Julie
Respiro fundo, sentada em uma das cadeiras da sala de espera de um local aconchegante para uma simples entrevista. Ao meu redor, algumas mulheres cochicham enquanto olham para mim. Elas nem tentam ser discretas, mas não as julgo; estou totalmente fora dos padrões para uma entrevista de emprego. Estou usando calça jeans desgastada, uma blusa de moletom velha, e meus cabelos estão presos em um coque solto. Não passo a melhor impressão, mas desde já afirmo que a culpa não é minha. Eu estava no metrô voltando para casa após uma entrevista fracassada para ser atendente em um bar quando vi o anúncio no Facebook, dizendo em negrito "Contrata-se uma babá para bebês adoráveis". O salário de mais de 5 mil dólares encheu meu peito de esperança; nem li o resto, apenas desci do metrô e corri para cá.
Meu currículo já está em mãos. Não me custava nada tentar, porém, não tenho qualquer experiência com crianças. Sou a filha mais nova fracassada dos cinco filhos que meus pais tiveram. Ninguém diz que sou um fracasso, no entanto, os ouço cochichar. Sempre que converso com minha família, vejo seus olhares de pena sobre mim. Meu irmão mais velho, Joe, abriu um bar e se casou; aos 35 anos, está bem estabilizado. Viaja duas vezes ao ano. Noel, seu gêmeo, é dono de 3 ou 4 academias, não tem filhos, mas é bem casado com Juan. Minha irmã Nora, de 28 anos, se casou com seu namorado da escola e juntos têm dois filhos, uma casa linda com cerca branca. Já Lina, de 30 anos, é uma advogada bem-sucedida na Califórnia e não tem filhos.
Bem, eu sou a que não conseguiu se formar na faculdade porque nunca consegui escolher um curso certo. Após anos mudando de um para outro, larguei a universidade. Fiz técnico de enfermagem, mas após um mês trabalhando no hospital, desisti. Chorei ao ver um paciente morrer e tive uma crise de pânico ao tentar atender um homem baleado. Em resumo, foi um desastre. Ser naturalmente emotiva é uma droga, e nem dinheiro tenho para pagar um psicólogo. Tenho me virado com bicos e a ajuda dos meus pais, mas recentemente, após uma briga, disse que não precisava de ajuda financeira. Grande mentira. Desde então, tenho almoçado e não jantado, ou ao contrário. Duas vezes na semana, trabalho como garçonete em um bar, e nos outros dias, faço o que posso. Viver em Nova York não é fácil. Eu deveria saber disso quando vim para cá tentando recomeçar, ou melhor, na busca da minha vocação. Seis meses nessa cidade que não dorme, tudo que desejo é sair correndo e voltar para casa, mas seria desistir e concordar com os meus pais que não sei ser independente.
— Julie Naras, entre!
Solto um grito agudo ao ser chamada. Só então me dou conta de que sou a única que sobrou. Pisco atordoada, e enquanto me levanto, alisando minhas roupas amassadas, sorrio para a secretária e sigo para dentro da porta. Bato até que ouço um "entre".
— Boa tarde — digo sorrindo para a senhora sentada no outro lado da mesa. Seus cabelos grisalhos estão cortados em um corte moderno e curto. Seus olhos claros parecem cansados.
— Sente-se, senhorita Naras — pede educadamente. — Sou Beth Brady.
— Me chame de Julie — peço. Merda, ela é como minha mãe. Não consigo ser formal.
— Julie, você gosta de futebol? — pergunta do nada.
— Não, mas por quê? — Não consigo esconder a frustração.
— Sabe quem é o Quarterback do New York Jets?
Puxo na mente um nome, mas não vem nenhum. Odeio esportes.
— Não, eu nem assisto jogos.
Ela sorri de um jeito maravilhoso, como se tivesse ganhado na loteria.
— Vejo sinceridade em você! — Diz. — Gosta de crianças.
— Amo!
— Ótimo! — Exclama batendo palminhas. — Contratada!
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Babá dos filhos do Quarterback
Science FictionPatrick Brady, precisando urgentemente de uma babá responsável para cuidar de seus filhos, nunca esperava que a contratada fosse uma versão dos Minions que o irritava a cada instante. Julie Naras, desesperada com o aluguel atrasado e a conta de luz...