008﹕sábado de março.

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Enzo Vogrincic.
março, verão brasileiro.


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A aluna finalmente havia ido embora depois de muita forçada de barra para ter mais intimidade, mas infelizmente minha paz durou pouco ao ver Matías entrar em minha sala.

─ Sentiu saudades? ─ Perguntou o garoto sorridente.

─ Quer mesmo que eu seja sincero? ─ Falei baixo guardando meus materias.

─ Esse campus é imenso, mandou bem em professor ensito.

─ Nem vem com esse ensito! e vamos comer alguma coisa que eu tô esgotado socialmente falando.

Recolhi minha bolsa e finalmente pude sair para tomar um ar livre, mesmo sem estar muito tempo no lado interior dos imensos muros, eu estava cansado. Como eu estava com a tarde apenas para aproveitanento pessoal, decidi leva-lo até meu apartamento onde ficaríamos mais a vontade.

─ Você paga quanto de aluguel, sessenta reais e um pão com ovo? ─ Ele tinha o desgosto vivo em sua face.

─ Para que não é tão ruim! ─ Tentei defender o residencial mesmo sem argumentos possíveis.

─ Realmente não é tão ruim, é péssimo!

─ O Frederico que me indicou, ele trabalha aqui na recepção mas deve ter saído pra almoçar. Se lembra que ele nos dava dinheiro para comprar doce?

─ Ele dava para as crianças, você já era um vagabundo de quinze anos. ─ Ele respondeu me fazendo retornar ao passado com aquela nostalgia gostosa, Matías tinha apenas sete anos nesse período.

Subimos pela escada até o terceiro andar onde finalmente pude mostrar o meu apartamento, o imóvel com o papel de parede do século passado e a madeira escura no piso combinavam com a minha decoração. Os móveis eram escuros junto dos livros na estante, a cor mais viva era o verde apaixonante que eu tanto amava de minhas plantas, dando mais felicidade para o ambiente.

─ Okay, não é tão ruim, só lá fora que é péssimo... ─ Ele se jogou no sofá. ─ Você ainda cozinha?

─ Quando eu estou com tempo livre... Então hoje você vai matar a saudade da minha comida. ─ Falei indo para a cozinha.

─ E quem disse que eu tô com saudade da sua comida?

Ignorei o sarcástico comentário de Matías e comecei a preparar uma macarronada de champignons, o mais novo agora tentava escolher uma música que agradace nos dois, o que era quase impossível.

─ Como foi o jantar? ─ Perguntei do último compromisso nosso em que não compareci.

─ Eles estavam juntos. ─ Respondeu seco, e a faca não atravessou o champignon porque eu travei minha mão.

─ Sabia.

─ Não namorando. Ele estava usando aliança e ela não...

─ Tá falando sério? ─ Meus olhos encontraram o de Matias.

─ Mão esquerda. Ele está casado, Enzo.

─ Ainda bem que eu não fui... ─ Tentei finalizar o assunto voltando a prestar atenção no que eu preparava.

─ Eu espero que você realmente esteja aliviado de não ter ido.

Ignorei totalmente seu último comentário e finalizei o prato, servi nós dois junto de um vinho branco enquanto ele me falava as barbaridades de sua vida.

LUZ DO LUAR ── Enzo VogrincicOnde histórias criam vida. Descubra agora