PRÓLOGO

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Meu passatempo preferido é cozinhar. Amo estar livre na cozinha e fazer o que bem quero. É o único lugar onde eu me sinto livre para explorar. Mais cedo, fui ao mercado mais próximo de casa e comprei os ingredientes necessários para fazer uma carne assada com legumes refogados, e claro, acompanhados por um bom vinho. Tudo preparado da maneira como meu marido gosta antes de ele chegar do... 

― Onde você estava? ― o escuto e um arrepio sobe pela minha espinha. 

Me viro em direção a sua voz, o vendo encostado no batente da porta vestido com sua camisa polo e calça jeans. Ele parece cansado com os cabelos caramelos bagunçados. 

― Fui ao mercado comprar ingredientes para o nosso jantar ― respondo. ― Seria uma surpresa ― revelo.

Eu deveria estar acostumada com sua aproximação voraz, mas não com seus toques rígidos. Sua mão se move diretamente para minha mandíbula acariciando de forma possessiva. 

― Você sabe que eu não gosto de chegar em casa e não te ver ― sua boca áspera roça meu pescoço. 

― Me desculpe. Pensei que chegaria mais tarde ― engulo seco.― Deveria ter me avisado. Eu mesmo compraria os ingredientes ― ele morde minha orelha beijando minha pele em seguida. 

― Seria uma surpresa ― repeti sussurrando. 

― Leyla... Leyla. Por que me desobedece, amor? 

Suas mãos se prendem com força em meus quadris, me puxando para seu corpo. Estremeço quando ele toca a parte mais sensível em meu corpo e choca minhas costas na geladeira. Sua boca cobre a minha, me beijando duramente. Ele me guia para nosso quarto deslizando suas mãos em minha cintura. Eu quero gritar, mas me contenho. Seria pior... 

Meu marido gosta da casa bem arrumada e o quarto impecável. Quando chegamos ao quarto, ele me afasta e me analisa. Visto somente um vestido de mangas da altura dos joelhos e descalça. Sua cabeça balança em aprovação, mas os olhos em reprovação. Quando sua mão em meu pescoço desliza até os meus cabelos, puxa para que eu o encare e volta a me beijar. 

― Eu lhe dou tudo. Por que não pede para mim, amor? ― ele sussurra tornando a olhar em meus olhos.

Toco seu rosto com ternura e compaixão. Desejo aliviar sua tensão. 

― Eu te amo. 

Seu olhar escurece e sua testa franze. Não gosto de vê-lo assim. E nesse momento tudo se torna um borrão, ao sentir o golpe em meu rosto e caio no chão. Seu tapa violento faz minha cabeça pulsar e meu rosto arder. Quando toco o canto da minha boca sinto o sangue e o gosto de ferrugem. 

― Por que passa por cima das minhas palavras?! ― ele grita para mim. 

Não posso chorar, não posso falar, e muito menos lutar. É pior, cada vezpior.

 ― Como você sai desse jeito? Com esse vestido e seu rosto inocente?Quantas vezes eu devo lhe dizer a palavra NÃO! 

Ele me puxa pelos meus braços já machucados me empurrando para a cama. Não protesto quando suas mãos machucam minhas coxas e rasga minha calcinha. Eu já lidei com a dor. Mesmo o odiando. Mesmo me odiando por ser uma adolescente burra e apaixonada por um homem que só demonstrou gentilezas. 

Dominado pela fúria, ele rasga a lateral da barra do meu vestido. Não quero vê-lo, meus olhos ardem com as lágrimas e quero que permaneçam presas. Quando o sinto me invadir, me rasgar por inteira, a dor interna é pior. Sua ereção me machuca e aperto meus dentes para não gritar. Ele rasga ainda mais o meu vestido enquanto se move violentamente dentro de mim.

 ― Baris― o chamo. ― Por favor... ― peço com calma para que ele não continue. Minha respiração trava. 

― ESTÁ SE NEGANDO PARA MIM?! ― ele grita e recebo novamente seus tapas. 

― Baris ― o chamo novamente para que pare, pois está me machucando tanto por dentro quanto por fora.

 Estou cansada e sem coragem, meu corpo está frágil desde a última surra quando socou minhas costelas com força. 

― Eu devo dizer por que está merecendo isso Leyla? Eu tenho que lhe punir por ser desobediente. Como vou saber que se entregou para qualquer um?― ele volta a me bater com socos.

