Ravi

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A ExpoManacá sempre era realizada entre os dias 31 de outubro e 15 de novembro. Todo mundo ia. Ravi fora com Mira e Evellyn. Vagavam a esmo, apreciando porcos premiados e vacas campeãs. Evellyn ganhara um iPhone pelo aniversário e batia fotos de tudo.

- Quer andar na roda-gigante? - perguntou Mira.

- Vão vocês duas na frente - disse Ravi. - Vou procurar o quiosque onde vendem açaí.

Combinaram de se encontrar dali a uma hora na tenda de tatuagens pintadas. Ao dirigir-se à praça de alimentação, Ravi sentia-se muito animado. As feiras sempre lhe proporcionavam essa sensação: a multidão, os animais, sinetas tocando em toda parte. Cumprimentou alguns clientes conhecidos.

Usava um gorro verde-broto, calças jeans largadas e a velha jaqueta de couro que fora de seu avô. Raras vezes a usara quando Aya estava por perto. Embora tivesse pouquíssimas coisas do avô, todas pareciam levar a prima-irmã a fazer perguntas e planejar coisas das quais não faziam sentido algum, mas que certamente o prejudicariam.

- Um copo de açaí de 300ml por favor - pediu ao homem atrás do balcão.

O copo de plástica estava bem gelado. Olhando em volta à procura de guardanapos de papel, ele viu um balcão com ketchup, mostarda, guardanapos de papel e canudos. Um homem bloqueava seu caminho. Alto, de ombros largos, trajava uma jaqueta de couro quase exatamente igual a dele.

- Com licença - disse Ravi, curvando-se por de trás dele para pegar um guardanapo.

- Ah, oi Ravi! - ele disse.

Era o motorista, Rodrigo Lira. Ao esforçar-se para apanhar o guardanapo, Ravi praticamente se enfiara debaixo do braço dele, que segurava seu kikão à distância para evitar que o molho condimentado gotejasse nele.

Rodrigo recuou sorrindo e disse:

- Que bom ver você aqui.

- Você também. Como tem passado?

- Muito bem. E você?

- Esplêndido - Com um sorriso no rosto de canto a canto, Ravi decidiu mentir. - Esplêndido de verdade. O que te trouxe aqui na feira? A Rafinha veio com você?

- Rafinha? - ele franziu as sobrancelhas. - Você a conheceu como?

- Ela passou na minha galeria.

Rodrigo balançou a cabeça.

- Ela com certeza foi só bisbilhotar, não é? Perdoe-me por isso cara.

Ravi negou com a cabeça. Ele parecia ter alguma coisa a lhe pesar na mente, mas o pintor não o conhecia o bastante para perguntar.

- Relaxa, ela é uma boa conversadeira - disse Ravi - Não importa se é bastante curiosa. - mais uma vez um sorriso iluminou seu rosto.

- Quer dizer que vocês conversaram bastante?

- Sim e foi muito bom. Não costumo compartilhar muitas coisas com pessoas da minha faixa etária sabe...

- Hum... - ele franziu mais uma vez franziu as sobrancelhas. - Nossa mãe acha que é um sinal de problema. Algum tipo de pedido de ajuda. Não sei.

- Eu não tenho intenção de contradizer sua mãe, mas pra mim é algo completamente normal ser curioso, conhecer e experimentar coisas novas, pelo menos para tentar compreender quem ela é de verdade, entende? Bom, isso me ajudou a chegar até aqui.

Rodrigo assentiu com a cabeça.

Claro que se sentia melhor, pois começara a comer seu kikão. O rosto e as mãos resistiam à ação do tempo. Rodrigo tinha quase trinta anos, mas seus cabelos castanhos e ondulados, com mechas mais escuras nas têmporas o fazia parecer bem mais novo. Para um homem que estivera na marinha, seu cabelo era bem longo. Seus olhos azuis, de tom escuro, eram impressionantes.

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