[𝟎𝟎𝟐]

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[𝟎𝟎𝟐]

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[𝟎𝟎𝟐]. O chá-verde;

Skyler
Dias atuais, Meridian...

A ÚLTIMA LEMBRANÇA que tenho de meu pai foi aos meus sete anos, quando entrei em meio a uma alegria infantilmente eufórica em seu escritório com o meu boletim em mãos, e encontrei o seu corpo imóvel pendurado em uma corda ligada ao teto.

Meu coração fraquejou. A folha caiu de minhas mãos. Um grito mudo ficou retido em minha garganta, e tudo o que eu consegui fazer foi hiperventilar até os segundos seguintes, em que os seguranças de minha família vieram ao seu socorro e me retiraram às pressas daquela sala que se tornava cada vez menor conforme o tempo se passava.

Lembro de seu funeral e de todas as lágrimas derramadas ao meu redor, enquanto meu semblante se mantinha frio e sério. Alguns diziam que eu estava em choque, ou que eu simplesmente não sabia o que estava acontecendo. Diziam que eu não sabia o significado da morte, mas era mentira, eu sabia melhor do que todos naquela imensa basílica.

Eu sabia muito bem o que a morte significava.

Meu parto não foi nada fácil; E quando eu digo que não foi fácil, não me refiro a algo como o cordão umbilical prendeu em meu pescoço e fez com que uma cesárea fosse necessária. Não. Eu estou falando de um parto que custou a vida de minha mãe e minha irmã gêmea.

Um parto em que eu tirei o amor da vida do meu pai.

Ele nunca se recuperou disso, e eu sabia. Embora tentasse me dar todo o amor, afeto e atenção necessária para uma criança, eu podia ver a tristeza em seu olhar desde que me recordo de seu rosto abatido e enrugado. Suas brincadeiras, suas risadas, suas carícias pareciam tão sofridas. Tão sofridas que me faziam querer o recompensar de alguma forma.

Acredito que o único sorriso genuíno que vi em seu semblante notoriamente cansado, foi quando ele me inscreveu nas aulas de ballet do centro artístico e cultural de Londres e me viu rodopiar como uma barata tonta pela primeira vez. Eu não sabia o que estava se passando em sua cabeça, para falar a verdade. Eu estava me saindo tão mal que, talvez, os professores estivessem cogitando me expulsar de minha primeira aula. Então, o que ele viu em mim?

O reflexo de sua mulher morta, talvez?

Bom, acho que nunca terei a oportunidade de o questionar, de qualquer forma.

E, embora eu detestasse o ballet, eu nunca desistiria dessa merda. Eu nunca desistiria enquanto me lembrasse do seu meio-sorriso, e nem o olhar julgador da puta da Ekaterina me faria largar a única coisa que me liga a ele.

A única coisa que quase me tirou da vida de merda que vivi após a sua morte. Quase...

— Siga à risca tudo o que passei ontem, e lembre-se de manter uma dieta constante. Por hoje é só!

Ouvir sua voz irritante era uma tortura ainda maior do que os contorcionismos insanos que essa rata me fez fazer durante as últimas seis horas de forma contínua. 

𝐅𝐀𝐋𝐋𝐈𝐍𝐆, Kai MoriOnde histórias criam vida. Descubra agora