A partida de Luna

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– Finalmente você voltou. Não sabe o quanto senti sua falta! – Luna abraçou a amiga com força.

– Eu também senti saudade. Tenho tantas coisas para te contar! – Carolina exclamou animada.

– Eu tam... – Luna é interrompida por Miranda.

– Certo, meninas, já entendemos que as duas têm muito o que contar uma para a outra, mas vamos deixar isso para quando chegarmos em casa, está bem?! Detesto ficar exposta nessa praça com esses homens armados até os dentes nos olhando como se fossemos ratos... Aliás, Carol, é maravilhoso te ter de volta, querida! – Carolina sorriu para Miranda e todos concordaram com a cabeça sobre ir embora logo.

Os Souares, a família de Carol, são vizinhos de porta de Luna e Miranda. Suas casas são igualmente pobres, mas a da família Souar é maior em número de quartos. Enquanto uma casa tem três quartos, divididos entre os seis membros da família Souar, a outra tem apenas um, que é dividido entre mãe e filha. Ambas as casas são de tijolos, com a pintura lascada, poucas janelas e uma porta bem pesada de madeira maciça, que range sempre que mexe. A escassez de janelas e a porta pesada são algumas das estratégias que o povo usa para sobreviver ao frio. O inverno em Galwy é rigoroso, as temperaturas podem chegar a −20 °C e, como a maioria dos pobres não pode se dar ao luxo de comprar lenha para todo o período frio, são adotadas táticas assim. O povo costuma reunir-se com seus vizinhos e parentes próximos em um ambiente só para poderem se esquentar juntos, foi assim que mãe e filha Lancelotte fizeram amizade com os Souares. A primeira vez que elas passaram o inverno na Vila da Cré, a estação foi cruel e, como ainda não conheciam ninguém por lá, não tinham nenhum vizinho para se juntar. Provavelmente, Luna e Miranda morreriam de frio se não fosse por Ânica, avó de Carolina, que as convidou para passar as noites do gélido inverno com a sua família. Assim, Luna ficou amiga de Carolina e seus irmãos caçulas, Jorge e Luís, e Miranda ficou amiga de Ânica e dos pais de Carol, Amanda e Charlie.

Indo para casa pelo atalho conhecido de Miranda dessa vez, Carolina foi bombardeada de perguntas por Luna e Jorge. "Como você está?", "Como era lá?", "Você tinha um quarto próprio?", "Quanto você ganhava?", "É verdade que os jovens ganham aulas de francês?", "O trabalho era muito desgastante?", "O que acontecia quando você fazia algo errado? Você era açoitada até quase a morte?"

E as perguntas eram prontamente respondidas pela garota de, agora, 17 anos: "Eu estou bem melhor agora que estou em casa.", "A Capital é linda! O palácio é luxuoso e os jardins têm as flores mais belas que já vi.", "Não, os dormitórios eram divididos entre duas ou três moças.", "O salário era C$ 2.500, mas sempre descontavam dinheiro por qualquer coisa, alimentação, aluguel e essas coisas… ", "Não, por alguma razão, só os rapazes recebem aulas de francês.", "Sim, trabalhamos várias horas seguidas. Às vezes ficamos até amanhecer limpando o castelo!", "Quando fazíamos algo errado, éramos castigados, tipo limpando os livros da biblioteca ou o salão de bailes, mas não recebíamos açoite, Jorge. De onde você tirou isso?"

Depois de muitos outros questionamentos, Miranda e Luna voltaram para sua casa. Assim que pisou na pequena cozinha de casa, Luna soltou um suspiro altivo.

– Está com medo por amanhã? – perguntou Miranda entrando no ambiente.

– Como não ficar? Carol até me deixou mais tranquila, mas ainda sim... – suspirou novamente – Não quero ficar longe de você!

– Será por pouco tempo, minha luz.

– Um ano é pouco tempo para você? Nossa, mãe, achei que fosse sentir minha falta. – Luna brincou.

– Mas é claro que não, estou louca para ter o quarto só para mim! -- a mãe entrou na brincadeira.

– MÃE! – Miranda gargalhou.

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