De Guerra!

628 60 374
                                    

Oi Leitoras, mais uma sexta na sexta, caralho! 

Será que meu calendário vai começar a sincronizar com o de vocês? 

Em meio ás minhas obrigações com a Rainha da minha cabeça, em homenagem ao Orixá que me faz ter coragem para atravessar qualquer ressacada, não poderia deixar de trazer mais um capítulo de Naufrágio pra vocês! 

Sou de Iemanjá Sobá, uma versão mais velha, ranzinza e vagarosa da Deusa das Águas. Só no mais profundo do oceano, onde só existe escuridão e as almas de quem naufragou é que vem sua força. Me sinto mesmo, uma escuridão sem fundo. 

Escrevi esse capítulo sozinha, pois Gabriel também foi fazer suas obrigações 

Escrevi ouvindo a doce "Prece de Pescador" da Mariene de Castro, e imagino muito essa canção no coração do Ramiro, pedindo o amor dele de volta pro mar.

Uma ótima leitura! 

_____________________________________________________________________

9 de Outubro de 2022, quase no Porto de Durban - África do Sul

- Cara, não acredito que você respondeu! - Amaury estava perplexo, porém agradecido por finalmente ter sido ouvido - Achei que nunca ia me ouvir!

- Eu te ouvi todas as vezes em que me chamou - Sentiu se envergonhar por nunca ter respondido o irmão mais novo - Eu só não conseguia falar, me desculpe.

Foi sincero. Cada vez que ouvia o VHF ligar, indicando que Gelo queria se comunicar com o Fátima, seu coração acelerava diante da oportunidade de ouvir seu irmão. Foram várias noites que o ouviu chamar, pedir notícias, até rezar. Uma vez, chegou a ouvir o próprio cunhado, Diego, o implorando para responder. 

E Ramiro apesar de aparentar ser duro diante da posição que ocupava, era só um homem ferido e marcado por um destino traçado por outras pessoas.

Sentia muito a falta do irmão! Sentia falta de estarem os quatro rindo nos fins de semana no veleiro, assim como se arrependia por ter falado demais naquele dia. Falado palavras que não eram verdade.

Sabia que tinha ido longe demais ao ofender o irmão e seu namorado, assim como o próprio homem que amava. E por isso nunca revidou o soco que recebeu de Amaury em seu rosto. Ele mereceu, e sabia.

Se orgulhava por Diego estar ao lado de um homem que o defenderia de tudo, até do próprio irmão! Amaury era um homem de fibra, e Ramiro, derreteu seu coração de ferro para se abrir ao irmão quando respondeu no rádio aquela noite

- Vocês já chegaram em Durban? Como foi...? - Ramiro sabia ao que o moreno tão parecido consigo queria saber

Sabia que o irmão compartilhava da mesma angústia que ele próprio. Eram tantas confusões, necessidades de se reconectarem com o pai naufragado, assim como o medo irracional de que Ramiro tivesse o mesmo destino de José...

Esse era o motivo principal de Amaury não ter ingressado na Escola da Marinha. Além de seu sonho ser outro, de amar a Arte, ainda não queria correr o risco de nunca mais voltar para casa, enchendo seus pulmões de água em qualquer lugar do oceano. Esquecido para sempre.

- Eu não consegui passar pelo arquipélago que o nosso pai naufragou. Eu fiquei em pânico!

- Você tá ainda no arquipélago? - O ator estava preocupado

- Não, já passei. Eu congelei, minha cabeça começou a reunir hipóteses que nem eram reais, se não fosse o Kelvin... - Fora cortado por uma voz que reconheceu junto do irmão

Naufrágio - AU Kelmiro/DimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora