CAPÍTULO 1 - Você Todo Fudido

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"Vou te triturar

Vou te ver arder no fogo eterno

Vou furar teu olho, arranhar tua cara

Vou quebrar tua perna, vou saber te machucar

E quem sabe no final de tudo com você todo fudido

Eu possa enfim te perdoar [...]"

Canção da Vingança - Titãs


Eu já deveria saber que, quando a vida estiver dando limões, nós temos que pegar esses limões e espremer nos olhos dos nossos inimigos. Quem sabe a vida seria mais prazerosa assim e Pamela, minha inimiga, estaria cega nesse instante. Isso me pouparia de muitos problemas.

Pamela Rodrigues me odiava com todas as forças da sua alma diabólica. E eu adoraria dizer que era um ódio justificável, mas, infelizmente, não era. Por mais que eu odeie admitir, nós duas já fomos amigas, éramos inseparáveis nos tempos do ensino fundamental, mas tudo que é bom dura pouco. Nossa amizade acabou quando Pamella descobriu que seu crush de infância tinha uma queda por mim e, violando todas as leis da amizade, me culpou por isso. Eu nunca sequer tinha trocado mais de duas palavras com o infeliz, mas o fato do energúmeno ter se apaixonado já era motivo suficiente para abalar nosso relacionamento.

Depois disso, Pamela começou a espalhar boatos descabidos sobre mim na escola. Ela foi a principal responsável por transformar minha vida escolar, que já não era tão badalada assim, em um pandemônio de primeira classe. As pessoas criaram os apelidos mais horríveis para uma mera criança, do tipo vadia e talarica, e minha vida social terminou. No fim, ninguém queria ser amigo de uma suposta fura olho.

Eu pensei que tudo melhoraria quando eu fosse para o ensino médio, mas piorou na verdade. Para justificar seu bullying infantil e sua dor de cotovelo, Pamela começou a fundamentar suas ações imaturas no fato de que eu era uma otaku fanática por coisas asiáticas. Onde já se viu fazer bullying com uma pessoa só porque ela adora coisas diferentes do seu gosto? Isso não importava para Pamela, ela sempre me consideraria uma amiga talarica e esquisitona.

Seu ódio por mim era tão gigante que eu acabei me tornando a catalizadora da sua violência. Outros, que gostavam das mesmas coisas, também sofriam bullying, mas era eu que apanhava mais. Acho que ela tinha um prazer mórbido em me ver sofrer porque eu era a única que nunca aceitava calada sua violência. Se ela era pior, eu seria 1000 vezes pior. Sempre levei a filosofia da minha mãe para todos os momentos da minha vida: se alguém ousasse levantar a mão para mim, eu deveria me afastar, pegar impulso e dar uma voadora nos peitos da pessoa. Então, eu revidava seu bullying. Obrigada, mãe, por todo incentivo!

Contudo, por mais que eu virasse uma pantera louca para me defender, Pamela sacou minhas ações. Foi então que ela começou a me atacar com seu grupinho de seguidoras fiéis. Infelizmente, se nem 300 espartanos deram conta de 30.000 persas, quem sou eu para lutar contra Pamela e suas cinco estagiárias de satanás, não é? Na melhor das hipóteses, eu, formada em 720 episódios de Naruto, poderia dar conta de 3 com meu estilo ninja, mas 5 contra 1 já era sacanagem.

E foi assim que minha vida de estudante do ensino médio foi enterrada a sete palmos da terra. Enterrada mesmo porque a dita cuja da Pamela me matou. Aquela vaca!

Lembro desse dia como se fosse ontem, talvez porque tenha sido mesmo. Era uma típica tarde calorenta brasileira, daquelas que nem tomando banho no Polo Norte poderia amenizar o calor. Nós estávamos saindo da escola uma hora mais cedo porque o professor da matéria tinha faltado por motivos de saúde. Eu estava me aproximando da faixa de pedestre, totalmente entretida com o final do último episódio do meu dorama favorito: Beleza Verdadeira. A série retratava a história de amor de uma aluna do ensino médio, Lim Joo-Kyung, com seu amigo de classe frio, antissocial e lindo, Lee Su-Ho.

Uma Beleza Quase Verdadeira * Han Seo-JunOnde histórias criam vida. Descubra agora