Prólogo

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Correndo pelas ruas da Vila da Cré, Luna se apressa para chegar à praça central. Ela estava animada para, depois de 1 ano, reencontrar sua melhor amiga, Carolina, que retornaria hoje do seu ano servindo à família real.

No dia 1° de dezembro de todo ano, os jovens de 16 anos de cada vila de Galwy são levados à capital para servir ao palácio durante 1 ano. Rapazes fazem parte do exército e são treinados para dar a vida pela realeza, enquanto as moças viram arrumadeiras, passadeiras, cozinheiras e lavadeiras. Nesse período, os jovens ganham um salário de C$ 2.500, o que é ótimo considerando que o povo ganha cerca de C$ 1.000 trabalhando nas fazendas e fábricas entorno da vila. Porém, existem diversos descontos nesse valor, o que faz com que sobre apenas C$ 972 para os jovens guardarem ou enviarem para suas famílias.

Carolina acabou de cumprir seu ano de serviço real obrigatório e hoje, dia 30 de novembro, ela será deixada na praça da vila, junto dos demais jovens recrutados no ano anterior. Luna estava tão animada com o retorno da amiga que saiu correndo de casa, assim que sua mãe a lembrou que dia era. E não era para menos, afinal estava há 1 ano sem ver ou falar com sua melhor amiga, a única comunicação que tinham eram as cartas que trocaram durante esse tempo, mas não era o mesmo que conversar pessoalmente...

Finalmente, Luna chegou à praça. Ofegante, ela apoiou as mãos nos joelhos e respirou fundo para, então, olhar em volta e constatar que os jovens ainda não tinham chegado, porém, o lugar estava lotado dos seus parentes.

– Viu só? Eles ainda nem chegaram, não tinha necessidade de sair correndo como uma maluca! – disse Miranda com graça, tocando o ombro da filha, a fazendo tomar um susto.

– Ah! – Luna gritou, com a mão no peito. Sua mãe riu de sua reação. – Como chegou aqui tão rápido? Sequer está com a respiração acelerada...

– Peguei um atalho. – respondeu entre risadas.

– Por que não me disse que tinha um atalho?

– Como eu poderia dizer algo se você saiu correndo como uma maniaca?

Luna negou com a cabeça soltando um suspiro, enquanto sua mãe continuava com um sorriso zombeteiro no rosto. Luna nunca poderia competir com sua mãe no quesito localização. Mesmo morando em Galwy há 6 anos, ainda não conhecia todos os becos e vielas da Vila da Cré, como sua mãe, que passou toda sua infância e juventude correndo por lá. Na verdade, ela tinha a impressão de que Miranda conhecia o reino todo de cabo a rabo.

Cerca de vinte minutos depois, os jovens começaram a chegar junto da Comissão. As crianças da vila começaram a se agitar assim que viram os automóveis, muitas nunca tinham visto nada parecido. Nas vilas mais pobres do reino, automóveis só entram uma vez no ano, dia 30 de novembro, trazendo os jovens que já cumpriram seus deveres para com o Palácio, e saem no dia seguinte, 1° de dezembro, levando uma nova remeça de adolescentes à capital. Por isso, os mais novos ficam fascinados pela tecnologia sempre que veem a Comissão chegar. A Comissão é composta por um grande ônibus de viagem com a bandeira do país estampada de ambos os lados, aonde vão os jovens; três camburões pretos fortemente armados, onde cerca de treze soldados muito bem treinados seguem para fazer a segurança; e uma elegante e luxuosa limusine também preta com duas bandeirinhas com o símbolo real nas laterais, onde três ou quatro membros do Conselho Real vão para conferir se está tudo em ordem e verificar se ninguém fugirá de suas responsabilidades com a Coroa.

Assim que Carolina saiu do ônibus, teve que permanecer calada em fila com os demais jovens. Seus pais e irmãos estavam contentes em recebê-la de volta, assim como Luna, mas não podiam se aproximar até que os jovens fossem liberados.

Um homem, vestido perfeitamente com um terno e cartola azul-escuro e camisa branca com listras pretas, sobe no coreto da praça, chamando a atenção de todos os presentes. Este homem era o Duque de Cré, responsável pela vila. Ele era um senhor de cerca de 60 anos, com cabelos grisalhos, barriga proeminente e um ar de esnobe. Ele costuma ir à vila apenas nessa época do ano, pois vive na Capital com sua esposa e filhos. Sempre que vem à vila, olha as moças com malícia, sua expressão dava nojo à Luna.

Coçando a garganta, ele começou um tedioso discurso, o qual Luna nem se deu o trabalho de ouvir.

"É sempre o mesmo discurso chato." Ela pensou, revirando os olhos. Todo ano, ele fala sobre o quão importante é os jovens servirem à Coroa, que eles saem do palácio com uma importante formação para a vida, instruídos, letrados e blá, blá, blá... Do jeito que ele fala, parece até um favor levá-los para ser quase escravos da realeza!

'– Não deve revirar os olhos para um nobre!' – Miranda repreendeu a filha suavemente.

'– Esse cara é um porre!' –, sussurrou Luna de volta.

'– Eu sei, mas não deixe que os nobres ou pessoas do palácio saibam que você pensa isso.' – Miranda sorriu para a filha e deu uma piscadela, momentos antes de voltar-se para o duque novamente com uma expressão neutra. Luna a imitou, finalmente prestando atenção no homem.

– ... por isso, meus caros cidadãos, amanhã terei o prazer de levar mais 27 jovens para a Capital para poderem ser educados e civilizados da melhor forma possível. – E assim, como manda o protocolo, o povo se desmanchou em palmas, mesmo que não estivessem satisfeitos com aquele estúpido discurso.

Mãe e filha se encararam, ambas preocupadas com o amanhã. Luna havia completado 16 anos na semana anterior, ou seja, faria parte do grupo de jovens que serviria ao palácio esse ano. A garota estava tão empolgada com a chegada da amiga que esqueceu completamente que, no dia seguinte, partiria para a Capital. Um frio começou a subir pela sua espinha só de imaginar deixar sua mãe para seguir sozinha para um lugar desconhecido. Miranda pegou a mão da filha tentando a tranquilizar, com seu olhar ela transmitia uma mensagem clara "Vai ficar tudo bem!"

– Ademais, estão liberados! – disse o Duque aos jovens que voltaram para a vila e saiu em direção à limusine, que seguiu para sua mansão com os outros membros do Conselho Real e soldados.

A família de Carol já estava em sua volta, a abraçando. Luna respirou fundo, decidida a deixar o amanhã para amanhã. E foi ao encontro da amiga, com Miranda logo atrás.

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