 Cuspo o sangue que se acumula em minha boca. Uma pancada forte atinge novamente minha cabeça seguido por um puxão em meu corpo, me pegando pelo braço e me jogando no chão. Estou fraca demais para lutar, minha visão está ruim e posso sentir meu nariz machucado. Devo estar com o rosto completamente inchado. Meu ouvido está zunindo quando o escuto: 

― O que está fazendo aqui na minha casa? ― Barış gritar e não é comigo.

 Eu quero me arrastar no chão pegar uma faça e me matar. Não mereço viver essa vida que escolhi durante cinco anos. Quando sinto puxar meus pés, gemo fracamente com a dor em meus cotovelos machucados que se arrastam sobre o piso. 

Um tiro me assusta e escuto um corpo cair ao meu lado. Olho e vejo, numa visão embaçada, o nariz de Barış sangrando, os olhos azuis claros me fitando friamente e o sangue escorrendo pelo chão. Pisco para ver quem atirou. Meu corpo parece dormente ao tentar me virar. Um homem alto, um pouco acima do peso, está próximo e bem vestido com terno escuro. Pisco para ver nitidamente seu rosto e vejo a arma será pontada para mim.

 Eu o conheço. É o chefe do meu marido, o senhor Bürsin, um dos maiores CEO que já ouvi falar. Tenho que agradecer pelo o que tem feito, mas sua atitude é contrária do que penso, ele se curva para pôr a arma em minha mão. Fico imóvel e alarmada com a respiração entrecortada e sufocada. 

O que ele está fazendo? Por que quer me culpar? Por que não me tira daqui?

 As perguntas voam por minha mente enquanto estou deitada, completamente dolorida e inchada ao lado do meu maldito marido morto. O homem sai sem deixar pistas. E a única suspeita do crime sou eu. 

PRESÍDIO DE MARTIN – 01h00 PM 

Os portões enferrujados se abrem fazendo um barulho sombrio. Minha única bagagem é a que estou vestida: jeans velho e uma camiseta de algodão amarelada com buracos. Meus cabelos louros estão presos numa única trança e alguns fios fazem cócegas em meu rosto quando sinto o vento abafado do dia. A única diferença é que estou com um envelope escondido por baixo de minhas roupas com endereços e um punhado de dinheiro que consegui, sem pedir, por uma das presas que me ajudou a lidar com tudo que passei neste inferno, todos a conheciam como Forte. 

Eu ficaria livre, mas não totalmente, porque todas as partes do meu corpo ainda se sentem presas, presa ao meu passado, o que eu fui, o que sofri e o que me tornei. 

Tudo que passei fora daqui e até mesmo dentro deste lugar não foi fácil. Tive que continuar lidando com a tortura, o sofrimento, aprender a cada dia a me defender e pensar no que eu realmente fiz, precisei enxergar todos os lados das pessoas. Fui humilhada, maltratada, suja e ameaçada, necessitando me defender de brigas e confusões. 

No momento em que vi Barış caído morto ao meu lado, pensei que minha vida tinha se livrado de tudo que passei, em meio segundo me senti livre, ficaria longe de sua sombra, longe de tudo que me atormentou, mas me enganei, minha vida estava apenas começando. 

Pamir Bürsin invadiu minha casa para se livrar de uma pessoa a qual pensei estar apaixonada e que tudo que eu fazia estava errado. Eu fui tola, burra, deixei que um homem estranho entrasse na minha vida, e me iludi. Eu vivi presa a sua mercê, fazendo suas vontades. O odiei desde a primeira surra, odiei sentir  seu cheiro, odiei seus toques, odiei principalmente seus beijos e continuo o odiando mesmo depois de morto. 

Agora meu ódio se voltou para Pamir Bürsin , o antigo chefe do meu marido, que o matou e me largou como suspeita de um crime que eu não cometi.

 Caminho pelas as ruas sem olhar para trás sentindo meu corpo ferver ao lembrar de sua presença no quarto e a arma deixada em minhas mãos. Ele sabia que um dia eu estaria livre, sabia e viria atrás, era por isso que deveria mudar completamente, jogar seu jogo e persegui-lo na minha própria vingança. Eu estaria próxima sem ao menos perceber. Acabaria com sua vida não com um simples tiro, de fato agradeceria por ter feito o que fez, mas o torturaria até cair, até não ter para onde correr. Sua família estava em meus planos e eu estaria entre eles para assistir sua ruína de perto. 

Se sou a vilã, se sou a inocente ou se sou a vítima? Eu não sei. Infelizmente a vida lhe dá chances e caminhos, porém ela não lhe diz para onde deve seguir. A escolha é sua e o erro sempre será seu.

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