Os velhos muros de pedra do Orfanato de Santa Menefreda assomavam à frente enquanto Gal Salmon atravessava os portões da frente, agarrando as alças da bolsa com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Fazia um mês desde a última vez que ele pusera os pés dentro daquelas paredes, tendo passado as semanas anteriores se recuperando em um hospital local. Mas agora ele estava pronto para enfrentar quaisquer desafios que o aguardassem e se juntar a seus amigos Anthony e Henri.
Ao entrar no grande hall de entrada, os olhos escuros de Gal examinaram a área nervosamente. O orfanato parecia mais frio e vazio do que ele se lembrava. Onde estavam Anthony e Henri? Será que eles notaram sua ausência? Gal não disse nada enquanto a irmã Margaret o conduzia para seu pequeno quarto, dando apenas um leve aceno de cabeça em reconhecimento. Uma vez sozinho, ele desabou na cama dura com um suspiro.
Sua mente voltou àquela noite fatídica, há um mês, quando o padre Ronaldo o encurralou no corredor escuro. Gal estremeceu ao lembrar das mãos apertadas e da respiração pesada, implorando ao homem que parasse, mas recebendo apenas risadas cruéis em resposta. Depois de um mês de questionamentos e dúvidas, o trauma daquela noite finalmente deu a Gal coragem para aceitar quem ele realmente era. No entanto, assumir-se como trans fez pouco para aliviar seus problemas. Na verdade, ele se sentia mais sozinho do que nunca.
Quando o sol começou a se pôr, Gal sabia que era hora de enfrentar seus amigos. Preparando os nervos, ele se dirigiu para a sala comunal, onde os outros órfãos geralmente se reuniam a essa hora. Respirando fundo, Gal entrou e quase foi derrubado pela força de Anthony e Henri o abraçando.
—Sentimos tanto a sua falta!_ Henri chorou, com lágrimas nos olhos. Anthony sorriu calorosamente.
— É bom ter você de volta, meu amigo._ Disse Anthony.
Oprimido, Gal começou a chorar lágrimas de alívio e alegria. Talvez este lugar pudesse finalmente se tornar seu lar.
{Quebra de Tempo}
Naquela noite, enquanto os outros órfãos se reuniam para jantar, Gal sentou-se com Anthony e Henri, feliz, mas exausto. Ele ouviu em silêncio enquanto seus amigos contavam animadamente os acontecimentos do mês anterior. Gal queria confiar neles o que realmente havia acontecido, mas as palavras ficavam presas em sua garganta a cada vez.
Do outro lado do salão, o olhar penetrante do padre Ronaldo estava fixo na mesa. Quando ele pegou Gal olhando de volta, o homem sorriu friamente. Gal estremeceu e desviou o olhar, apenas para ver Gaspar sentado sozinho lendo um livro como sempre. Embora não fossem maliciosos, Gal e Gaspar nunca se entenderam. Gal achou o outro garoto bastante tímido e distante.
Depois do jantar, enquanto os órfãos se dispersavam para as tarefas e estudos noturnos, Gaspar abordou Anthony e Henri.
— É bom ter seu amigo de volta_ele disse suavemente, passando a mão pelos longos cabelos loiros_ Embora ele pareça... diferente, não é?... Ta tudo bem?.._ As feições delicadas de Gaspar revelavam uma certa preocupação.
Antes que pudessem responder, a voz retumbante do padre Ronaldo chamou Gaspar com um sorriso nos lábios. Gaspar saiu apressado obedientemente.
Gal terminou de lavar a louça sozinha, evitando o toque das mãos da irmã Thelma. Quando finalmente regressou ao quarto, a exaustão tomou conta dele. Mas à medida que o sono chegava, também vinham os pesadelos - de mãos apertadas, gritos abafados e o riso zombeteiro do padre Ronaldo ecoando interminavelmente no escuro.
Gal acordou sobressaltado, ofegante. Seria um longo caminho para a cura.
...
Semanas se passaram enquanto Gal lentamente se sentia mais confortável em sua rotina mais uma vez. Os pesadelos começaram a desaparecer e ele descobriu que conseguia tolerar os abraços de Anthony e Henri sem vacilar. Embora ainda com vergonha de falar sobre o que havia acontecido, estar perto de seus amigos trouxe conforto e força a Gal.
No entanto, a presença do Padre Ronaldo foi uma lembrança constante de tempos mais sombrios. O homem aproveitou todas as oportunidades para lançar dúvidas sobre a identidade de Gal, chamando-o de insultos baixinho e exigindo que ele assistisse à missa como “Giulia”. Por mais que tentasse ignorá-lo, Gal podia sentir sua determinação vacilando.
Uma noite, enquanto Gal estudava sozinho na biblioteca, Gaspar entrou silenciosamente e sentou-se ali perto com um livro de sua autoria.
— Sabe, o pai prefere que o chamemos pelo seu nome de nascimento_ disse Gaspar depois de algum tempo, sem erguer os olhos. Embora seu tom fosse neutro, Gal não sentiu malícia na confissão.
— E o que você prefere?_ Gal perguntou hesitante, olhando o perfil delicado de Gaspar à luz do lampião. Pela primeira vez, ele viu além da timidez de Gaspar uma alma semelhante em busca de compreensão.
Gaspar ponderou a questão, passando a mão pelos longos cabelos.
— Nomes significam pouco para mim_ ele respondeu finalmente, encontrando os olhos de Gal com um pequeno e enigmático sorriso.
E naquele momento Gal soube que havia encontrado um confidente e amigo improvável.
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Confusão
FanfictionGal Sal é um garoto trans que se assumiu dentro do Orfanato Santa Menefreda é após uns traumas e agora está se adaptando.