada, levando até os destinatários.

no caminho entre as mesas eram assuntos diferentes, vidas diferentes, cheiros diferentes. Fiquei impressionada com uma criança fazendo bolhas de canudo com o seu ar na bebida gelada em sua frente logo sendo repreendido por sua mãe, e nesse contratempo acabei me desfocado um pouco de minhas obrigações...

─ Eu pedi um café extra forte. ─ A voz grave ecoou em meus ouvidos, me fazendo erguer o olhar e encarar aquelas órbitas castanhas, impressionada. Quem era ele?

─ Perdão? ─ Não havia me atentado no que ele tinha dito, erro meu.

─ Você me trouxe um chá praticamente... Meu pedido está errado. ─ Disse ele ainda mais firme simulando um sorriso decepcionado em seus lábios.

─ Esse é o café extra forte, eu tenho certeza. ─ Respondi.

─ O que? ─ Ele parecia ainda mais impressionado do que eu. ─ Você já provou isso? eu realmente preciso de um café forte, em cinco minutos eu tenho que sair correndo daqui... Por favor, refaça meu pedido.

Ele era firme em suas palavras, ríspido e impaciente. Mas ja lidei com clientes bem mais grosseiros.
ele era como a Carola descreveu; quieto e bonito, mas aparentava existir uma barreira de tijolos estivesse ao seu redor, isso é inexplicável e intrigante.